Revista Espírita de 1865
Allan Kardec
Parte 9
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Os animais são
dotados também, como os Espíritos humanos, de uma visão espiritual?
B. O animal que
desencarnou pode manifestar-se às pessoas encarnadas?
C. Os que desencarnam
tornam-se melhores apenas porque voltaram à vida espiritual?
Texto para leitura
95. A Revista noticia
o lançamento da obra A confusão no Império de Satã, autoria de L.A. G. Salgues,
de Angers, em que o autor demonstra que Satã e o inferno dos satanistas são um
mito. (Pág. 123.)
96. O surgimento do
jornal L’ Echo d’Outre-Tombe (O Eco de Além-Túmulo), de Marselha, é
divulgado na Revista, que acrescenta ter referido jornal periodicidade semanal.
No alto, o jornal continha a célebre divisa do Espiritismo: “Fora da caridade
não há salvação”. (Pág. 123)
97. Num estilo
elegante e correto, e dizendo as verdades sem ferir a ninguém, foi lançado mais
um livro de M. J. B., intitulado Concordância da Fé e da Razão e dedicado ao
clero católico. Nele o autor trata mais especificamente da questão religiosa. O
outro livro de sua lavra chama-se Lettres sur le Spiritisme écrites à des
ecclesiastiques. (Pág. 124.)
98. Uma carta
procedente de Dieppe relata fatos interessantes ocorridos após a morte de uma
cadelinha chamada Mika. Estando o seu dono – a quem ela era muito apegada –
deitado em seu leito, ele ouviu em determinada noite um pequeno gemido em tudo
semelhante ao que Mika emitia quando queria algo. Como a mulher e a filha
também ouvissem os estranhos sons, cuja causa não pôde ser determinada, apesar
das buscas que se fizeram na casa, o correspondente remeteu suas dúvidas ao
Codificador. (Págs. 125 a 127.)
99. Kardec comenta o
caso dizendo, de início, que lhe parecia positivamente provado que existem
animais que veem Espíritos e com estes se impressionam. Ora, se eles veem os
Espíritos, não é pelos olhos do corpo. Eles devem ter também uma espécie de
visão espiritual. Mas, examinando diretamente a hipótese de haver a cadelinha
Mika comparecido em Espírito à casa onde vivera, diz ele que um fato importante
a registrar é que, entre os seres do mundo espiritual, jamais se fez menção de
que existissem Espíritos de animais. (Pág. 127.)
100. Disso parece
resultar que os animais não conservam a sua individualidade após a morte, mas a
manifestação da cadelinha Mika, caso tenha se manifestado, provaria exatamente
o contrário. A carta foi lida então na Sociedade Espírita de Paris, onde se
recebeu a comunicação que se segue, pelo médium E. Vézy. (Págs. 127 e 128.)
101. Eis
resumidamente o que se contém na comunicação referida:
A) O Espírito se
desenvolve passando pela peneira do mineral, do vegetal e do animal, até chegar
à humanimalidade, onde começa a ensaiar-se apenas a alma que encarnará na
humanidade.
B) Entre essas
diversas fases há laços importantes, chamados períodos intermediários ou
latentes, porque é aí que se operam as transformações sucessivas.
C) As afinidades
existentes entre os animais domésticos e o homem são produzidas pelas cargas
fluídicas que nos rodeiam e sobre nós recaem.
D) É um pouco a
humanidade que se detém sobre a animalidade, sem alterar as cores de uma e
outra. Daí é que resulta a superioridade inteligente do cão sobre o instinto
brutal do animal selvagem, e é só a essa causa que poderão ser devidas as
manifestações mencionadas na carta.
E) O correspondente
não se enganou ao ouvir o gemido do animal reconhecido pelos cuidados do dono,
indo, antes de passar ao estado intermediário de um desenvolvimento a outro,
levar-lhe uma lembrança. A manifestação pode dar-se, mas é passageira, porque o
animal, para subir um degrau, necessita de um trabalho latente, que aniquila em
todos eles qualquer sinal exterior de vida.
F) Esse estado é a
crisálida espiritual, onde se elabora a alma, de perispírito informe, sem
nenhuma figura reprodutiva de traços.
G) Os Espíritos de
animais não existem no espaço, ou antes, sua passagem é tão rápida que é como
se fosse nula.
