Comunicações
mediúnicas entre vivos
Ernesto
Bozzano
Parte
18
Damos
prosseguimento ao estudo do clássico Comunicações mediúnicas entre vivos,
de autoria de Ernesto Bozzano, traduzido para o idioma português por J.
Herculano Pires e publicado pela Edicel.
Esperamos
que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados
Clássicos do Espiritismo.
Cada
parte do estudo compõe-se de:
a)
questões preliminares;
b)
texto para leitura.
As
respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para
leitura.
Este
estudo será publicado sempre às sextas-feiras.
Questões
preliminares
A.
Nesta obra há registros de mensagens de vivos transmitidas com o auxílio de
Espíritos desencarnados?
B.
Como explicar tais formas de comunicação?
C.
É verdade que o Espírito de “Raymond” forneceu provas suficientes em favor de
sua identificação pessoal?
Texto
para leitura
269.
Caso 26 – Trata-se de um caso muito conhecido porque citado com
frequência. O Dr. Liebault, de Nancy, escreveu a Myers:
Apresso-me
em comunicar-lhe por escrito o seguinte caso de transmissão de pensamento. O
fato se deu com uma família francesa, residente em Nova Orleans, vinda de Nancy
para uma liquidação de negócios. Conheci a referida família por haver tratado
pelo hipnotismo a Srta. D., sobrinha do Sr. M. G., chefe da família em questão.
Padecia de uma leve anemia com tosse nervosa contraída em Coblença num colégio
do qual era professora. Facilmente a pus em estado sonambúlico e ficou boa, e
tal facilidade nos fez supor que provavelmente tinha faculdades mediúnicas (a
Sra. G. já as possuía), pelo que tratou de exercitá-la na escrita automática,
esperando poder comunicar-se com os “espíritos” e em menos de dois meses se
revelou uma boa médium escrevente.
Eu
mesmo a vi traçar rapidamente páginas inteiras de escrita automática – que
tinha por comunicações – em forma impecável, quando simultaneamente falava com
os presentes. Particularidade curiosa: ignorava tudo o que sua mão escrevia, do
que deduzia que algum espírito a movia.
Certo
dia, 7 de fevereiro de 1868, pelas 8 da manhã, no momento de sentar-se à mesa
para uma refeição ligeira, experimentou um impulso irresistível de escrever
automaticamente. Tomou o seu caderno e febrilmente rabiscou uns traços indecifráveis
e, quando acabou a agitação do seu espírito pôde-se ler que uma certa Margarida
lhe anunciava sua morte. Era uma sua amiga também professora e companheira de
pensão em Coblença e, naturalmente, todos acreditaram que a moça havia morrido.
A
Srta. B. escreveu no mesmo dia a outra amiga inglesa, instrutora do mesmo
colégio, sem revelar o motivo por que o fazia e alegando um pretexto qualquer.
Pela
volta do correio chegou a resposta na qual aquela declarava sua surpresa de
receber uma carta sem motivo aparente, mas, ao mesmo tempo, anunciava a morte
de sua amiga comum, Margarida, ocorrida às 8 horas da manhã do dia 7 de
fevereiro.
No
interesse da Ciência, lamento não haver pensado em ir junto com a família G. ao
telégrafo para convencer-me de que se havia recebido na referida manhã um
telegrama de Coblença, mas a honorabilidade de tal família estava acima de
qualquer suspeita. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo E)
270.
Myers diz que, ainda prescindindo da impossibilidade de que uma família inteira
conspirasse para enganar um amigo, a natureza da resposta recebida de Coblença
demonstra que quem escrevia sabia que não se havia enviado telegrama algum. Do
ponto de vista da manifestação em si, cabe fazer notar que a moça enferma se
extinguira “pelas 8 da manhã” e que em tal hora se manifestava mediunicamente à
amiga distante, ou seja, que a manifestação pôde se produzir tanto um minuto
antes, como depois da morte, ainda que seja mais provável esta última hipótese,
já que a comunicante participa a sua morte. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo E)
271.
