Como
nasceu a doutrina espírita?
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@gmail.com
Kardec, em
diversos itens de sua última obra, A Gênese, dissertou a respeito do assunto.
O que adiante diremos tem por base as próprias informações firmadas pelo professor
que nós espíritas designamos como sendo o Codificador do Espiritismo.
Como meio de
elaboração, o Espiritismo procedeu da mesma forma que as ciências positivas,
aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentavam, que não podiam
ser explicados pelas leis conhecidas. Ele os observou, comparou, analisou e,
remontando dos efeitos às causas, chegou à lei que os rege. Em seguida,
deduziu-lhes as consequências e as aplicações úteis.
Em nenhum dos
casos não se estabeleceu nenhuma teoria preconcebida. Desse modo, não foram
sugeridas como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o
perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina. Aliás,
é bom lembrar que não existiam espíritas àquela época e que o meio onde os
fenômenos se tornaram marcantes era dominado por católicos e protestantes.
A existência dos
Espíritos se impôs quando isso ressaltou evidente da observação dos fatos, e de
igual maneira se procedeu quanto aos outros princípios. Assim, não foram os
fatos que vieram confirmar a teoria; a teoria é que veio, subsequentemente,
explicar e resumir os fatos. Esse é o motivo que levou Kardec a afirmar,
categoricamente, que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da
imaginação.
Sabe-se que as
ciências em geral só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se
basearam sobre o método experimental. Mas até então muitos entendiam que esse
método só era aplicável à matéria, ao passo que ele é também aplicável às
chamadas coisas metafísicas, e foi exatamente esse o mérito de Kardec.
Eis um exemplo
por ele citado:
Ocorre no mundo
espiritual um fato muito singular, de que seguramente ninguém houvera
suspeitado: há Espíritos que, embora estejam desencarnados, não se consideram
“mortos”, ou seja, pensam que ainda pertencem ao plano em que nós, encarnados, vivemos.
Os Espíritos
superiores, que sabem perfeitamente disso, não vieram dizer antecipadamente:
«Há Espíritos que julgam viver ainda a vida terrestre, que conservam seus
gostos, costumes e instintos». Não foi isso que ocorreu. Eles provocaram a
manifestação de Espíritos que se encontravam na aludida situação, para que
fossem observados. Quem já conversou – como nós o fizemos por mais de 40 anos –
com Espíritos nessa situação, sabe muito bem o que ocorre. Muitos, enquanto
ignoram que estão “mortos”, dizem que não entendem por que em sua própria casa
ninguém mais conversa com eles. E isso não se dá apenas com pessoas simples ou
ingênuas, mas com criaturas de qualquer formação, inclusive com padres ou
freiras recém-desencarnados, como já pudemos averiguar mais de uma vez.
Tendo-se visto
Espíritos incertos quanto ao seu estado, ou afirmando ainda serem deste mundo,
julgando-se aplicados às suas ocupações ordinárias, deduziu-se a regra. A
multiplicidade de casos análogos demonstrou que o fato não era excepcional e
que constituía mesmo uma das fases da vida espírita, pela qual muitos passam.
Pôde-se então estudar
todas as variedades e as causas de tão singular ilusão, apurando-se, graças à
observação, que tal situação é própria, sobretudo, de Espíritos pouco
adiantados moralmente e peculiar a certos gêneros de morte, embora seja sempre
temporária, ainda que, em alguns casos, possa durar semanas, meses ou anos.
Foi assim que a
teoria nasceu da observação e o mesmo se deu com relação a todos os outros
princípios da doutrina.
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