domingo, 20 de agosto de 2023

 



Como nasceu a doutrina espírita?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

A pergunta acima já nos foi apresentada em mais de uma ocasião. Trata-se de uma questão que mesmo entre os adeptos da doutrina espírita é pouco lembrada. Cientes de que como tudo se deu, passamos a valorizar ainda mais o trabalho dos pioneiros – encarnados e desencarnados – que junto de Allan Kardec fizeram com que as ideias espíritas formassem um corpo harmônico e lógico.

Kardec, em diversos itens de sua última obra, A Gênese, dissertou a respeito do assunto. O que adiante diremos tem por base as próprias informações firmadas pelo professor que nós espíritas designamos como sendo o Codificador do Espiritismo.

Como meio de elaboração, o Espiritismo procedeu da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentavam, que não podiam ser explicados pelas leis conhecidas. Ele os observou, comparou, analisou e, remontando dos efeitos às causas, chegou à lei que os rege. Em seguida, deduziu-lhes as consequências e as aplicações úteis.

Em nenhum dos casos não se estabeleceu nenhuma teoria preconcebida. Desse modo, não foram sugeridas como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina. Aliás, é bom lembrar que não existiam espíritas àquela época e que o meio onde os fenômenos se tornaram marcantes era dominado por católicos e protestantes.

A existência dos Espíritos se impôs quando isso ressaltou evidente da observação dos fatos, e de igual maneira se procedeu quanto aos outros princípios. Assim, não foram os fatos que vieram confirmar a teoria; a teoria é que veio, subsequentemente, explicar e resumir os fatos. Esse é o motivo que levou Kardec a afirmar, categoricamente, que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação.

Sabe-se que as ciências em geral só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental. Mas até então muitos entendiam que esse método só era aplicável à matéria, ao passo que ele é também aplicável às chamadas coisas metafísicas, e foi exatamente esse o mérito de Kardec.

Eis um exemplo por ele citado:

Ocorre no mundo espiritual um fato muito singular, de que seguramente ninguém houvera suspeitado: há Espíritos que, embora estejam desencarnados, não se consideram “mortos”, ou seja, pensam que ainda pertencem ao plano em que nós, encarnados, vivemos.

Os Espíritos superiores, que sabem perfeitamente disso, não vieram dizer antecipadamente: «Há Espíritos que julgam viver ainda a vida terrestre, que conservam seus gostos, costumes e instintos». Não foi isso que ocorreu. Eles provocaram a manifestação de Espíritos que se encontravam na aludida situação, para que fossem observados. Quem já conversou – como nós o fizemos por mais de 40 anos – com Espíritos nessa situação, sabe muito bem o que ocorre. Muitos, enquanto ignoram que estão “mortos”, dizem que não entendem por que em sua própria casa ninguém mais conversa com eles. E isso não se dá apenas com pessoas simples ou ingênuas, mas com criaturas de qualquer formação, inclusive com padres ou freiras recém-desencarnados, como já pudemos averiguar mais de uma vez.

Tendo-se visto Espíritos incertos quanto ao seu estado, ou afirmando ainda serem deste mundo, julgando-se aplicados às suas ocupações ordinárias, deduziu-se a regra. A multiplicidade de casos análogos demonstrou que o fato não era excepcional e que constituía mesmo uma das fases da vida espírita, pela qual muitos passam.

Pôde-se então estudar todas as variedades e as causas de tão singular ilusão, apurando-se, graças à observação, que tal situação é própria, sobretudo, de Espíritos pouco adiantados moralmente e peculiar a certos gêneros de morte, embora seja sempre temporária, ainda que, em alguns casos, possa durar semanas, meses ou anos.

Foi assim que a teoria nasceu da observação e o mesmo se deu com relação a todos os outros princípios da doutrina.

 

 


 

 

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