Revista Espírita de 1867
Allan Kardec
Parte 6
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1867 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Qual é, segundo Cárita, a
missão da mulher?
B. Numa reunião de pessoas, de
que natureza é o ambiente espiritual?
C. Há diferença entre o
sofrimento corpóreo e o sofrimento espiritual?
Texto para leitura
63. Um fato inusitado,
ocorrido em Paris em maio de 1866, é comentado em seguida pelo Codificador. No
bairro de Ménilmontant a campainha de uma casa costumava tocar, sem que se
visse alguém por perto. Depois de esgotar todas as hipóteses explicativas do
fenômeno, a sra. X..., acreditando que os falecidos vêm às vezes reclamar
preces dos parentes, mandou rezar missas e novenas, mas de nada adiantou, pois
a campainha tocava sempre. (Págs. 127 e 128.)
64. Em
comunicação transmitida em 6 de julho de 1866, o Espírito de Cárita fala sobre
a missão da mulher, a quem compete principalmente espalhar a consolação e a
conciliação. Por que a mulher tem a graça e o sorriso, o encanto da voz e a
suavidade da alma? É porque é a ela que Deus confia os primeiros passos de seus
filhos, é ela que o Pai escolheu como a nutriz das doces criaturas que vão
nascer. Finalizando a mensagem, Cárita dirige-se a todas as mulheres
rogando-lhes coragem: “Ó vós que viveis humildemente, trabalhando por melhorar
vosso interior, Deus vos sorri, porque vos deu essa amenidade que caracteriza a
mulher; quer sejam imperatrizes, irmãs de caridade, humildes trabalhadoras ou
suaves mães de família, estão todas sob a mesma bandeira e levam na fronte e no
coração estas duas palavras mágicas, que enchem a eternidade: Amor e Caridade”.
(Págs. 128 a 130.)
65. Duas
notícias fecham o número de abril de 1867:
I) O jornal La
Verité, de Lyon, mudou seu título, a partir de 10 de março de 1867, para La
Tribune Universelle, journal de la libre conscience et de la livre pensée.
Justificando sua decisão, o diretor do jornal explicou que o fato não implicava
sua deserção das fileiras espíritas. “A ideia espírita hoje – diz ele em nota
transcrita pela Revista – faz parte integral do nosso ser e retirá-la seria
votar à morte o nosso coração, o nosso espírito.”
II) Foi lançado
em Madri um opúsculo intitulado Carta de um espiritista, contendo os
princípios fundamentais da doutrina espírita, com base no livro O que é o
Espiritismo, de Kardec. (Págs. 130 e 131.)
66. Atmosfera
espiritual é o tema do artigo de abertura do número de maio de 1867, do qual
extraímos os ensinamentos seguintes formulados por Kardec: I) Numa reunião,
além dos assistentes visíveis, existem outros invisíveis, e estes, dada a
permeabilidade do organismo espiritual, podem achar-se em número ilimitado num
dado espaço. II) Os fluidos que emanam dos Espíritos são mais ou menos
salutares, conforme seu grau de depuração. Conhecem-se seu poder curativo em
certos casos e, também, seus efeitos mórbidos. III) Podemos subtrair-nos a
essas influências? Sem nenhuma dúvida, sim, porque, do mesmo modo que saneamos
os lugares insalubres, destruindo a fonte dos miasmas pestilentos, podemos
sanear a atmosfera moral que nos cerca e subtrair-nos às influências
perniciosas dos fluidos malsãos, unicamente com o uso de nossa vontade. IV)
Numa assembleia os fluidos ambientes serão, pois, salubres ou insalubres,
conforme os pensamentos dominantes forem bons ou maus. V) Se os maus
pensamentos forem em minoria, não impedirão que as boas influências se
produzam, pois estas os paralisam. Se predominarem, enfraquecerão a radiação
fluídica dos bons Espíritos ou mesmo impedirão que os bons fluidos penetrem
nesse meio, como o nevoeiro enfraquece ou detém os raios do Sol. VI) Desde que
são os maus pensamentos que enquadram os maus fluidos e os atraem, para
neutralizá-los há que nos esforçarmos para só os ter bons e repelir tudo que é
mau, como se repele um alimento que nos é nocivo. Numa palavra: trabalhar por
nosso melhoramento moral e não apenas limpar o vaso por fora, mas sobretudo
limpá-lo por dentro. VII) Melhorando-se, a humanidade verá depurar-se a
atmosfera fluídica em cujo meio vive, porque lhe enviará somente bons fluidos,
e estes oporão uma barreira à invasão dos maus. (Págs. 133 a 136.)
67. Comentando
artigo publicado no jornal La Verité, sobre Renan e seu ceticismo,
Kardec explica que o vocábulo milagre havia perdido sua significação primitiva,
como tantos outros. Milagre significava então, na época da codificação, fato
extranatural, sobrenatural, conceitos que não cabem no vocabulário espírita,
porquanto sobrenatural é, segundo Kardec, “uma insensatez do ponto de vista do
Espiritismo”. (Págs. 136 a 139.)
