sexta-feira, 17 de maio de 2024

 



Comunicações mediúnicas entre vivos

 

Ernesto Bozzano

 

Parte 15

 

Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.

Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Qual foi o objetivo da experiência da “visão no cristal” levada a efeito pela Srta. Goodrich-Freer? 

B. Foi positivo o resultado da experiência citada na questão anterior?

C. No tocante às dúvidas sobre a sobrevivência do espírito humano desencarnado, qual é, segundo Bozzano, o melhor método de investigação? 

 

Texto para leitura

 

214. A Srta. Goodrich-Freer, que era, como dissemos, sensitiva e dotada, de modo excepcional, da faculdade de “visão no cristal”, diz então que fixou de novo a bola de cristal e viu imensa extensão de água, na qual flutuavam enormes massas de gelo, visão que também coincidia com a mensagem mediúnica recebida por William Stead. Contava-se nela que seu “corpo psíquico” atravessara o oceano, encontrando enormes massas de gelo; que havia ido a Boston visitar a Sra. Piper; que a tinha visto com prazer; que a encontrara sozinha ou, mais precisamente, em companhia de um grande gato preto. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

215. Achando o caso muito interessante, ela escreveu ao Dr. Hodgson, nos Estados Unidos, perguntando-lhe se a Sra. Piper teria consciência de tê-la visto recentemente. O Dr. Hodgson respondeu que a Sra. Piper a havia visto recentemente em uma visão, momentos antes de tomar um carro, tendo nas mãos uma bolsa verde, bordada de flores. Depois, num quadro sucessivo, a havia visto descer em frente de um grande edifício. Além disso, o Dr. Hodgson confirmava que naquele dia a Sra. Piper estava vestida com um leve penteador e que tinha o aspecto de doente e cansada. Acrescentava, finalmente, que nos últimos dias ela pensara muito na mísera sorte de um grande gato preto que morrera em condições bem penosas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

216. As informações realmente procediam, eram sem dúvida probantes, mas a melhor prova foi fornecida pela bolsa verde bordada de flores que Goodrich-Freer levava. No começo do inverno, acontecia muitas vezes de ela ter de sair com muitos cartões, por isso recorria ao uso de uma bolsa, que era justamente verde e bordada de flores. Acrescente-se ainda que naquela época o porto de Boston estava bloqueado pelos gelos e a temperatura era extremamente fria. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

217. Na narração da Srta. Goodrich, a alternância dos incidentes parece realmente complexa e intrincada. Convirá, portanto, esclarecê-los, alinhando-os em ordem sucessiva. Em primeiro lugar, nota-se que a Srta. Goodrich, dotada de faculdades mediúnicas pouco comuns, teve certa noite de submeter-se a um fenômeno de “clarividência no espaço”, ou de “bilocação”, em que sua personalidade espiritual subconsciente entrou em relação, da Inglaterra à América do Norte, com a personalidade subconsciente da médium Sra. Piper, que lhe era desconhecida. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

218. Nota-se, em segundo lugar, que numa experiência mediúnica entre vivos, tentada por William Stead com a Srta. Goodrich, esta transmitiu sumariamente ao primeiro a narrativa do episódio exposto, cujos pormenores correspondiam à verdade, salvo um único em que afirmava a presença de um grande gato em companhia da Sra. Piper, quando na realidade não se tratava de um gato vivo, e sim, de uma “projeção do pensamento” da Sra. Piper, que naquele momento pensava na infeliz sorte de um grande gato preto, morto pouco antes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

219. Em terceiro lugar, vê-se que a médium, Sra. Piper, interrogada pelo Dr. Hodgson, contou que tivera a visão da Srta. Goodrich, dando provas de minúcias que demonstravam a veracidade da visão da mesma, conquanto demonstrasse também que as circunstâncias de lugar e tempo não coincidiam com a visão da outra sensitiva. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

