Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 15
Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido
para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Qual foi o objetivo da experiência da “visão no cristal”
levada a efeito pela Srta. Goodrich-Freer?
B. Foi positivo o resultado da experiência citada na
questão anterior?
C. No tocante às dúvidas sobre a sobrevivência do espírito
humano desencarnado, qual é, segundo Bozzano, o melhor método de
investigação?
Texto para leitura
214. A Srta. Goodrich-Freer, que
era, como dissemos, sensitiva e dotada, de modo excepcional, da faculdade de
“visão no cristal”, diz então que fixou de novo a bola de cristal e viu imensa
extensão de água, na qual flutuavam enormes massas de gelo, visão que também
coincidia com a mensagem mediúnica recebida por William Stead. Contava-se nela
que seu “corpo psíquico” atravessara o oceano, encontrando enormes massas de
gelo; que havia ido a Boston visitar a Sra. Piper; que a tinha visto com prazer;
que a encontrara sozinha ou, mais precisamente, em companhia de um grande gato
preto. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo
C)
215. Achando o caso muito
interessante, ela escreveu ao Dr. Hodgson, nos Estados Unidos, perguntando-lhe
se a Sra. Piper teria consciência de tê-la visto recentemente. O Dr. Hodgson
respondeu que a Sra. Piper a havia visto recentemente em uma visão, momentos
antes de tomar um carro, tendo nas mãos uma bolsa verde, bordada de flores.
Depois, num quadro sucessivo, a havia visto descer em frente de um grande
edifício. Além disso, o Dr. Hodgson confirmava que naquele dia a Sra. Piper
estava vestida com um leve penteador e que tinha o aspecto de doente e cansada.
Acrescentava, finalmente, que nos últimos dias ela pensara muito na mísera
sorte de um grande gato preto que morrera em condições bem penosas. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
216. As informações realmente
procediam, eram sem dúvida probantes, mas a melhor prova foi fornecida pela
bolsa verde bordada de flores que Goodrich-Freer levava. No começo do inverno,
acontecia muitas vezes de ela ter de sair com muitos cartões, por isso recorria
ao uso de uma bolsa, que era justamente verde e bordada de flores. Acrescente-se
ainda que naquela época o porto de Boston estava bloqueado pelos gelos e a
temperatura era extremamente fria. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo C)
217. Na narração da Srta.
Goodrich, a alternância dos incidentes parece realmente complexa e intrincada.
Convirá, portanto, esclarecê-los, alinhando-os em ordem sucessiva. Em primeiro
lugar, nota-se que a Srta. Goodrich, dotada de faculdades mediúnicas pouco
comuns, teve certa noite de submeter-se a um fenômeno de “clarividência no
espaço”, ou de “bilocação”, em que sua personalidade espiritual subconsciente
entrou em relação, da Inglaterra à América do Norte, com a personalidade
subconsciente da médium Sra. Piper, que lhe era desconhecida. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
218. Nota-se, em segundo lugar,
que numa experiência mediúnica entre vivos, tentada por William Stead com a
Srta. Goodrich, esta transmitiu sumariamente ao primeiro a narrativa do
episódio exposto, cujos pormenores correspondiam à verdade, salvo um único em
que afirmava a presença de um grande gato em companhia da Sra. Piper, quando na
realidade não se tratava de um gato vivo, e sim, de uma “projeção do
pensamento” da Sra. Piper, que naquele momento pensava na infeliz sorte de um
grande gato preto, morto pouco antes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo C)
219. Em terceiro lugar, vê-se que
a médium, Sra. Piper, interrogada pelo Dr. Hodgson, contou que tivera a visão da
Srta. Goodrich, dando provas de minúcias que demonstravam a veracidade da visão
da mesma, conquanto demonstrasse também que as circunstâncias de lugar e tempo
não coincidiam com a visão da outra sensitiva. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