O Dr. Liebault classifica o caso como “transmissão do pensamento”, pois na
época em que escrevia não havia ainda nascido a palavra “telepatia”, porém
ambas as definições se equivalem. Não se esqueça, porém, que neste caso a
telepatia se exerce mediunicamente, o que a diversifica da forma sensorial e a
aproxima das manifestações telepáticas dos mortos. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo E)
272.
Ademais, como nos casos examinados neste subgrupo se trata de vivos no leito de
morte, evidente é que a telepatia entre vivos com modalidade mediúnica aparece
como o último grau de uma ampla série de manifestações anímicas pelas quais se
chega ao limiar da grande fronteira, mas além da qual não podem existir mais
que manifestações telepáticas de mortos, demonstrando-se com isto que não
existe solução de continuidade entre as modalidades com que se produzem as comunicações
entre vivos e mortos. Em outras palavras: uma vez mais temos de reconhecer que
o Animismo prova o Espiritismo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo E)
273.
Mensagens transmitidas com auxílio de entidade espiritual – As mensagens
de que aqui tratamos dividem-se em dois grupos distintos: No primeiro quem se
manifesta é ainda a personalidade de um vivo, com a diferença de que o
“espírito-guia” do médium afirma que a manifestação se produz por seu
intermédio, no sentido de que ele se prestaria a ajudar a personalidade
espiritual do vivo a fim de pô-la em condições de atingir o seu objetivo. No
segundo grupo, ao contrário, as comunicações mediúnicas da espécie em questão
produzir-se-iam por intermédio único do “espírito-guia”, o qual se encarregaria
de receber a mensagem do vivo e de transmiti-la a outra pessoa afastada, sem
intervenção do próprio vivo. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e
à distância. Subgrupo F)
274.
O primeiro dos grupos indicados não apresentaria por si mesmo valor teórico
apreciável, podendo-se com razão objetar que a afirmação inverificável do
“espírito-guia” a respeito de um hipotético auxílio por ele prestado ao vivo
que se manifesta mediunicamente não é mais do que uma fantasia
onírico-subconsciente do médium. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo F)
275.
Tal objeção bastaria para tirar todo o valor teórico ao grupo de manifestações
em questão, se não existissem as manifestações do segundo grupo, diante das
quais a mesma objeção é muito menos legítima. A eficácia teórica, portanto, não
pequena, das manifestações do segundo grupo reflete-se favoravelmente sobre as
do primeiro, levando-se em consideração que se umas têm fundamento, também as outras
parecem prováveis. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à
distância. Subgrupo F)
276.
Não se diz, porém, que a origem espírita das manifestações pertencentes ao
segundo grupo possa ser considerada solidamente demonstrada. Com todo o rigor,
tal não é possível. De qualquer forma, não há falta de provas indiretas em
favor da interpretação espírita, provas que assumem forma de argumentações
indutivas de grande eficiência demonstrativa, pois que, sem elas, muito
dificilmente se poderia algumas vezes dar a razão de ser dos fatos. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
277.
O Prof. Oliver Lodge diz, a respeito do grupo de manifestações, o seguinte, que
transcrevo do Journal of the S. P. R.:
Como
explicar tais formas de transmissão mental de uma pessoa a outra? Tomemos o
episódio da palavra “Honolulu” por mim citado no livro “Raymond”. O grupo
familiar de experimentadores de Birmingham pediu à personalidade mediúnica
“Raymond” para transmitir a palavra “Honolulu” a outro grupo de
experimentadores em Londres, e a palavra foi transmitida. Ora, o caso pode
explicar-se considerando-o uma experiência telepática, mas a circunstância que
não se deve esquecer, pois que constitui o lado dramático da interpretação é
esta: o encargo de transmitir a mensagem foi dado a “Raymond”, que se achava em
relações com os dois grupos de experimentadores.
