Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto Bozzano
Parte 13
Damos prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos, de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido
para o idioma português por J. Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos que este estudo sirva para o leitor como uma
forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do
texto indicado para leitura.
Este estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões preliminares
A. Conforme relato feito por William Stead, sua mão
escreveu o pensamento de uma pessoa do seu conhecimento, à distância de várias
milhas, poucas horas depois que a mesma pessoa lhe havia escrito,
desculpando-se por não ter tido a coragem de confiar-lhe as informações que ele
lhe havia pedido. Por que esse fato é, segundo Bozzano, mais importante do que
os outros descritos anteriormente neste livro?
B. Fatos assim evidenciam que as hipóteses de
“clarividência telepática” e “telemnesia” devem ser excluídas como
insuficientes para explicar as manifestações dos vivos?
C. A conclusão com respeito ao mecanismo das comunicações
entre vivos pode ser aplicada ao mecanismo das comunicações com os chamados
mortos?
Texto para leitura
185. O fato narrado pelo Rev. G.
W. Allen é muito instrutivo e parece bastante para demonstrar a possibilidade
de uma pessoa entrar em condições de sonambulismo mais ou menos vigilante
durante o período de uma conversa mediúnica entre vivos, sem absolutamente
recordar-se disso. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
186. No seguinte episódio
trata-se de uma pessoa que, depois de ter-se mostrado reticente com o Sr. Stead
ao confiar-lhe suas dificuldades econômicas, fala-lhe sem reservas do assunto,
por via mediúnica. William Stead assim o relata:
Em fevereiro passado (1893)
encontrei-me, numa viagem por estrada de ferro, com um cavalheiro que eu havia
casualmente conhecido há pouco tempo. Sabia, de modo vago, que nos últimos
tempos ele se achava mergulhado em graves preocupações, de maneira que a nossa
palestra se tornou um tanto confidencial e tive notícia de que aquelas
preocupações eram de ordem financeira. Então lhe disse não saber como lhe
poderia ser útil, mas, de qualquer modo, rogava-lhe que me confiasse
francamente em que condições se encontrava, quais as dívidas que tinha e de que
créditos ou importância poderia dispor. Respondeu-me que não gostaria de entrar
em tais particularidades e então abstive-me de insistir. Separamo-nos na
estação seguinte. Naquele mesmo dia recebi uma carta dele, pedindo-me desculpas
por ter-se mostrado tão reservado, talvez até descortês, e explicava que
realmente não podia responder o que eu lhe havia perguntado. Recebi a carta às
dez horas da noite e, perto das duas da manhã, antes de deitar-me, sentei-me à
mesa e, dirigindo-lhe o pensamento, perguntei: “O senhor não teve a força moral
de declarar-me, face a face, quais eram as suas condições financeiras, mas
agora pode confiar-me tudo, escrevendo pela minha mão. Diga-me, pois, como se
acha e quanto deve!” Resposta: “Os meus débitos se elevam a 90 libras”. Tendo
eu perguntado se a cifra estava certa, veio a resposta por extenso: “Noventa
libras esterlinas”. Perguntei: “É só isto?” “Sim – respondeu – e não sei, na
verdade, como poderei pagá-la.” – “Quanto pensa que poderá apurar na pequena
propriedade que me falou?” – “Espero apurar 100 libras, mas talvez não seja
possível. De qualquer modo, preciso vendê-la por qualquer preço. Oh! se eu
conseguisse um jeito de ganhar a vida! Estaria disposto a aceitar qualquer
trabalho.” – “De que soma teria necessidade para viver?” – “Creio que não
poderia viver com menos de 200 libras por ano, porquanto não sou eu só. Tenho
de manter os meus velhos pais. Se fosse eu só, poderia sustentar-me com 50
libras, mas há o aluguel da casa e as roupas. Chegarei um dia a ganhar tal
importância? (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
187. No dia seguinte William
Stead foi procurar seu amigo e ele, logo que o viu, disse: “Espero que não se
