ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
Certa vez um colega espírita perguntou-nos
o que entendíamos pela expressão “ortodoxia espírita” utilizada por Allan
Kardec no texto abaixo:
“Não será à
opinião de um homem que se aliarão os outros, mas à voz unânime dos Espíritos;
não será um homem, nem nós, nem qualquer outro que fundará a ortodoxia
espírita; tampouco será um Espírito que se venha impor a quem quer que seja:
será a universalidade dos Espíritos que se comunicam em toda a Terra, por ordem
de Deus.
Esse o
caráter essencial da Doutrina Espírita; essa a sua força, a sua autoridade.
Quis Deus que a sua lei assentasse em base inamovível e por isso não lhe deu
por fundamento a cabeça frágil de um só.” (O Evangelho segundo o Espiritismo,
Introdução, item II.)
O trecho transcrito
mostra com notável clareza que a doutrina espírita é obra coletiva, não emana
de um único Espírito, por mais sábio que ele possa ser, o que nos sugere que devemos
ter todo o cuidado com as chamadas revelações singulares, provenientes de uma
única fonte, seja qual for essa fonte.
As revelações
singulares podem até ser verídicas, mas é preciso deixar que o tempo concorra
para validá-las, atentos ao seguinte princípio, implícito no pensamento do
codificador da doutrina espírita: Quando uma nova informação deve ser
transmitida do plano espiritual ao plano terráqueo, isso se verifica em todos
os pontos do globo, por intermédio de muitos Espíritos e de um grande número de
médiuns desconhecidos uns dos outros.
Segundo
pensamos, Kardec utilizou a palavra “ortodoxia” com o sentido que os gregos lhe
davam. A palavra nos veio da Grécia e significa "opinião certa",
fidelidade, conformidade com um determinado pensamento ou doutrina.
Como a
doutrina espírita se fundamenta nos ensinamentos dados pelos Espíritos
superiores, é claro que a definição relativamente ao seu conteúdo correto é
atribuição dos Espíritos, não dos encarnados.
Allan Kardec,
que foi, como sabemos, a pessoa incumbida de codificar esses ensinamentos,
deixou muito claro em seus escritos que a revelação espírita seria ampliada
gradualmente e transmitida a nós, seres encarnados, no momento adequado, de
conformidade com nossa capacidade de entendimento e assimilação. A iniciativa
seria, portanto, dos reveladores espirituais, cabendo a nós, encarnados, um
papel importante, mas secundário, se comparado ao papel dos imortais incumbidos
dessa revelação.
É importante,
contudo, lembrar que a palavra “ortodoxia” tem sido, às vezes, utilizada de
forma depreciativa, para designar a intransigência de uma pessoa em relação a
tudo quanto é novo, ou a não aceitação de novos princípios ou ideias.
É nesse
último sentido que alguns médiuns e outros autores da atualidade, não aceitando
as críticas que se fazem a determinados equívocos presentes em seus livros,
gostam de aplicar a pecha de “ortodoxos” naqueles que têm a coragem e o dever moral
de apontar seus deslizes de ordem doutrinária, ocorrência que, infelizmente,
tem sido mais frequente do que supomos.
To
read in English, click here: ENGLISH |
Nenhum comentário:
Postar um comentário