220. Finalmente, que a Srta. Goodrich-Freer, desejando saber se a sua própria personalidade subconsciente seria capaz de informá-la acerca do conteúdo das mensagens por ela transmitidas a William Stead, pensou em empregar, para esse fim, as suas faculdades de “visão no cristal”, tentando a experiência antes de conhecer o conteúdo da comunicação recebida em seu nome pelo Sr. Stead. Dita experiência foi coroada de pleno êxito, porque apareceram no cristal as imagens verídicas do oceano obstruído por massas de gelo e da Sra. Piper vestida com um penteador, sentada em uma poltrona, com aspecto de cansada e doente, mas não apareceu a imagem do gato preto. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

221. Como se vê, o caso é teoricamente de grande interesse, pois que se trata de um fenômeno tríplice de comunicações mediúnicas entre vivos: a primeira comunicação em forma de “visão clarividente” ou de “bilocação” entre a Srta. Goodrich-Freer e a Sra. Piper; a segunda, ainda em forma de “visão clarividente” entre a Sra. Piper e a Srta. Goodrich-Freer e a terceira vez, por meio da psicografia, entre a Sra. Goodrich-Freer e William Stead. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

222. Pela experiência da “visão no cristal”, a Srta. Goodrich-Freer propunha-se a entrar em relação com a sua própria subconsciência e, assim, certificar-se se os conhecimentos obtidos mediunicamente por William Stead a seu respeito eram efetivamente devidos à ação voluntária de sua personalidade subconsciente ou se, ao contrário, eram consequência de um momento de “clarividência telepática” por parte de Stead. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

223. No primeiro caso, a subconsciência dela deveria mostrar-se informada a respeito da mensagem transmitida e, no segundo, deveria ignorá-la. Como se viu, a experiência demonstrou que a subconsciência da sensitiva estava perfeitamente informada sobre o conteúdo da mensagem recebida por Stead, o que lhe dá muita força em favor da tese aqui sustentada. Lamenta-se, porém, que Stead houvesse assistido à experiência, porque sua presença enfraqueceu o valor da prova, tornando legítima a objeção de uma possível transmissão do seu pensamento à sensitiva. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

224. Contudo, noto que se se tratasse de transmissão de pensamento, a visão que apareceu no cristal representando a Sra. Piper sentada em uma poltrona, vestida com um penteador e com ar de cansada e doente, deveria completar-se com o aparecimento do gato citado na mensagem de Stead, mas o gato não apareceu no quadro visto nele. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

225. Teoricamente, isto é importante, porque, na hipótese da origem genuinamente subconsciente das imagens vistas no cristal, o gato não deveria ter aparecido porque, na realidade, tratava-se de um erro de transmissão, em que a imagem-pensamento que naquele instante afligia a alma da Sra. Piper fora traduzida erroneamente pela imagem concreta de um gato vivo. E, ao contrário, a mesma imagem deveria ter aparecido no cristal se se tratasse de um fenômeno de transmissão do pensamento de Stead, visto que na mensagem por ele recebida o gato era citado como realmente existindo. Baseando-se neste pormenor, deve-se concluir que o episódio em exame não é explicável pela hipótese da transmissão do pensamento. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

226. Faço ponto na ampla enumeração de experiências de William Stead, em que perseverou muitos anos, não com o propósito de indagar a fundo as manifestações dos vivos, e sim com o fim de empregá-las utilmente, como se houvesse se servido do telefone. Do ponto de vista metapsíquico, tal sistema de comunicações supranormais lhe eram familiares até o ponto em que os fenômenos não o interessavam em si, mas, quando havia erros de transmissão, para estudar as suas causas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

227. A propósito desse fato, ele escreveu: “Estou tão habituado a usar minhas faculdades para as necessidades ordinárias da vida, em seu aspecto civil, que uma comunicação verídica é para mim natural. O que me interessa são os erros de transmissão, porque põem à prova o meu discernimento”. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