tenha ofendido por haver-me recusado a confiar-lhe a situação em que me
encontro. Na realidade, o meu sentimento era não incomodá-lo com as minhas
lamúrias.” Stead respondeu: “Absolutamente não me ofendi e, por minha vez,
espero que não se ofenda quando souber o que fiz.” (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
188. Ele explicou-lhe, então,
resumidamente, os métodos de comunicação telepático-mediúnicos e depois
acrescentou: “Não sei se no que escreveu por minha mão há alguma palavra
verdadeira e hesito em comunicar-lho, acima de tudo porque a soma que me foi ditada
como sendo a do total das dívidas é muito pequena para ser exata, ainda mais
levando em consideração a depressão moral em que se acha mergulhado. Portanto,
antes de tudo, vou ler a cifra em questão. Se estiver certa, terei de
considerar tudo como o produto de uma mistificação inconsciente em que nenhuma
parte terá tomado a sua personalidade.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo C)
189. Embora incrédulo, ele
manifestou interesse no caso, e assim Stead prosseguiu: “Antes de ler a
comunicação, é preciso que faça mentalmente o cálculo da soma total de suas
dívidas, da soma que espera apurar com a sua propriedade, da soma anual que lhe
seria necessária para viver, se fosse só.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo C)
190. Ele se concentrou e disse em
seguida: “Já pensei em tudo.” Stead então tirou do bolso a comunicação e leu:
“O total de suas dívidas é de 90 libras.” Ele estremeceu e exclamou: “Está
certo, embora eu tenha pensado em 100 libras, porque havia incluído as despesas
correntes.” Stead continuou: “Visto achar-se exata a soma de suas dívidas, vou
prosseguir na leitura: Espera apurar 100 libras na propriedade.” – “É verdade.
É mesmo esta a quantia em que penso, embora houvesse hesitado em declará-la,
porque a julgo exagerada.” – “O senhor me afirmou que, com o seu encargo de
família atual, não poderia viver com menos de 200 libras por ano.” –
“Exatíssimo. É precisamente isto.” – “Mas o senhor acrescentou que, se fosse
sozinho, poderia viver com 50 libras anuais.” – “Muito bem. Nesse momento eu
estava pensando em 1 libra por semana.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo C)
191. A mão de William Stead
escreveu, portanto, exatamente o pensamento de uma pessoa do seu conhecimento,
à distância de várias milhas, poucas horas depois que a mesma pessoa lhe havia
escrito, desculpando-se por não ter tido a coragem de confiar-lhe as
informações que ele lhe havia pedido. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo C)
192. Myers pediu a Stead que
obtivesse o testemunho escrito do seu amigo a fim de colocá-lo nos arquivos da Society
for Psychical Research, no interesse das pesquisas psíquicas. Stead
obteve-o e Myers publicou tudo nos Proceedings of the S. P. R.
(vol. IX, pág. 57), suprimindo-lhe o nome, mas declarando que o revelaria
particularmente a quem lho pedisse. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo C)
193. Eis a carta do amigo de
Stead:
“6 de abril de 1893
Prezado Sr. Stead
Recebi o seu relato e nada tenho
a opor que seja encaminhado à Society for Psychical Research, pois os
informes nele contidos são escrupulosamente verdadeiros. Eu ignorava
inteiramente a sua experiência e soube dela no dia em que o senhor ma confiou.
O resultado da própria experiência causou-me grande impressão, uma vez que
sabia muito bem que o senhor não podia conhecer coisa alguma sobre os meus
negócios nem sobre a importância de minhas dívidas, o valor da minha propriedade
e os meus projetos de vida. a) E. J.” (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo C)
194. O caso exposto difere
substancialmente dos outros, porém é mais importante do que eles sob o ponto de
vista teórico, devido à maior eficiência demonstrativa, levando-se em conta a
duração incomum do diálogo mediúnico e as minuciosas informações particulares
obtidas de uma pessoa que horas antes havia dito verbalmente a Stead não querer
chegar a confidências sobre o delicado problema de suas aflições econômicas.
