Revista Espírita de 1867
Allan Kardec
Parte 3
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1867 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Quais as
causas das doenças em geral?
B. Pode a alma
de uma pessoa ficar estacionária, sem avançar como devia?
C. Como o
Espiritismo define o pensamento?
Texto para leitura
27. Caso
semelhante ao anterior foi noticiado pelo Spiritual Magazine, de
Londres, acerca de Tom, o Cego, que esteve em Londres, onde fez enorme sucesso
com seu talento musical, pois repete sem falha no piano tudo quanto lhe tocam,
quer sonatas clássicas antigas, quer fantasias modernas. Kardec assevera que as
reflexões feitas sobre a menina de Toulon naturalmente se aplicam a Tom, que
deve ter sido um grande músico. “O que torna o fenômeno mais extraordinário –
observa Kardec – é que se apresenta num negro, escravo e cego, tríplice causa
que se opunha à cultura de suas aptidões nativas e a despeito da qual se
manifestaram na primeira ocasião favorável.” “Tom, o escravo, nascido e
aclamado na América, é um protesto vivo contra os preconceitos que ainda reinam
nesse país.” (Págs. 49 a 51.)
28.
Referindo-se a uma notícia publicada no Morning-Post acerca de um caso
de suicídio cometido por um cão em Frinsbury, perto de Rochester, Kardec diz
que não faltam exemplos de suicídio entre os animais. O cão que se deixa morrer
de inanição pelo pesar de haver perdido o dono realiza um verdadeiro suicídio.
O escorpião, cercado pelo fogo e vendo que não pode sair, mata-se. Esses fatos
provam que o animal tem consciência de sua existência e de sua individualidade
e compreende o que é a vida e a morte. Não é, pois, uma máquina nem obedece
exclusivamente a um instinto cego, porque o instinto impele os seres à procura
dos meios de conservação, não de sua própria destruição. (Págs. 51 e 52.)
29. A Revista
publica mais uma poesia mediúnica recebida pelo Sr. Vavasseur. Intitulada Lembrança,
a poesia é assinada pelo Espírito de Jean. (Págs. 52 a 55.)
30. Escrevendo
sobre as doenças e suas principais causas, o Espírito de Morel Lavallée diz que
a doença pode vir do corpo, do perispírito ou do próprio Espírito. [N.R. - Espírito
é o nome que se dá ao conjunto alma e perispírito.] A medicação deve
guardar relação com a causa da enfermidade. Se esta proceder do Espírito, não
se pode empregar, para a combater, outra coisa senão uma medicação espiritual.
“Para destruir uma causa mórbida – assevera o Dr. Morel – há que combatê-la em
seu terreno.” (Págs. 55 e 56.)
31. Em uma
comunicação intitulada A clareza, Sonnez (Espírito) afirma que no século
19 o que mais faltava era clareza. A clareza é útil em tudo e a todos; sem ela
tudo marcha tateando. É por isto que, antes de aconselhar e ensinar, o espírita
deve começar logo por esclarecer os menores refolhos de sua alma. A tarefa do
Espiritismo é rasgar o véu sombrio dos séculos de ferro e conduzir os
terrícolas à conquista das verdades prometidas. “Trabalhar com este objetivo –
conclui Sonnez – é ser adepto do Menino de Belém, é ser filho de Deus, de quem
emanam toda a luz e toda a clareza.” (Págs. 56 a 58.)
32. Luís de
França (Espírito) reafirma a informação de que os tempos são chegados e alude,
numa mensagem recebida em 8 de janeiro de 1866, à profecia bíblica pertinente à
era da mediunidade, em que os velhos teriam sonhos e os filhos profetizariam.
Eis alguns apontamentos extraídos da citada comunicação: I) O Espiritismo é
esta difusão do Espírito divino, que vem instruir e moralizar todos os pobres
deserdados da vida espiritual que esquecem que o homem não vive apenas de pão.
II) Enquanto o homem negligencia cultivar o seu espírito e fica absorvido pela
busca ou a posse dos bens materiais, sua alma permanece de certo modo
estacionária. III) A bondade de Deus é, contudo, infinita e ultrapassa a
indiferença de seus filhos. Eis por que lhes envia mensageiros divinos que vêm
lembrar-lhes que Deus não os criou para a Terra, onde ficam apenas por algum
tempo, a fim de que, pelo trabalho, desenvolvam as qualidades de sua alma. IV)
O Espiritismo é a realização das profecias, o sinal brilhante da bondade do Pai
e um novo apelo ao desprendimento da matéria, porque só ele pode proporcionar
ao homem a verdadeira felicidade. (Págs. 58 e 59.)
33. O romance
intitulado Mirette, escrito por Élie Sauvage, é focalizado pela Revista,
que resume em poucas palavras o enredo e os personagens principais da obra.
Analisando-a, Kardec diz que a obra é uma pintura da vida real, onde nada se
afasta do possível e da qual o Espiritismo tudo pode aceitar. O comentário de
Kardec é complementado por uma mensagem assinada pelo Espírito de Morel
Lavallée, que elogia de igual forma o romance. (Págs. 59 a 64.)
