Revista
Espírita de 1866
Allan
Kardec
Parte
16 e final
Concluímos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo baseou-se na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que foi apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões
preliminares
A. Quem foi o
príncipe Hohenlohe e por que ele se tornou famoso?
B. Como o
príncipe, depois de haver desencarnado, explicou as curas que obtivera?
C. Que
ensinamentos o príncipe nos trouxe em sua mensagem?
Texto para
leitura
194. Comentando
os fatos, Kardec observa que há mais de uma similitude entre eles e os de Joana
d’Arc, não quanto à importância dos resultados, mas à causa do fenômeno, que é
exatamente a mesma. Como Joana, Martin foi advertido por um ser do mundo
espiritual para ir falar ao rei com o objetivo de salvar a França de um perigo,
e não foi sem dificuldade que chegou até ele. A diferença entre as duas
manifestações é que Joana d’Arc apenas ouvia a voz que a aconselhava, enquanto Martin
via o indivíduo que lhe falava, não em sonho, mas durante a vigília. E o
mensageiro tinha a aparência de um ser vivo, como um agênere, embora se
dissesse anjo. (Págs. 369 a 371.)
195. Martin,
assevera o codificador, era um médium inconsciente, dotado de uma aptidão de
que se serviram os Espíritos para chegar a um resultado determinado. O Espírito
que se intitulou anjo Rafael disse-lhe expressamente: “Eu me sirvo de você para
abater o orgulho da incredulidade”, mostrando que certas missões são conferidas
a pessoas simples e pequeninas que, dada a sua suposta pequenez, nem imaginam
possam servir-lhes de instrumento. É que se um indivíduo, seja ele quem for,
tiver uma missão real a cumprir, será posto em condições de a realizar, por
circunstâncias que terão a aparência de um efeito do acaso, o que levou Kardec
a advertir: “Desconfiai das missões assinadas e pregadas por antecipação,
porque não passam de engodos para o orgulho; as missões se revelam por fatos.”
(Págs. 370 e 371.)
196. A Revista
transcreve do jornal La Verité, de Lyon, de 21 de outubro de 1866, um
artigo sobre as curas obtidas no ano de 1829 pelo príncipe Hohenlohe, cujas
faculdades mediúnicas oferecem um exemplo notável dos fatos que foram
observados antes do advento da Doutrina Espírita. Em Wurtzbourg, cidade
localizada na Baviera, o príncipe invocava sobre os enfermos que o buscavam as
graças divinas, e eles eram curados de repente. Sua fama, por causa disso,
espalhou-se logo e muitas curas extraordinárias foram anotadas por testemunhas idôneas,
como o Sr. Scharold, conselheiro de legação na mencionada cidade. (Págs. 371 a
374.)
197. Treze
casos referidos pelo Sr. Scharold são descritos no artigo. O mais notável deles
se deu na casa do Sr. Reinach, deão do capítulo, onde morava uma princesa de 17
anos de idade: Mathilde de Schwartzemberg. Havia dois anos que a jovem não
conseguia andar, apesar de tratada pelos médicos mais famosos da França, da
Itália e da Áustria. O príncipe Hohenlohe perguntou-lhe se tinha fé que Jesus
poderia curá-la. Ela disse que sim. O príncipe então pediu-lhe que orasse do
fundo do coração e pusesse sua confiança em Deus. Quando terminou a oração, ele
lhe deu sua bênção e informou: “Vamos, princesa, levantai-vos; agora estais
curada e podeis andar sem dores”. (N.R.: Deão: dignitário eclesiástico;
coordenador de um grupo de párocos. Capítulo: assembleia de religiosos.) (Pág.
374.)
198. As outras
curas obtidas pelo príncipe Hohenlohe trataram de fatos diversos: surdez,
paralisia dolorosa, cegueira, aleijão na mão direita, paralisia de braço,
paralisia de perna, mudez, aleijão nas pernas, língua presa, aleijão em braços
e pernas. (Págs. 375 e 376.)
199. Em outubro
de 1866, na Sociedade Espírita de Paris, o Espírito do príncipe de Hohenlohe,
valendo-se da mediunidade do Sr. Desliens, explicou que a faculdade de que fora
dotado era, efetivamente, a mediunidade de cura: “Eu era instrumento; os
Espíritos agiam e, se algo eu pude, não foi certamente senão por meu grande
desejo de fazer o bem e pela convicção íntima que a Deus tudo é possível”.