Entre as informações obtidas mediunicamente por Stead e as que foram
verbalmente narradas pela própria pessoa, encontram-se leves diferenças na
forma em que foram concebidas pelas duas personalidades – subconsciente e consciente
– do mesmo indivíduo, porém nenhuma diferença na substância, que corresponde
exatamente. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
195. Diante de um diálogo
verídico tão prolongado e tão detalhado, quem ousaria ainda sustentar que as
comunicações mediúnicas entre vivos se realizam por meio de uma presumida
faculdade de “clarividência telepática” ou de “telemnesia” capaz de insinuar-se
nos mais recônditos recessos das subconsciências alheias com o fim de
surrupiar-lhes os elementos necessários para representar uma falsa
personalidade de vivo? Tudo isso não passa de uma fantasia gratuita, mesquinha
e insulsa, enquanto que a explicação racional dos fatos brota dos próprios
fatos e de que se trata realmente de duas personalidades espirituais que
conversam uma com a outra. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
196. Daí se segue que, se as
hipóteses da “clarividência telepática” e da “telemnesia” devem ser excluídas
como insuficientes para explicar as manifestações dos vivos, então com maior
razão devem ser excluídas igualmente na explicação das manifestações de mortos,
nas quais os elementos necessários para representar uma falsa personalidade do
morto deveriam ser surrupiados nas subconsciências de pessoas desconhecidas do
médium, espalhadas por diversos lugares do mundo. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
197. Em outros termos, parece
logicamente inevitável que, para a explicação das manifestações dos mortos,
deve-se preferir a hipótese que a harmoniza perfeitamente com as modalidades
pelas quais se verificam as manifestações dos vivos, porque estes últimos
fornecem a única base sólida de toda interferência científica em tal ordem de
pesquisas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo C)
198. Como nas manifestações dos
vivos, são estes que prestam aos médiuns, ou aos assistentes por via dos
médiuns, as informações pessoais próprias para provar a sua identidade pessoal;
assim também nas comunicações dos mortos, são estes que comunicam aos médiuns,
ou por via dos médiuns, os fatos destinados a provar a sua identidade pessoal.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
199. Em suma, a argumentação
essencial no presente debate consiste no seguinte: os traços característicos de
uma conversa entre duas personalidades espirituais surgem como fundamento em
ambas as categorias de manifestações, de sorte que, se esses traços
característicos correspondem a um fato cientificamente provado no caso das
manifestações dos vivos, não é possível deixar de concluir que correspondam
igualmente a um fato real e verificado nas manifestações dos mortos. Isso, bem
entendido, sempre com a condição de apurar-se que sejam verídicas as
informações recebidas e ignoradas por todos os presentes, em ambos os casos.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C) (Continua
no próximo número.)
Respostas às questões
preliminares
A. Conforme relato feito por William Stead, sua mão
escreveu o pensamento de uma pessoa do seu conhecimento, à distância de várias
milhas, poucas horas depois que a mesma pessoa lhe havia escrito,
desculpando-se por não ter tido a coragem de confiar-lhe as informações que ele
lhe havia pedido. Por que esse fato é, segundo Bozzano, mais importante do que
os outros descritos anteriormente neste livro?
O caso mencionado é mais importante do que os outros sob o
ponto de vista teórico, devido à maior eficiência demonstrativa, levando-se em
conta a duração incomum do diálogo mediúnico e as minuciosas informações
particulares obtidas de uma pessoa que horas antes havia dito verbalmente a
Stead não querer chegar a confidências sobre o delicado problema de suas
aflições econômicas. Entre as informações obtidas mediunicamente por Stead e as
que foram verbalmente narradas pela própria pessoa, encontram-se leves diferenças
na forma, mas nenhuma diferença na substância. Acresce notar que a pessoa
atestou formalmente a confirmação dos dados contidos na mensagem psicografada.
(2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
B. Fatos assim evidenciam que as hipóteses de
“clarividência telepática” e “telemnesia” devem ser excluídas como
insuficientes para explicar as manifestações dos vivos?
Perfeitamente. O caso acima citado mostra que Stead e seu
amigo realmente conversaram mediunicamente. Não se trata, pois, de um simples
caso de telepatia. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo C)
Para Ernesto
Bozzano, sim. Em suma, diz ele, a argumentação
essencial relativa ao tema consiste no seguinte: os traços característicos de
uma conversa entre duas personalidades espirituais surgem como fundamento em
ambas as categorias de manifestações, de sorte que, se esses traços
característicos correspondem a um fato cientificamente provado no caso das
manifestações dos vivos, não é possível deixar de concluir que correspondam
igualmente a um fato real e verificado nas manifestações dos mortos. Isso, bem
entendido, sempre com a condição de apurar-se que sejam verídicas as
informações recebidas e ignoradas por todos os presentes, em ambos os casos. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo C)
Observação:
Para acessar a Parte 12 deste estudo, publicada na
semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/04/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_0257115972.html
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