68. A Revista
analisa um livro publicado em Paris em 1808, no qual o Sr. Caillot, autor da
Enciclopédia das jovens e das novas lições elementares da História da França,
além de descrever os cemitérios de Montmartre e Père-Lachaise, ambos situados
em Paris, cita um grande número de inscrições tumulares por ele comentadas.
(Págs. 139 e 140.)
69. O Sr.
Caillot afirma na obra ter experimentado um contato com a alma de um dos mortos
ali sepultados e reproduz o diálogo que ocorreu entre ele e o interlocutor
espiritual, a que deu a qualificação de espectro. Na conversação que se
estabeleceu, o Espírito confessou ter sido ateu e explicou seus motivos,
acrescentando que sofreu muito ao ser relegado, após a morte, a uma região
tenebrosa, habitada por Espíritos que tiveram mãos inocentes e cérebro doente.
(Págs. 140 a 144.)
70. Quem já leu
O Céu e o Inferno, de Kardec, deve lembrar-se da história do menino
Marcel, referida no cap. VIII, que trata das expiações terrestres. O caso do
jovem Francisco, morto aos 12 anos, objeto da Revista de maio de 1867, é bem
parecido com o de Marcel. Francisco adoeceu quando contava três anos de idade,
ao nascer sua irmã. Atingido pela paralisia e pela hidropisia, seu corpo fora
coberto de chagas e, tomadas pela gangrena, suas carnes caíam em tiras. (Págs.
144 e 145.)
71. Evocado
após sua morte, Francisco deu diversas comunicações em que esclareceu o motivo
de seus nove anos de padecimentos. Ele havia matado uma pessoa e de modo torpe:
“Matei, mas matei lentamente, fazendo sofrer um ser que eu detestava! Sim,
detestava esta criança que julgava não me pertencer! Pobre inocente!” A vítima
do passado era a sua irmãzinha, por quem ele, inexplicavelmente, ainda nutria
uma repulsa muito grande e cuja presença lhe era insuportável. (Págs. 145 a
147.)
72. O caso
suscitou uma questão importante proposta ao guia do médium: Por que a expiação
e o arrependimento na vida espiritual não bastam para a reabilitação do
culpado? O instrutor respondeu: “Sofrer num mundo ou no outro é sempre sofrer;
e se sofre tanto tempo até que a reabilitação seja completa. Esta criança
sofreu muito na Terra. Ora! isto nada é em comparação com o que suportou no
mundo dos Espíritos. Aqui ele tinha em compensação os cuidados e a afeição de
que era rodeado. Há ainda esta diferença entre o sofrimento corporal e o
sofrimento espiritual, que o primeiro é quase sempre voluntariamente aceito,
como complemento de expiação, ou como provação para adiantar-se mais
rapidamente, ao passo que o outro é imposto”. “Mas há outros motivos para o
sofrimento corporal: inicialmente para que a reparação se faça nas mesmas
condições em que o mal foi feito; depois, para servir de exemplo aos
encarnados. Vendo seus semelhantes sofrer e sabendo a razão disto, ficam por
outro lado impressionados ao saber que são infelizes como Espíritos. Podem
melhor explicar-se a causa de seus próprios sofrimentos; a justiça divina se
mostra, de certo modo, palpável aos seus olhos. Enfim o sofrimento corporal é
uma ocasião para os encarnados exercitarem a caridade entre si, uma prova para
seus sentimentos de comiseração e, muitas vezes, um meio de reparar erros
anteriores. Porque, crede-o bem, quando um infortunado se acha em vosso
caminho, não é por efeito do acaso.” (Págs. 147 e 148.)
73. A Revista
publica fragmentos do drama Galileu, escrito pelo Sr. Ponsard. Um século
antes de Galileu, Copérnico (1473-1543) havia concebido o sistema astronômico
que traz o seu nome. Com o auxílio da luneta, que foi por ele aperfeiçoada,
Galileu completou as ideias de Copérnico e demonstrou sua veracidade pelo
cálculo. Com seu instrumento pôde estudar a natureza dos planetas e sua
similitude com a Terra, e reconheceu que as estrelas são outros tantos sóis
disseminados no espaço, deduzindo que cada uma devia ser o centro de um sistema
planetário. No drama, o poeta procura mostrar a diversidade dos sentimentos que
Galileu provocou com suas descobertas, conforme o caráter e os preconceitos das
pessoas. (Págs. 148 a 154.)
