Revista Espírita de 1867
Allan Kardec
Parte 5
Damos
prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por
Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho
publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1867 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. De que trata o artigo
intitulado Lumen, escrito por Flammarion?
B. Qual a função das missões de
Moisés e Jesus?
C. Que espécie de fenômenos são
mais fáceis de simular?
Texto para leitura
51. Lacordaire
propõe-nos, em mensagem obtida pelo Sr. Morin, que devemos respeitar as crenças
passadas, porque foram as velhas crenças que elaboraram a renovação que hoje
começa a se realizar. Todas elas, salvo as exclusivamente materiais, possuíam
uma centelha da verdade, mas atendiam à necessidade de cada época, cujo
horizonte se alarga com o desenvolvimento intelectual da humanidade. (Págs. 94
e 95.)
52. Eugène Sue,
valendo-se da mediunidade do Sr. Desliens, equipara a existência humana a um
romance, ou antes a uma peça de teatro, da qual se percorre cada dia uma folha.
O autor é o homem; os personagens são os vícios, as paixões, as virtudes, a
matéria, a inteligência, disputando a posse do herói – o Espírito. Finda a
peça, estaremos a sós com o juiz supremo, imparcial e justo. “Que a vossa obra
seja séria e moralizadora”, adverte o Espírito, “porque é a única que tem algum
peso na balança do Todo-Poderoso.” (Págs. 95 e 96.)
53. A Revista
reporta-se, na seção de notícias bibliográficas, ao artigo intitulado Lumen,
relato extraterreno escrito por Camille Flammarion, em que o autor simula uma
palestra entre um indivíduo encarnado, chamado Sitiens, e o Espírito de um de
seus amigos, chamado Lumen, que lhe descreve as primeiras sensações observadas
em seu retorno à vida espiritual, após a morte do corpo físico. (N.R.: A
transcrição do artigo continua no número de maio de 1867, a partir da pág.
155.) (Págs. 96 a 100.)
54. Comentando
o artigo, que, segundo Kardec, bem poderia constituir um livro interessante, o
Codificador afirma que foi essa a primeira vez que o Espiritismo verdadeiro era
associado à ciência positiva, e isto por um homem capaz de apreciar uma e
outro. Flammarion, astrônomo conhecido em toda a França, havia publicado
anteriormente o livro Pluralidade dos Mundos Habitados. (Págs. 99 e
100.)
55. O número de
abril traz, em sua abertura, artigo de Kardec sobre Galileu, drama em versos
escritos pelo Sr. Ponsard, o qual, embora não trate de Espiritismo, examina o
tema pluralidade dos mundos habitados, que constitui um dos princípios
fundamentais da doutrina espírita. Do artigo extraímos os pontos que se seguem:
I) Galileu, ao revelar as leis do mecanismo do Universo, abriu caminho a novos
progressos; por isto mesmo, devia produzir uma revolução nas crenças,
destruindo os andaimes dos sistemas científicos errôneos sobre os quais elas se
apoiavam. II) A cada um sua missão: nem Moisés nem o Cristo tinham a missão de
ensinar aos homens as leis da ciência, cujo conhecimento devia ser o resultado
do trabalho e das pesquisas humanas, e não de uma revelação que desse ao homem
o saber sem esforço. III) Moisés e o Cristo tiveram uma função moralizadora; a
gênios de outra ordem são deferidas as missões científicas. IV) Como as leis
morais e as leis da ciência são leis divinas, a religião e a filosofia não
podem ser verdadeiras senão pela aliança dessas leis. V) A matéria e o espírito
são os dois princípios constitutivos do Universo. Mas o conhecimento das leis
que regem a matéria devia preceder o das leis que regem o elemento espiritual.
VI) O Espiritismo, que tem como objetivo especial o conhecimento do elemento
espiritual, só poderia ser compreendido em seu conjunto quando encontrasse o
terreno preparado. (Págs. 101 a 104.)
56. A Revista
traz, em seguida, um artigo de Kardec sobre a obra Soirées de
Saint-Pétersbourg, de Joseph de Maistre, publicada em 1821, na qual autor
expõe a tese de que jamais houve no mundo grandes acontecimentos que não
tivessem sido preditos de qualquer maneira. A obra contém ainda uma visão
profética do advento do Espiritismo – acontecimento que se daria mais de 35
anos depois –, que o autor equipara a uma terceira explosão da onipotente
bondade em favor do gênero humano. (Págs. 104 a 109.)
57.
Reportando-se a essa nova doutrina, que ele chama de “nova efusão do
Espírito-Santo”, o autor do livro ora focalizado adverte que é preciso que “os
pregadores desse dom novo possam citar a Escritura santa a todos os povos”,
fazendo o que os católicos não conseguiram fazer em dezoito séculos, num mundo
em que a Boa Nova continuava ignorada por milhões de criaturas. (Págs. 109 e
110.)
58. A 22 de
março de 1867, o Espírito de Joseph de Maistre comunicou-se na Sociedade
Espírita de Paris, ocasião em que, referindo-se à sua previsão do advento da
era espírita, asseverou: “Vi a terra prometida, mas não pude penetrá-la em
vida”. “Mais feliz que eu, senhores, aproveitai o favor que vos é conferido por
vossa boa vontade, melhorando o vosso coração e o vosso espírito, e fazendo
partilhar de vossa felicidade a todos aqueles de vossos irmãos em humanidade
que não oporão à vossa propaganda senão a reserva natural a cada homem posto em
face do desconhecido.” (Págs. 110 e 111.)