(Pág. 377.)
200. De
referida comunicação extraímos mais os seguintes ensinamentos: I) A mediunidade
curadora foi exercida em todos os tempos e por indivíduos pertencentes às
diferentes religiões. II) A faculdade curadora pode existir em pessoas
indignas, mas não é nem poderia ser senão passageira. É um meio enérgico de
lhes abrir os olhos: tanto pior para os que teimam em conservá-los fechados.
III) Há apenas uma maneira de exercer bem a faculdade de médium curador: é
ficar modesto e puro e referir a Deus e às potências que dirigem a faculdade
tudo o que se realiza. IV) Não existe um método especial para se adquirir essa
faculdade: todo o mundo pode, em certa medida, adquiri-la e, agindo em nome de
Deus, cada um fará as suas curas. V) Os privilegiados aumentarão em número à
medida que a doutrina espírita se vulgarizar; é que haverá então mais
indivíduos animados de sentimentos puros e desinteressados. (Págs. 378 e 379.)
201. O caso da
senhorita Dumesnil, de 13 anos, uma jovem dotada da singular faculdade de
atrair a si os móveis e outros objetos postos a certa distância e, pelo simples
contato, erguer uma cadeira na qual estivesse sentada uma pessoa, é focalizado
pela Revista, que informa que vários jornais divulgaram tais fatos. Ocorre que
seus pais, pessoas pobres, imaginando ter ali uma fonte de fortuna, instalaram
a menina no Grand-Hotel, cenário ideal para a exibição pública dos seus dotes,
projeto que se frustrou porque os fenômenos não dependiam da vontade dela e só
raramente se repetiam ante o público. (Págs. 379 a 382.)
202. Kardec
conclui que a jovem era médium e, desse modo, para que os fenômenos ocorressem,
se fazia necessário o concurso dos Espíritos, sem o qual o médium mais bem
dotado nada pode obter. O codificador observa que, a rigor, nada naquele caso
atestava de modo ostensivo a intervenção dos Espíritos, a não ser a impotência
da moça de agir à sua vontade. A faculdade era dela; o exercício da faculdade
podia depender de uma vontade estranha. Era o que o desfecho do caso estava a
indicar. (Págs. 382 e 383.)
203. Em um
longo artigo sobre a presença das ideias espíritas na imprensa laica, Kardec,
após citar alguns exemplos do fato, afirma: “Por mais que digam e façam, as
ideias espíritas estão no ar; vêm à luz de qualquer maneira, sob a forma de
romances ou de pensamentos filosóficos, e a imprensa as acolhe desde que não
seja pronunciado o nome Espiritismo”. (Págs. 383 a 388.)
204. Comentando
notícia sobre as exéquias do Sr. Pagés, a quem a Igreja recusou sepultamento,
sob o pretexto de que se tratava de pessoa adepta do Espiritismo, Kardec
reproduz carta do mencionado confrade em que este explica a importância que o
Espiritismo teve em sua vida. “O Espiritismo”, escreveu ele, “me fez o efeito
de uma cortina que se levanta para nos mostrar uma decoração magnífica. Hoje
vejo claro; o futuro não é mais duvidoso e estou muito feliz.” A recusa da
Igreja afetou penosamente a população de El-Afroun, onde o Sr. Pagés, um dos
mais antigos habitantes da aldeia, era estimado por todos e, apesar disso, foi
discriminado unicamente por ser espírita. (Págs. 388 e 389.)
205. A Revista
reproduz artigo publicado na Bélgica em setembro de 1866 no qual o autor
critica de forma pejorativa Santo Agostinho e um de seus textos. Kardec deplora
o fato e lembra que, apesar de certos erros manifestos existentes em sua obra,
resultado do estado dos conhecimentos científicos de seu tempo, Santo Agostinho
“é universalmente considerado como um dos gênios, uma das glórias da
humanidade”. (Págs. 390 e 391.)
206. Na seção
de livros novos, Kardec menciona a obra Novos Princípios de Filosofia Médica,
escrita pelo Dr. Chauvet, de Tours, na qual o autor insere de forma clara o
princípio espiritualista, demonstrando a existência do princípio espiritual que
há em nós e sua conexão com o organismo. Do ponto de vista filosófico, assevera
Kardec, a obra do Dr. Chauvet era uma das primeiras aplicações à ciência
positiva das leis reveladas pelo Espiritismo e só por esse motivo tinha já seu
lugar marcado nas bibliotecas espíritas. (Págs. 391 e 392.)