34. O número de
fevereiro se encerra com três notícias: I) O lançamento da coletânea de poesias
mediúnicas obtidas pelo Sr. Vavasseur e reunidas sob o título de Echos Poétiques
d’Outre-Tombe. II) O anúncio da publicação em fascículos da obra Nova
Teoria Médico-Espírita, escrita pelo doutor Brizio, de Turim. III) O aviso
do lançamento da tradução em espanhol d’ O Livro dos Médiuns, que
poderia ser adquirida em Madri, Barcelona, Marselha e Paris. (N.R.: As duas
últimas notícias saíram também na edição de março de 1867.) (Pág. 65.)
35. Pode a
homeopatia modificar as disposições morais de uma pessoa? Antes de responder
negativamente a essa pergunta, Kardec desenvolve extensas considerações sobre o
assunto, das quais destacamos os pontos que se seguem: I) Certas partes do
cérebro têm funções especiais e são afetadas por uma ordem particular de
pensamentos e sentimentos. II) As faculdades afetivas, os sentimentos e as
paixões se acham, assim, sediadas em certas partes do cérebro. III) O
pensamento é um atributo do Espírito; sobrevivendo este à morte do corpo, o
pensamento também lhe sobrevive. IV) Segundo o Espiritismo, o Espírito não
somente sobrevive, mas preexiste ao corpo; não é um ser novo; traz ao nascer
ideias, qualidades e imperfeições que já possuía. Assim se explicam as aptidões
e as inclinações inatas. V) As aptidões do Espírito são, pois, causa, e o
estado dos órgãos, efeito. VI) Pode acontecer, porém, que o estado dos órgãos
seja modificado por outra causa estranha ao Espírito: doenças, acidentes,
influência atmosférica ou climatérica. Nesses casos, os órgãos é que reagirão
sobre o Espírito, não alterando as suas faculdades, mas perturbando suas
manifestações. VII) Se as imperfeições são inerentes à inferioridade do
Espírito, este não se modificará com a alteração sofrida por seu invólucro
carnal. VIII) Os medicamentos homeopáticos têm, por sua natureza etérea, uma
ação de certa forma molecular. Podem, pois, mais que outros, agir sobre certas
partes elementares e fluídicas dos órgãos e modificar-lhes a constituição
íntima. IX) Não podem, porém, agir sobre o ser espiritual senão por meios
espirituais. A medicação é capaz de tornar o Espírito mais flexível, mais dócil
e mais acessível às influências morais; mas seria uma ilusão esperar de uma
medicação qualquer um resultado definitivo e durável no tocante à alma. (Págs. 67 a 72.)
36. Finalizando
o artigo, Kardec diz que seria diferente se o objetivo fosse ajudar a manifestação
de uma faculdade já existente. Reajustado o organismo, o Espírito terá maiores
possibilidades de ação. Obviamente, em casos assim, não é o Espírito que se
aprimora com o tratamento, mas, sim, os meios de comunicação. E isso é
perfeitamente possível. (Pág. 72.)
37. As ideias
espíritas estão no ar! Essa foi uma das frases utilizadas por Kardec ao
comentar a repercussão positiva obtida por Mirette, o romance escrito
pelo Sr. Sauvage. As ideias espíritas efetivamente estavam presentes em vários
livros lançados à época e também no teatro. “Os Espíritos – disse o Codificador
– não se enganaram quando anunciaram que a ideia espírita viria à luz por toda
a sorte de meios.” (Págs. 72 a 75.)
38. Kardec
destaca da conhecida obra Robinson Crusoé três passagens em que o autor
alude de modo explícito à intervenção dos Espíritos nas peripécias vividas pelo
famoso personagem. As citações referidas pelo Codificador não se encontram nas
edições abreviadas da obra, mas somente nas edições completas. (Págs. 76 e 77.)
Respostas às questões propostas
A. Quais as
causas das doenças em geral?
Segundo o
Espírito de Morel Lavallée, a causa da doença pode estar no corpo, no
perispírito ou no próprio Espírito. A medicação deve guardar relação com a
causa da enfermidade. Se esta proceder do Espírito, não se pode empregar, para
a combater, outra coisa senão uma medicação espiritual. “Para destruir uma
causa mórbida – assevera o Dr. Morel – há que combatê-la em seu terreno.” (Revista
Espírita de 1867, pp. 55 e 56.)
B. Pode a alma
de uma pessoa ficar estacionária, sem avançar como devia?
Sim. Em
mensagem publicada na Revista, Luís de França (Espírito) diz que enquanto o
homem negligencia cultivar o seu espírito, e fica absorvido pela busca ou a
posse dos bens materiais, sua alma permanece de certo modo estacionária. A
bondade de Deus é, contudo, infinita e ultrapassa a indiferença de seus filhos.
Eis por que lhes envia mensageiros divinos que vêm lembrar-lhes que Deus não os
criou para a Terra, onde ficam apenas por algum tempo, a fim de que pelo
trabalho desenvolvam as qualidades de sua alma. (Obra citada, pp. 58 e
59.)
C. Como o
Espiritismo define o pensamento?
O pensamento é
um atributo do Espírito. Sobrevivendo este à morte do corpo, o pensamento
também lhe sobrevive. Aliás, segundo o Espiritismo, o Espírito não somente
sobrevive, mas preexiste ao corpo. Não é um ser novo e traz ao nascer ideias,
qualidades e imperfeições que já possuía. Assim se explicam as aptidões e as
inclinações inatas. (Obra citada, pp. 67 a 72.)
Observação:
Para
acessar a 2ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/11/revista-espirita-de-1867-allan-kardec_01436241291.html
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