59. Da
comunicação de Joseph de Maistre destacamos ainda os seguintes pontos: I) O
espírito profético abrasa o mundo inteiro com seus eflúvios regeneradores. Na
Europa, na América, na Ásia, em toda a parte, a nova revelação se infiltra, com
a criança que nasce, com o jovem que se desenvolve, com o velho que se vai. II)
Uns chegam com os materiais necessários para a edificação da obra; outros
aspiram a um mundo que lhes revelará os mistérios que pressentem. III) Na
França o Espiritismo se manifesta sob outro nome que na Ásia. Possui agentes
nas diversas nuanças da religião católica, como as tem entre os seguidores da
religião muçulmana. IV) A aspiração por novos conhecimentos está no ar que se
respira, no livro que se escreve, no quadro que se pinta. (Pág. 112.)
60. Como já
vimos, Kardec publicou novo artigo sobre a Liga do Ensino, no qual, após
transcrever carta recebida de Jean Macé, repete o que dissera anteriormente, ou
seja, que o fim era louvável, mas faltava ao projeto a indispensável precisão
das coisas práticas. “Um programa – escreveu o Codificador – é uma linha
traçada, da qual ninguém se pode afastar conscientemente, um plano detido nos
mais minuciosos detalhes, e que nada deixa ao arbítrio, onde todas as
dificuldades de execução estão previstas, onde as vias e meios são indicados.”
Era isso que faltava à proposta relativa à Liga do Ensino, que também não
especificara como seriam supridos os recursos necessários à sua manutenção.
(Págs. 113 a 120.)
61. Sob o
título de O diabo do moinho, o Moniteur de l’ Indre de fevereiro
de 1867 relata os fenômenos ocorridos no moinho de Vicq-sur-Nahon, onde um
Espírito brincalhão produzia fatos curiosos e intrigantes: cobertores eram
retirados das camas e escondidos; portas chaveadas eram abertas sozinhas; um
cofre se abria e os objetos ali guardados eram espalhados pelo chão; as chaves
das portas desapareciam; e duas tentativas de incêndio espontâneo se registraram.
Tudo, segundo o jornal, parecia estar ligado a uma mocinha de 13 anos chamada
Marie Richard, que acabou sendo despedida pelo Sr. François Garnier,
proprietário do sítio. (Págs. 121 a 124.)
62. Kardec
transcreve a notícia, mas não autentica o fenômeno, advertindo que, de todos os
efeitos mediúnicos, as manifestações físicas são as mais fáceis de simular. É
preciso, pois, evitar aceitar levianamente como autênticos os fatos desse
gênero, quer os espontâneos, como os do moinho, quer os provocados. No caso em
foco, o Codificador explica que fenômenos dessa natureza são perfeitamente
possíveis e pertencem ao mesmo gênero dos fenômenos de Poitiers, de Dieppe, de
Marselha e tantos outros focalizados pela Revista, os quais podem ser chamados
manifestações barulhentas e perturbadoras. (Págs. 124 a 127.)
Respostas às questões propostas
A. De que trata
o artigo intitulado Lumen, escrito por Flammarion?
O artigo intitulado Lumen trata
de um relato extraterreno em que Camille Flammarion simula uma palestra entre
um indivíduo encarnado, chamado Sitiens, e o Espírito de um de seus amigos,
chamado Lumen, que lhe descreve as primeiras sensações observadas em seu
retorno à vida espiritual, após a morte do corpo físico. (Revista Espírita
de 1867, pp. 96 a 100.)
B. Qual a
função das missões de Moisés e Jesus?
Em um artigo sobre Galileu,
drama em versos escritos pelo Sr. Ponsard, Kardec diz que Galileu, ao revelar as
leis do mecanismo do Universo, abriu caminho a novos progressos; por isto
mesmo, devia produzir uma revolução nas crenças, destruindo os andaimes dos
sistemas científicos errôneos sobre os quais elas se apoiavam. Essa foi sua
missão. Quanto a Moisés e Jesus, suas missões tiveram uma função moralizadora,
enquanto a gênios como Galileu são deferidas as missões científicas. (Obra
citada, pp. 101 a 104.)
C. Que espécie
de fenômenos são mais fáceis de simular?
Ao comentar os fenômenos
ocorridos no moinho de Vicq-sur-Nahon, onde um Espírito brincalhão produzia
fatos curiosos e intrigantes, Kardec lembra que, de todos os efeitos
mediúnicos, as manifestações físicas são as mais fáceis de simular. É preciso,
pois, evitar aceitar levianamente como autênticos os fatos desse gênero, quer
os espontâneos, como os do moinho, quer os provocados. No caso em foco, o
Codificador explica que fenômenos dessa natureza são perfeitamente possíveis e
pertencem ao mesmo gênero dos fenômenos de Poitiers, de Dieppe, de Marselha e
tantos outros focalizados pela Revista, os quais podem ser chamados
manifestações barulhentas e perturbadoras. (Obra citada, pp. 123 a 127.)
Observação:
Para
acessar a Parte 4 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/12/revista-espirita-de-1867-allan-kardec_0672761567.html