E,
assim sendo, não se pode deixar de reconhecer que se o episódio se pode
explicar telepaticamente, pode-se interpretar ainda melhor, pressupondo que o
espírito de “Raymond” tenha efetivamente transmitido como intermediário a
mensagem que lhe foi confiada. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos
e à distância. Subgrupo F)
278.
Assim escreveu o Prof. Lodge, e esta última interpretação dos fatos parece mais
legítima do que a outra porque nesta se leva em devida conta a circunstância
fundamental que confere valor ao ciclo inteiro das experiências em apreço, isto
é, que as manifestações da entidade espiritual “Raymond” constituem o fim e a
razão de ser das próprias experiências e, como a mesma entidade já havia
fornecido provas bem notáveis em favor da sua identificação pessoal, segue-se
que, querer separar o episódio exposto do complexo orgânico dos outros episódios,
explicando-o de forma diversa, seria um procedimento arbitrário e
anticientífico. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F)
279.
A título de exemplo fornecerei apenas três episódios relativos ao primeiro
grupo das manifestações em exame. Ademais, os leitores terão observado que nos
casos anteriormente citados se encontram vários em que se faz alusão ao
presumido auxílio espírita implícito nos episódios de comunicações mediúnicas
de vivos, presunção que não levei em conta porque de natureza demasiado vaga.
Nos três exemplos que se seguem, tal presunção, ao contrário, parece
justificada, conquanto não o seja ainda suficientemente sem o auxílio eficaz
dos episódios afins, pertencentes ao segundo dos grupos examinados. (2ª
Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
280.
Caso 27 – Tiro-o do livro da Sra. Hester Travers-Smith, Voices from
the Void (págs. 48/50). Como já tivemos ensejo de observar (Caso 1) essa
senhora possui notabilíssimas faculdades mediúnicas, embora sejam limitadas ao
sistema de comunicações obtidas com o aparelho mediúnico chamado Oui-já (quadro
com o alfabeto munido de um ponteiro que indica as letras) e fez muitas
experiências com o Prof. William Barrett, o qual, por seu intermédio, obteve
algumas provas admiráveis de identificação espírita, que cita em sua obra On
the Threshold of the Unseen. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre
vivos e à distância. Subgrupo F)
281.
Escreveu ela:
Certa
personalidade mediúnica, que ainda não conheço intimamente porque se manifesta
há poucos meses, assina o nome de “Shamar”. Diz ser de raça indiana e se afirma
meu “espírito-guia”. Preside e dirige quase todas as minhas sessões, dedica-se
a desenvolver e a aperfeiçoar a minha mediunidade, tendo cuidado, acima de
tudo, de trazer às sessões, para se comunicarem, espíritos que se demonstram
sempre escrupulosamente verdadeiros. Tal entidade me informa que agora se
interessa de modo particular em trazer-me espíritos de vivos, aproveitando o momento
em que estão dormindo ou cochilando. Interessa-se pelos encarnados porque com
estes é possível obter-se a prova absoluta de identificação pessoal dos
espíritos comunicantes.
“Shamar”
mostrou-se sempre sincera e leal para comigo. Recentemente provocou manifestações
de espíritos de vivos, com relação aos quais tive meios de certificar-me da
veracidade absoluta das mensagens que me transmitiram.
Em
dezembro de 1917 eu me achava em Londres, hospedada em casa de uma família de
parentes com a qual passei as festas de Natal. No dia 26 fiz com a minha prima
uma breve sessão mediúnica das 10:30 às 11 horas da noite, na qual se
manifestou “Shamar” e prometeu fazer-nos assistir a uma interessante
manifestação. Pouco depois o ponteiro do Oui-já indicou o nome do irmão de
minha prima. Descreveu ele a sala em que se achava, acrescentando que havia
adormecido, sentado diante da lareira. Foi breve a mensagem e eu não conservo o
original, mas foi verificada a sua exatidão em todos os detalhes.