74. Galileu,
diz o Codificador, sondou as profundezas dos céus e revelou a pluralidade dos
mundos materiais, produzindo uma revolução nas ideias e abrindo um novo campo
de exploração à ciência. O Espiritismo operou outra revolução não menor,
revelando a existência do mundo espiritual que nos rodeia. Da mesma maneira que
a má vontade e a perseguição não impediram que a doutrina de Galileu
triunfasse, também as ideias espíritas não serão abafadas e seus detratores
serão olhados pela geração futura com os mesmos olhos com que olhamos hoje os
de Galileu. (Pág. 154.)
75. A Revista
publica novos trechos do artigo Lumen, escrito por Camille Flammarion,
objeto de comentários de Kardec no número de março. O relato feito por
Flammarion, pertinente à chegada de Lumen a Capela, mostrando que havia um
lapso de tempo de 72 anos entre o que os habitantes do lugar podiam ver
desenrolar-se na Terra e o que já ocorrera em nosso planeta, ajuda a
compreensão do fenômeno das profecias; mas Kardec adverte que as coisas não se
passam exatamente assim. Quando os Espíritos encarnados num planeta querem
saber o que se passa em outro planeta, transportam-se a esse mundo, como fez
Lumen, e tornam-se assim, momentaneamente, habitantes espirituais desse
planeta, ou aí se encarnam em missão. (Págs. 155 a 160.)
76. Escrevendo
sobre a vida no mundo espiritual, diz Leclerc (Espírito) que ali tudo respira
calma, sabedoria, felicidade, harmonia, e não mais se veem quimeras, falsas
alegrias, temores pueris, nada desse cortejo vil de fabulosas dores e erros
grosseiros que se veem na Terra. “Cada obra tem uma finalidade, que conduz ao
amor, diapasão da harmonia geral”, assinala o amigo espiritual. “As legiões
espirituais adiantadas só têm um objetivo, o de se tornarem úteis a seus irmãos
atrasados, para os elevar para elas.” (Págs. 160 e 161.)
Respostas às questões propostas
A. Qual é,
segundo Cárita, a missão da mulher?
Em comunicação
dada em 6 de julho de 1866, o Espírito de Cárita falou sobre a missão da
mulher, a quem compete principalmente espalhar a consolação e a conciliação. É
à mulher que Deus confia os primeiros passos de seus filhos e foi ela que o Pai
escolheu como a nutriz das doces criaturas que vão nascer. Finalizando, Cárita
dirigiu-se a todas as mulheres rogando-lhes coragem: “Ó vós que viveis
humildemente, trabalhando por melhorar vosso interior, Deus vos sorri, porque
vos deu essa amenidade que caracteriza a mulher; quer sejam imperatrizes, irmãs
de caridade, humildes trabalhadoras ou suaves mães de família, estão todas sob
a mesma bandeira e levam na fronte e no coração estas duas palavras mágicas,
que enchem a eternidade: Amor e Caridade”. (Revista Espírita de 1867,
pp. 128 a 130.)
B. Numa reunião de pessoas, de que natureza é o ambiente
espiritual?
Depende. Os fluidos ambientes serão ali salubres ou
insalubres, conforme os pensamentos dominantes forem bons ou maus. Se os maus
pensamentos forem
em minoria, não impedirão que as boas influências se produzam, pois estas os
paralisam. Se predominarem, enfraquecerão a radiação fluídica dos bons
Espíritos ou mesmo impedirão que os bons fluidos penetrem nesse meio, como o
nevoeiro enfraquece ou detém os raios do Sol. Podemos subtrair-nos a essas
influências? Sem nenhuma dúvida, sim, porque, do mesmo modo que saneamos os lugares
insalubres, destruindo a fonte dos miasmas pestilentos, podemos sanear a
atmosfera moral que nos cerca e subtrair-nos às influências perniciosas dos
fluidos malsãos, unicamente com o uso de nossa vontade. Melhorando-se, a
humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em cujo meio vive, porque lhe
enviará somente bons fluidos, e estes oporão uma barreira à invasão dos maus.
(Obra citada, pp. 133 a 136.)
C. Há diferença
entre o sofrimento corpóreo e o sofrimento espiritual?
Segundo um
instrutor espiritual, sofrer num mundo ou no outro é sempre sofrer; e se sofre
tanto tempo até que a reabilitação seja completa. A diferença entre o
sofrimento corporal e o sofrimento espiritual é que o primeiro é quase sempre
voluntariamente aceito, como complemento de expiação, ou como provação para
adiantar-se mais rapidamente, ao passo que o outro é imposto. Há, contudo,
outros motivos para o sofrimento corporal: inicialmente para que a reparação se
faça nas mesmas condições em que o mal foi feito; depois, para servir de
exemplo aos encarnados. O sofrimento corporal é, ainda, uma ocasião para os
encarnados exercitarem a caridade entre si, uma prova para seus sentimentos de
comiseração e, muitas vezes, um meio de reparar erros anteriores. (Obra citada,
pp. 147 e 148.)
Observação:
Para
acessar a Parte 5 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/12/revista-espirita-de-1867-allan-kardec_01666570783.html
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