H) Quando um corpo
material se dissolve, os elementos que o compõem voltam ao seu foco primitivo
para alimentar outros corpos. Dá-se o mesmo para a parte espiritual: os fluidos
organizados espirituais, à passagem, tomam cores, perfumes, instintos, até a
constituição definitiva da alma.
I) O cão, o gato, o
burro, o cavalo ou o elefante não podem, portanto, manifestar-se por via
mediúnica. Só os Espíritos chegados ao grau da humanidade podem fazê-lo, e
ainda assim em razão de seu adiantamento, porque o Espírito de um selvagem não
pode falar-nos como o Espírito de um homem civilizado. (Págs. 128 e 129.)
102. Um artigo
publicado no Journal de la Vienne, em 22/11/1864, refere uma série de
manifestações espíritas não resolvidas ocorridas em Poitiers em épocas
diversas, conforme fontes confiáveis os relataram. Assim é que em 1249, segundo
Guillaume d’Auvergne, então bispo de Paris, um Espírito batedor se introduziu numa
casa de Poitiers, na qual atirava pedras e quebrava os vidros. Em 1447, na
mesma região, fatos semelhantes se repetiram, só que nesse caso o Espírito,
além de lançar pedras e quebrar vidros, mexia nos móveis e batia nas pessoas,
embora de leve. Jean Delorme, então cura na região, visitou o local das
manifestações e procedeu a vários exorcismos, sem qualquer resultado. (Págs.
129 a 131.)
103. O autor do
artigo, sr. David (de Thiais), não é partidário, mas sim antagonista das ideias
espíritas, e seu objetivo é mostrar a falta de lógica e de razões em fatos
desse naipe, para ele pueris e indignos de serem atribuídos aos Espíritos,
indivíduos dotados de corpos imponderáveis que, planando sobre o mundo, devem
escapar às enfermidades humanas, aproximando-se da luz e da bondade de Deus.
(Págs. 131 e 132.)
104. Kardec agradece
as informações preciosas constantes do artigo, visto que, ao contrário do que o
sr. David pensa, elas servem de confirmação da veracidade das manifestações,
além de mostrarem a antiguidade dos fenômenos espíritas. Mas o Codificador não
perde a oportunidade de rebater as considerações pessoais do articulista, que
tem, como muitas pessoas, uma ideia ingênua do que se passa na vida espiritual.
(Pág. 132.)
105. O homem
perverso, o assassino, o bandido, o mais vil dos malfeitores não se tornam
santos só porque desencarnam. Seguramente não são Espíritos perfeitos que se
divertem com semelhantes coisas. Ora, se os há imperfeitos, que há de admirável
que cometam malícias? (Págs. 132 e 133.)
106. Morto a 25 de
março de 1865, o doutor Vignal foi evocado no dia 31 na Sociedade de Paris. Seu
desligamento do corpo material – informou Vignal – foi muito rápido, mais do
que ele próprio esperava, no entanto não deixou o corpo completamente senão no
momento em que ocorreu o sepultamento. (Págs. 133 e 134.)
Respostas às questões propostas
A. Os animais são
dotados também, como os Espíritos humanos, de uma visão espiritual?
Sim. Kardec diz que
lhe parecia positivamente provado que existem animais que veem Espíritos e com
estes se impressionam. Ora, se eles veem os Espíritos, não é pelos olhos do
corpo. Eles devem ter também uma espécie de visão espiritual. (Revista
Espírita de 1865, pp. 127 e 128.)
B. O animal que
desencarnou pode manifestar-se às pessoas encarnadas?
Sim. Citando
expressamente o relato de uma pessoa que disse ter ouvido o gemido de um animal
recentemente morto, um instrutor espiritual explicou que tal pessoa não se
enganou ao ouvir o gemido em causa. Tais manifestações podem dar-se, mas são
passageiras, aduziu o Espírito. (Obra citada, pp. 128 e 129.)
C. Os que desencarnam tornam-se melhores apenas porque
voltaram à vida espiritual?
Claro que não. Só as pessoas que têm uma ideia ingênua do
que se passa na vida espiritual pensam assim. A esse respeito o ensino espírita
é taxativo: o homem perverso, o assassino, o bandido, o mais vil dos
malfeitores não se tornam santos só porque desencarnam. (Obra citada, pp. 131
a 133.)
Observação:
Para acessar a Parte 8
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/05/revista-espirita-de-1865-allan-kardec.html
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