228. É supérfluo acrescentar que com os outros pesquisadores acontece o mesmo, pois os fenômenos de tal natureza mostram quanto falta saber sobre os poderes ocultos do espírito humano. Ademais, prestam-se os ditos erros a corrigir a tendência de muitos pesquisadores espiritualistas, propensos a considerar as comunicações mediúnicas como funções dos “espíritos desencarnados”, como se o homem não fosse “espírito” até depois de sua morte. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

229. Finalmente, confirmo o meu ponto de vista de que, para resolver o grande problema da sobrevivência do espírito humano desencarnado, o melhor método é o de estudar os poderes do espírito humano encarnado. Na base de tal critério, temos podido afirmar que o estudo dos episódios pertencentes ao presente subgrupo, nos quais as comunicações mediúnicas entre vivos são obtidas por expressa vontade do médium, episódios que aparentemente subministravam bom argumento aos contraditores da hipótese espírita, se volta contra o dito argumento, demonstrando que em tais circunstâncias, longe de tratar-se de um fenômeno de “clarividência telepática” ou de “telestesia”, trata-se de verdadeiras conversas entre duas personalidades espirituais subconscientes. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

230. Essa demonstração altera completamente os termos do problema, transformando as comunicações mediúnicas entre vivos em excelentes provas a favor da genuinidade das comunicações mediúnicas dos mortos, pois que, com uma investigação profunda das manifestações dos vivos, demonstra-se que não existem faculdades subconscientes capazes de selecionar à distância detalhes na subconsciência de outrem, e menos ainda de fazê-lo sem limites de tempo, espaço e condição, mas que, ficando demonstrado, nas comunicações dos vivos, que são eles mesmos que comunicam os seus dados pessoais para identificar-se, então se deve reconhecer que, em iguais casos com os mortos, são eles próprios que proporcionam os detalhes de sua identificação e não o médium, no exercício de suas faculdades supranormais, quem os capta e os seleciona onde quer que seja. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

231. De outro ponto de vista, poderiam objetar que o fato em si, de que as comunicações mediúnicas entre vivos se realizam em forma de conversa entre duas personalidades subconscientes, não exclui que os médiuns possam igualmente obter de terceira pessoa afastada, da mesma forma, os detalhes que subministram em nome do pretenso espírito do morto, objeção que parece legítima, mas que praticamente não se conta, pois não existem experiências que a confirmem. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

232. Uma vez demonstrado que as comunicações mediúnicas entre vivos consistem em conversas entre duas personalidades espirituais subconscientes, fica inutilizada a melhor arma dos adversários. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) (Continua no próximo número.)

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Qual foi o objetivo da experiência da “visão no cristal” levada a efeito pela Srta. Goodrich-Freer? 

Com essa experiência, a Srta. Goodrich-Freer propunha-se a entrar em relação com a sua própria subconsciência e, assim, certificar-se se os conhecimentos obtidos mediunicamente por William Stead a seu respeito, por meio da psicografia, eram efetivamente devidos à ação voluntária de sua personalidade subconsciente ou se, ao contrário, eram consequência de um momento de “clarividência telepática” por parte de Stead. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

B. Foi positivo o resultado da experiência citada na questão anterior?

Sim. Como se viu pelo relato feito pela própria sensitiva, a experiência demonstrou que a subconsciência dela estava perfeitamente informada sobre o conteúdo da mensagem recebida mediunicamente por William Stead, o que dá grande força à tese sustentada nesta obra, ou seja, que na comunicação entre vivos há efetiva conversação entre o comunicante e o médium. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

C. No tocante às dúvidas sobre a sobrevivência do espírito humano desencarnado, qual é, segundo Bozzano, o melhor método de investigação? 

Bozzano entende que, para resolver o grande problema da sobrevivência do espírito humano desencarnado, o melhor método consiste em estudar os poderes do espírito humano encarnado. Nesse sentido, segundo ele, as comunicações mediúnicas entre vivos constituem excelentes provas a favor da genuinidade das comunicações mediúnicas dos mortos. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 14 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/05/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_01408378727.html

 

 

 

 

 

 

 

 

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