Revista Espírita de 1867
Allan Kardec
Parte 4
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1867 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Que fez o
Espírito de Abraham Lincoln logo que se inteirou de sua desencarnação?
B. Pode um
médium receber inúmeras comunicações de Espíritos diversos em uma mesma sessão,
como ocorreu com o Sr. Bertrand?
C. A busca do
melhoramento moral deve ser para nós um objetivo?
Texto para leitura
39. Em carta
dirigida ao Prefeito de Argel em 15 de janeiro de 1867, o Sr. Charles
Lavigerie, bispo de Nancy, então nomeado arcebispo de Argel, promete que terá
por divisa de seu trabalho episcopal uma única palavra: caridade, porque a caridade
não conhece gregos, nem bárbaros, nem infiéis, nem israelitas e, como ensina o
apóstolo Paulo, não vê nos homens senão a imagem viva de Deus. Ao transcrever a
carta, Kardec a elogia, lembrando que o anterior arcebispo de Argel havia
lançado todos os raios da maldição contra os espíritas, que teriam agora – pelo
menos Kardec o esperava – um tratamento mais benigno. (Págs. 78 e 79.)
40. Segundo o
jornal Banner of Light, de Boston, o ex-presidente americano Abraham
Lincoln, assassinado em abril de 1865, transmitiu uma mensagem mediúnica em que
descreve os momentos que se seguiram à sua desencarnação. A perturbação post mortem
durou pouco tempo e ele logo se viu cercado por muitas pessoas falecidas há
muito tempo, quando se inteirou da causa de seu passamento. Sabendo que William
Booth estava mortalmente ferido, ele foi até o seu leito de morte e esperou com
calma o despertar do rapaz para a vida espiritual. Não havia em seu coração
nenhum sentimento de vingança ou animosidade. Booth não ficou surpreso ao ver
Lincoln, cuja presença ele não podia evitar, porque era com frequência atraído
para ele. Sempre diante de sua vítima e recebendo dela apenas sinais de
bondade, esse era o seu estado atual e a sua punição. (Págs. 79 e 80.)
41. Em um poema
dedicado a Bernard Palissy, a srta. L.O. Lieutaud, de Ruão, agradece a Palissy
tê-la arrebatado à incredulidade e lhe pede: “Se devo retornar a esta terra
triste,/ Ó amado Bernard, pensa sempre em mim”. (Págs. 80 e 81.)
42. O projeto
de fundação na França de uma associação designada sob o título de Liga de
Ensino suscitou de Kardec dois longos artigos, publicados nos números de março
e abril de 1867 (págs. 81 e 113). Embora elogiando o mérito da proposta, Kardec
fez severa crítica à sua metodologia, que ele considerou falha e confusa.
(N.R.: Léon Denis, alguns anos depois, engajou-se firmemente nesse projeto,
tornando-se em 1880, aos 34 anos de idade, a alma do Círculo Turanês da Liga do
Ensino. Com Jean Macé, ele fundou então os primeiros círculos de bibliotecas populares
de Tours.) (Págs. 81 e 82.)
43. A 1º de
novembro de 1866, na Sociedade Espírita de Paris, durante a reunião
comemorativa dos mortos, o Sr. Bertrand recebeu uma série de pensamentos
assinados por Espíritos ilustres, os quais pareciam encadear-se, completando-se
uns pelos outros. Eis na sequência alguns deles: A medicina faz o que fazem os
caranguejos espantados (Dr. Demeure). Porque o magnetismo progride e,
progredindo, esmaga a medicina atual, para a substituir proximamente (Mesmer).
As revoluções são abusos que destroem outros abusos (Luís XVI). Mas esses
abusos fazem nascer a liberdade (Autor não identificado). A ciência é o
progresso da inteligência (Newton). Mas o que lhe é preferível é o progresso
moral (Jean Reynaud). Para desenvolver a moral é antes preciso desarraigar o
vício (Béranger). Para desarraigar o vício é preciso desmascará-lo (Eugène
Sue). (Págs. 82 a 84.)
44. No dia 6 de
dezembro seguinte o Sr. Bertrand recebeu uma nova série de pensamentos que
pareciam constituir, de certo modo, a continuação da precedente. Eis alguns
deles: Ser sábio é amar; procuremos então o amor pela via da sabedoria
(Fénelon). Os sábios da Grécia por vezes o foram mais nos escritos e nas
palavras que em sua pessoa (Platão). Sábio é aquele que não crê sê-lo (Corneille).
Não podeis ser sábios se não vos souberdes elevar acima da maldade dos homens
(Voltaire). Às vezes a vida é horroroso pesadelo para o Espírito e muitas vezes
custa a terminar (La Rochefoucault). A encarnação é o sono da alma; as
peripécias da vida são os seus sonhos (Balzac). Era o amor que Diógenes
procurava, procurando um homem... que veio séculos depois, e que o ódio, o
orgulho e a hipocrisia crucificaram (Sócrates). O amor reinará; e para que não
tarde, é preciso, como corajoso Diógenes, tomar com uma mão o facho do
Espiritismo e mostrar aos humanos os vermes roedores que formam chaga em sua
alma (São Luís). A fé desinteressada faz milagres (Boileau). Ao despertar da
alma que saiu vitoriosa das lutas terrenas, o Espírito está maior e mais elevado;
se sucumbir, encontra-se tal qual estava (Pascal). (Págs. 84 a 87.)