220. Finalmente, que a Srta.
Goodrich-Freer, desejando saber se a sua própria personalidade subconsciente
seria capaz de informá-la acerca do conteúdo das mensagens por ela transmitidas
a William Stead, pensou em empregar, para esse fim, as suas faculdades de
“visão no cristal”, tentando a experiência antes de conhecer o conteúdo da
comunicação recebida em seu nome pelo Sr. Stead. Dita experiência foi coroada
de pleno êxito, porque apareceram no cristal as imagens verídicas do oceano
obstruído por massas de gelo e da Sra. Piper vestida com um penteador, sentada
em uma poltrona, com aspecto de cansada e doente, mas não apareceu a imagem do
gato preto. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
221. Como se vê, o caso é
teoricamente de grande interesse, pois que se trata de um fenômeno tríplice de
comunicações mediúnicas entre vivos: a primeira comunicação em forma de “visão
clarividente” ou de “bilocação” entre a Srta. Goodrich-Freer e a Sra. Piper; a
segunda, ainda em forma de “visão clarividente” entre a Sra. Piper e a Srta.
Goodrich-Freer e a terceira vez, por meio da psicografia, entre a Sra.
Goodrich-Freer e William Stead. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo C)
222. Pela experiência da “visão
no cristal”, a Srta. Goodrich-Freer propunha-se a entrar em relação com a sua
própria subconsciência e, assim, certificar-se se os conhecimentos obtidos
mediunicamente por William Stead a seu respeito eram efetivamente devidos à
ação voluntária de sua personalidade subconsciente ou se, ao contrário, eram
consequência de um momento de “clarividência telepática” por parte de Stead.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
223. No primeiro caso, a
subconsciência dela deveria mostrar-se informada a respeito da mensagem
transmitida e, no segundo, deveria ignorá-la. Como se viu, a experiência
demonstrou que a subconsciência da sensitiva estava perfeitamente informada
sobre o conteúdo da mensagem recebida por Stead, o que lhe dá muita força em
favor da tese aqui sustentada. Lamenta-se, porém, que Stead houvesse assistido
à experiência, porque sua presença enfraqueceu o valor da prova, tornando
legítima a objeção de uma possível transmissão do seu pensamento à sensitiva.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
224. Contudo, noto que se se
tratasse de transmissão de pensamento, a visão que apareceu no cristal
representando a Sra. Piper sentada em uma poltrona, vestida com um penteador e
com ar de cansada e doente, deveria completar-se com o aparecimento do gato
citado na mensagem de Stead, mas o gato não apareceu no quadro visto nele. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
225. Teoricamente, isto é
importante, porque, na hipótese da origem genuinamente subconsciente das
imagens vistas no cristal, o gato não deveria ter aparecido porque, na
realidade, tratava-se de um erro de transmissão, em que a imagem-pensamento que
naquele instante afligia a alma da Sra. Piper fora traduzida erroneamente pela
imagem concreta de um gato vivo. E, ao contrário, a mesma imagem deveria ter
aparecido no cristal se se tratasse de um fenômeno de transmissão do pensamento
de Stead, visto que na mensagem por ele recebida o gato era citado como
realmente existindo. Baseando-se neste pormenor, deve-se concluir que o
episódio em exame não é explicável pela hipótese da transmissão do pensamento.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
226. Faço ponto na ampla
enumeração de experiências de William Stead, em que perseverou muitos anos, não
com o propósito de indagar a fundo as manifestações dos vivos, e sim com o fim
de empregá-las utilmente, como se houvesse se servido do telefone. Do ponto de
vista metapsíquico, tal sistema de comunicações supranormais lhe eram
familiares até o ponto em que os fenômenos não o interessavam em si, mas,
quando havia erros de transmissão, para estudar as suas causas. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
227. A propósito desse fato, ele
escreveu: “Estou tão habituado a usar minhas faculdades para as necessidades
ordinárias da vida, em seu aspecto civil, que uma comunicação verídica é para
mim natural. O que me interessa são os erros de transmissão, porque põem à
prova o meu discernimento”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
228. É supérfluo acrescentar que
com os outros pesquisadores acontece o mesmo, pois os fenômenos de tal natureza
mostram quanto falta saber sobre os poderes ocultos do espírito humano.