207. O outro
livro referido na seção é Os Dogmas da Igreja de Cristo Explicados pelo
Espiritismo, escrito por Apolon de Boltinn, radicado na Rússia, obra
escrita com prudência, moderação, método e clareza, em que o autor faz um estudo
aprofundado das Escrituras e dos teólogos da Igreja latina e da Igreja grega.
(Págs. 392 e 393.)
208. Fechando o
número de dezembro, a Revista consigna quatro notícias: I) A retomada das
publicações da Union Spirite Bordelaise, que haviam sido
interrompidas por doença de seu diretor. II) O preparo de uma coletânea poética
produzida mediunicamente pelo Sr. Vavasseur, que logo estaria nas livrarias.
III) Um aviso sobre as renovações de assinaturas da Revista Esoírita para 1867.
IV) A notícia do falecimento de três amigos de Kardec: a sra. Dozon, o Sr.
Fournier e o Sr. D’Ambel, este último antigo diretor do jornal Avenir.
(Págs. 393 a 395.)
Respostas às
questões propostas
A. Quem foi o
príncipe Hohenlohe e por que ele se tornou famoso?
O príncipe
Hohenlohe tornou-se famoso por causa das curas que obtinha. A Revista
transcreveu do jornal La Verité, de Lyon, de 21 de outubro de 1866, um
artigo sobre as curas obtidas por ele no ano de 1829, portanto antes do advento
do Espiritismo. Em Wurtzbourg, cidade localizada na Baviera, o príncipe
invocava sobre os enfermos que o buscavam as graças divinas, e eles eram
curados de repente. Sua fama, por causa disso, espalhou-se logo e muitas curas
extraordinárias foram anotadas por testemunhas idôneas, como o Sr. Scharold,
conselheiro de legação na mencionada cidade. Treze casos referidos pelo Sr.
Scharold são descritos no artigo. O mais notável deles se deu na casa do Sr.
Reinach, deão do capítulo, onde morava uma princesa de 17 anos de idade:
Mathilde de Schwartzemberg. Havia dois anos que a jovem não conseguia andar,
apesar de tratada pelos médicos mais famosos da França, da Itália e da Áustria.
O príncipe Hohenlohe perguntou-lhe se tinha fé que Jesus poderia curá-la. Ela
disse que sim. O príncipe então pediu-lhe que orasse do fundo do coração e
pusesse sua confiança em Deus. Quando terminou a oração, ele lhe deu sua bênção
e informou: “Vamos, princesa, levantai-vos; agora estais curada e podeis andar
sem dores”. (Revista Espírita de 1866, pp. 371 a 374.)
B. Como o
príncipe, depois de haver desencarnado, explicou as curas que obtivera?
Ele referiu-se
ao assunto numa mensagem dada em outubro de 1866 na Sociedade Espírita de
Paris. Disse, então, valendo-se da mediunidade do Sr. Desliens, que a faculdade
de que fora dotado era, efetivamente, a mediunidade de cura: “Eu era
instrumento; os Espíritos agiam e, se algo eu pude, não foi certamente senão
por meu grande desejo de fazer o bem e pela convicção íntima que a Deus tudo é
possível”. (Obra citada, pp. 375 a 377.)
C. Que
ensinamentos o príncipe nos trouxe em sua mensagem?
Ele disse,
entre outras coisas, o seguinte: 1) A mediunidade curadora foi exercida em
todos os tempos e por indivíduos pertencentes às diferentes religiões. 2) A
faculdade curadora pode existir em pessoas indignas, mas não é nem poderia ser
senão passageira. É um meio enérgico de lhes abrir os olhos: tanto pior para os
que teimam em conservá-los fechados. 3) Há apenas uma maneira de exercer bem a
faculdade de médium curador: é ficar modesto e puro e referir a Deus e às
potências que dirigem a faculdade tudo o que se realiza. 4) Não existe um
método especial para se adquirir essa faculdade: todo o mundo pode, em certa
medida, adquiri-la e, agindo em nome de Deus, cada um fará as suas curas. 5) Os
privilegiados aumentarão em número à medida que a doutrina espírita se
vulgarizar; é que haverá então mais indivíduos animados de sentimentos puros e
desinteressados. (Obra citada, pp. 378 e 379.)
Observação:
Para
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