Depois
dele, foi ditado o nome do Sr. D..., um íntimo amigo nosso, que nos comunicou
achar-se apenas cochilando e que, em consequência, a sua mensagem só poderia
ser dada aos saltos, e de fato tal sucedeu. Informou-nos que naquele momento
estava sentado na saleta em frente da lareira e que não havia outra pessoa no
aposento. Eu lhe pedi que transmitisse certa mensagem a sua irmã e ele
observou: “Sinto muito, mas não é possível, porque quando eu acordar me
esquecerei de tudo o que estou dizendo e ouvindo”.
Descreveu-me
então longa e minuciosamente de que modo haviam decorrido em sua casa as
festividades do Natal, acentuando a vinda de um nosso amigo comum que eu
absolutamente não teria podido imaginar houvesse tomado parte nos festejos.
Depois comunicou-me que era obrigado a despedir-se porque o seu corpo ia
rapidamente despertando, tornando-se assim impossível a comunicação.
Quando
voltei para Dublin tive o cuidado de informar-me a respeito e verifiquei a
absoluta veracidade do que me havia sido contado mediunicamente pelo meu primo.
Deixo os leitores à vontade para decidirem se no caso exposto se tratava ou não
de telepatia. O espírito de meu primo teria realmente se afastado de seu corpo
para vir conversar comigo? Não ouso responder à pergunta.
A
última prova do poder de “Shamar” em preparar tais manifestações se deu há duas
noites. Fiz uma sessão durante o dia, na qual “Shamar” me avisou que tentasse
outra alta noite, porque queria fazer certas experiências. Assim fiz, e cerca
das 12:30 da noite trouxe ela um amigo que, após haver declarado achar-se
dormindo naquele instante, apressou-se a dar explicações sobre certo
procedimento seu, que me havia parecido reprovável e eram explicações que eu
nunca teria podido imaginar. De qualquer forma, não dei importância a essa
comunicação mediúnica, mas na manhã seguinte recebi dele uma carta em que se
justificava, dando exaustivas explicações, idênticas às que eu havia recebido
mediunicamente na noite precedente.
Diante
de tais resultados, parece-me que as comunicações mediúnicas dos vivos imersos
no sono constituem uma questão da mais alta importância para as pesquisas
metapsíquicas. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas entre vivos e à distância.
Subgrupo F) (Continua no próximo número.)
Respostas
às questões preliminares
A.
Nesta obra há registros de mensagens de vivos transmitidas com o auxílio de
Espíritos desencarnados?
Sim.
Tais mensagens dividem-se, segundo Bozzano, em dois grupos. No primeiro quem se
manifesta é a personalidade de um vivo, com a diferença de que o guia
espiritual do médium afirma que a manifestação se produziu por seu intermédio.
No segundo grupo, as comunicações mediúnicas da espécie em questão produzem-se
por intermédio único do guia espiritual, que se encarrega de receber a mensagem
do vivo e de transmiti-la a outra pessoa afastada. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
B.
Como explicar tais formas de comunicação?
Para
responder a isso, Bozzano reproduz o relato feito pelo Prof. Oliver Lodge,
segundo o qual o grupo familiar de experimentadores de Birmingham pediu à
personalidade mediúnica “Raymond” para transmitir a palavra “Honolulu” a outro
grupo de experimentadores em Londres, e a palavra foi transmitida. A suposição
é que, em tal caso, o Espírito de “Raymond” tenha efetivamente transmitido como
intermediário a mensagem que lhe foi confiada. (2ª Categoria: Mensagens
mediúnicas entre vivos e à distância. Subgrupo F)
C.
É verdade que o Espírito de “Raymond” forneceu provas suficientes em favor de
sua identificação pessoal?
Sim.
Aliás, o fato descrito na questão anterior integra uma série de experiências em
que as manifestações da entidade espiritual “Raymond” constituíam o fim e a
razão de ser das próprias experiências. (2ª Categoria: Mensagens mediúnicas
entre vivos e à distância. Subgrupo F)
Observação:
Para acessar a Parte 17 deste estudo, publicada na semana passada,
clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/05/comunicacoes-mediunicas-entre-vivos_01501610487.html
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