Ademais, prestam-se os ditos erros a corrigir a tendência de muitos pesquisadores
espiritualistas, propensos a considerar as comunicações mediúnicas como funções
dos “espíritos desencarnados”, como se o homem não fosse “espírito” até depois
de sua morte. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
229. Finalmente, confirmo o meu
ponto de vista de que, para resolver o grande problema da sobrevivência do
espírito humano desencarnado, o melhor método é o de estudar os poderes do
espírito humano encarnado. Na base de tal critério, temos podido afirmar que o
estudo dos episódios pertencentes ao presente subgrupo, nos quais as
comunicações mediúnicas entre vivos são obtidas por expressa vontade do médium,
episódios que aparentemente subministravam bom argumento aos contraditores da
hipótese espírita, se volta contra o dito argumento, demonstrando que em tais
circunstâncias, longe de tratar-se de um fenômeno de “clarividência telepática”
ou de “telestesia”, trata-se de verdadeiras conversas entre duas personalidades
espirituais subconscientes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
230. Essa demonstração altera
completamente os termos do problema, transformando as comunicações mediúnicas
entre vivos em excelentes provas a favor da genuinidade das comunicações
mediúnicas dos mortos, pois que, com uma investigação profunda das
manifestações dos vivos, demonstra-se que não existem faculdades subconscientes
capazes de selecionar à distância detalhes na subconsciência de outrem, e menos
ainda de fazê-lo sem limites de tempo, espaço e condição, mas que, ficando
demonstrado, nas comunicações dos vivos, que são eles mesmos que comunicam os
seus dados pessoais para identificar-se, então se deve reconhecer que, em
iguais casos com os mortos, são eles próprios que proporcionam os detalhes de
sua identificação e não o médium, no exercício de suas faculdades supranormais,
quem os capta e os seleciona onde quer que seja. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
231. De outro ponto de vista,
poderiam objetar que o fato em si, de que as comunicações mediúnicas entre
vivos se realizam em forma de conversa entre duas personalidades
subconscientes, não exclui que os médiuns possam igualmente obter de terceira
pessoa afastada, da mesma forma, os detalhes que subministram em nome do
pretenso espírito do morto, objeção que parece legítima, mas que praticamente
não se conta, pois não existem experiências que a confirmem. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
232. Uma vez demonstrado que as
comunicações mediúnicas entre vivos consistem em conversas entre duas
personalidades espirituais subconscientes, fica inutilizada a melhor arma dos
adversários. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C) (Continua no próximo número.)
Respostas às questões
preliminares
A. Qual foi o objetivo da experiência da “visão no cristal”
levada a efeito pela Srta. Goodrich-Freer?
Com essa experiência, a Srta. Goodrich-Freer propunha-se a
entrar em relação com a sua própria subconsciência e, assim, certificar-se se
os conhecimentos obtidos mediunicamente por William Stead a seu respeito, por
meio da psicografia, eram efetivamente devidos à ação voluntária de sua
personalidade subconsciente ou se, ao contrário, eram consequência de um
momento de “clarividência telepática” por parte de Stead. (2ª Categoria:
Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
B. Foi positivo o resultado da experiência citada na
questão anterior?
Sim. Como se viu pelo relato feito pela própria sensitiva,
a experiência demonstrou que a subconsciência dela estava perfeitamente
informada sobre o conteúdo da mensagem recebida mediunicamente por William
Stead, o que dá grande força à tese sustentada nesta obra, ou seja, que na
comunicação entre vivos há efetiva conversação entre o comunicante e o médium.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
C. No tocante às dúvidas sobre a sobrevivência do espírito
humano desencarnado, qual é, segundo Bozzano, o melhor método de
investigação?
Bozzano entende que, para resolver o
grande problema da sobrevivência do espírito humano
desencarnado, o melhor método consiste em estudar os poderes do
espírito humano encarnado. Nesse sentido, segundo ele, as comunicações
mediúnicas entre vivos constituem excelentes provas a favor da genuinidade das
comunicações mediúnicas dos mortos. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
Observação:
Para acessar a Parte 14 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/05/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_01408378727.html
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