45. Kardec
observa que esse gênero de comunicação levanta uma questão importante: Como os
fluidos de tão grande número de Espíritos podem combinar-se com o fluido do
médium? Dois dias depois, o Espírito de Slener esclareceu que ele – o guia
espiritual do médium – servira de intermediário transmitindo os pensamentos e
os nomes dos Espíritos que os assinaram. Esse fato é bastante comum quando o
Espírito comunicante não consegue estabelecer relações fluídicas com o médium,
recorrendo então, nesse caso, ao guia espiritual do medianeiro encarnado. (Pág.
88.)
46. Outra
questão importante relacionada com o fenômeno é esta: Na lista dos Espíritos
que se comunicaram não havia encarnados? Se sim, como podiam comunicar-se? Um
Espírito explicou: “Os Espíritos de um certo grau de adiantamento têm uma
radiação que lhes permite comunicar-se simultaneamente em vários pontos. Nuns,
o estado de encarnação não amortece essa radiação de maneira completa para os
impedir de se manifestarem, mesmo em vigília. Quanto mais avançado o Espírito,
mais fracos os laços que o unem à matéria do corpo; está num estado de quase
constante desprendimento e pode dizer-se que está onde está seu pensamento”.
(Pág. 88.)
47. Mangin, o
vendedor de lápis que se tornou célebre nas ruas de Paris, morto em 1866,
comunicou-se em 20 de dezembro do mesmo ano por meio do Sr. Bertrand e explicou
por que se vestia de forma bizarra em sua última passagem pela Terra. Ele teria
sido em épocas remotas um soldado romano. (Págs. 89 e 90.)
48. A 14 de
janeiro de 1867, Mangin voltou a comunicar-se, grafando uma linda mensagem em
que diz o que faria se fosse papel. Como na primeira comunicação ele falou
sobre a função do lápis, nesta ele lembrou, entre outras coisas, que “o lápis
não pode ser útil sem o papel”, mas “o papel não dispensa o lápis” – uma forma
original de realçar a importância da solidariedade no progresso humano. (Págs.
90 e 91.)
49.
Solidariedade foi, por sinal, o tema da comunicação seguinte transcrita pela Revista.
Após asseverar que o estudo do Espiritismo não deve ser vão, o autor da
mensagem afirmou que o homem não é um ser isolado, mas coletivo. É por isso que
todos devemos ser solidários uns com os outros. No fim, o instrutor espiritual
disse que o Espiritismo bem compreendido é para a vida da alma o que o trabalho
material é para a vida do corpo. “Ocupai-vos dele com este objetivo – advertiu
o Espírito – e ficai certos de que quando tiverdes feito, para o vosso
melhoramento moral, a metade do que fazeis para melhorar a vossa existência
material, tereis feito a humanidade dar um grande passo.” (Págs. 91 e 92.)
50. Numa página
intitulada “Tudo vem a seu tempo”, o Espírito de Humboldt adverte que não
devemos ter avidez por tudo saber, porque o Senhor sabe qual é o melhor método
para nos instruir. Contentemo-nos, pois, com saber o que Deus julga a propósito
nos ensinar durante nossa passagem pela Terra, certos de que “tudo virá a seu
tempo”. Finalizando a mensagem, Humboldt diz: “Sim, meus amigos, aprendei e
instruí-vos e, antes de tudo, progredi em moralidade pelo amor ao próximo, pela
caridade, pela fé: é o essencial, é o passaporte, à vista do qual as portas do
santuário infinito vos são abertas”. (Págs. 93 e 94.)
Respostas às questões propostas
A. Que fez o
Espírito de Abraham Lincoln logo que se inteirou de sua desencarnação?
Segundo o
jornal Banner of Light, de Boston, o ex-presidente americano Abraham
Lincoln, assassinado em abril de 1865, transmitiu uma mensagem mediúnica em que
descreveu os momentos que se seguiram à sua desencarnação. A perturbação post mortem
durou pouco tempo e ele logo se viu cercado por muitas pessoas que sabia mortas
há muito tempo, quando se inteirou da causa de seu passamento. Sabendo que
William Booth estava mortalmente ferido, ele foi até o seu leito de morte e
esperou com calma o despertar do rapaz para a vida espiritual. E não havia em
seu coração nenhum sentimento de vingança ou animosidade. (Revista Espírita
de 1867, pp. 79 e 80.)
B. Pode um
médium receber inúmeras comunicações de Espíritos diversos em uma mesma sessão,
como ocorreu com o Sr. Bertrand?
Se isso for
possível, como os fluidos de tão grande número de Espíritos podem combinar-se
com o fluido do médium? A questão foi levantada por Kardec e, dois dias depois,
o Espírito de Slener esclareceu que, no caso do Sr. Bertrand, foi ele – o guia
espiritual do médium – que serviu de intermediário transmitindo os pensamentos
e os nomes dos Espíritos que os assinaram. O fato é bastante comum quando o
Espírito comunicante não consegue estabelecer relações fluídicas com o médium,
recorrendo então, nesse caso, ao guia espiritual do medianeiro. (Obra citada,
pág. 88.)
C. A busca do melhoramento moral deve ser para nós um
objetivo?
Sim. Segundo mensagem transcrita na Revista, quando
tivermos feito para o nosso melhoramento moral a metade do que fazemos para
melhorar nossa existência material, teremos feito a Humanidade dar um grande
passo.
Disse o Espírito de Humboldt: “Sim, meus amigos, aprendei e instruí-vos e,
antes de tudo, progredi em moralidade pelo amor ao próximo, pela caridade, pela
fé: é o essencial, é o passaporte, à vista do qual as portas do santuário
infinito vos são abertas”. (Obra citada, pp. 91 a 94.)
Observação:
Para
acessar a Parte 3 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/12/revista-espirita-de-1867-allan-kardec.html
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