Diálogo em serviço
— Senhor, o meu coração freme de alegria ao aceitar-te!… Agora,
Amado Jesus, peço me aceites, doando-me algum encargo em teu serviço!…
O novo aprendiz, sufocado de lágrimas, nada mais conseguiu dizer.
Desde aquele instante, começou vida nova. Carregava as horas repletas de
atividade, relacionando compreensão humana e trabalho beneficente.
Os dias correram sobre os dias, somando muito tempo, até que, em
certa noite, ao recolher-se, exausto, viu-se fora do corpo físico, à frente de
Jesus que lhe sorria.
O servidor ajoelhou-se e exclamou, sensibilizado:
— Senhor, envergonho-me por nada te oferecer. Entreguei-me debalde
em tuas mãos. Das tuas sementes de amor que espalhei, nenhuma conseguiu germinação.
Falei de ti aos que sofriam e raramente não amarguei reações de revolta e
desespero; em teu nome, procurei os homens de inteligência e apenas tive deles
manifestações de ironia vestidas de belas palavras; apelei para as pessoas
robustas e contentes da vida rogando abraçassem os infelizes e obtive promessas
de cooperação que até hoje não apareceu; conversei com os irmãos ofendidos
sobre o perdão, solicitando-lhes tolerância para com os agressores e, conquanto
muitos movimentassem os lábios dizendo que desculpavam as afrontas recebidas,
vi, no fundo de suas almas, as chagas de ressentimento a lhes corroerem as
forças do coração; insisti com amigos queridos de passagem por tuas oficinas de
boas obras para que permanecessem fiéis às tuas esperanças e desertaram,
desalentados, descrendo-te das promessas… Que fazer, Senhor, se planto os teus
ensinamentos, sem qualquer resultado?
Jesus afagou-lhe a fronte e falou compassivo:
— Amigo, continua servindo e não temas. Onde viste o lavrador que
deitasse as sementes na terra e as visse germinar, no mesmo instante? O serviço
que te confiei é aquele mesmo que o Pai me deu a fazer… Nenhum gesto de bondade
e nenhuma palavra de amor se perdem na construção do Reino do Bem Eterno…
O aprendiz retornou ao corpo que o descanso restaurava, mas,
claramente desperto, ainda ouviu as palavras do Mestre que concluía:
— Continuaremos a compreender e servir, a amar e a semear… Deus,
Nosso Pai, sabe onde, como e quando fazer o resto.
Do livro Palavras do Coração, obra psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier.
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