quarta-feira, 20 de novembro de 2024

 



Revista Espírita de 1867

 

Allan Kardec

 

Parte 1

 

Iniciamos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1867 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. Como deve o espírita proceder diante de seus oponentes?

B. Na aparição de um Espírito, que é que vemos realmente?

C. A prece pode aliviar os sofrimentos daquele que se encontra no mundo espiritual?

 

Texto para leitura

 

1. Abrindo o número de janeiro de 1867, Kardec pede aos seus irmãos em crença que tenham coragem e perseverança, porque se aproximava o momento das grandes provas. É nas grandes provas, diz o Codificador, que se revelam as grandes almas. E é também aí que se revelam os corações verdadeiramente espíritas, pela coragem, resignação, devotamento, abnegação e caridade de que dão exemplo. (Págs. 1 e 2.)

2. Escrevendo sobre a expansão do movimento espírita na Europa, Kardec diz que quando uma coisa está certa, e é chegado o momento de sua eclosão, ela marcha a despeito de tudo. O Espiritismo ia assim avançando, à semelhança de um curso d’água que se infiltra na terra e abre uma passagem à direita se o barram à esquerda. Um fato notório observado por Kardec é que, no seu conjunto, a marcha do Espiritismo não havia sofrido até então nenhuma parada, embora ela se tivesse tornado menos rápida. (Págs. 2 e 3.)

3. Duas grandes correntes de ideias dividiam a sociedade da época: o Espiritismo e o materialismo. Minoritário, o materialismo havia tomado grande extensão nos últimos anos. Kardec os classifica, em artigo transcrito na Revista, em diversos grupos. (Págs. 4 a 7.)

4. Kardec entendia, então, que certas pessoas, enquanto viverem, jamais aceitarão, aberta ou tacitamente, o Espiritismo, como há os que jamais aceitarão certos regimes políticos. Mas isso não importa, porque o Espiritismo marcha com o futuro e, como não se apoia em dogmas, nada tem a temer. (Págs. 7 e 8.)

5. O espírita deve, diante de seus oponentes, esforçar-se em mostrar por seu próprio exemplo o que a doutrina espírita é. Não basta dizer-se espírita. Aquele que o é de coração prova-o por seus atos. Não pregando a doutrina senão o bem, o respeito às leis, a caridade, a tolerância e a benevolência com todos, e repudiando toda violência feita à consciência alheia, aquele que não se afasta da linha traçada não pode incorrer em censuras fundadas nem em perseguições legais. É que diante do bem a própria incredulidade trocista se inclina. E é dessa forma que o Espiritismo atravessará as tempestades que serão amontoadas em sua estrada e sairá triunfante de todas elas. (Págs. 8 e 9.)

6. Um fato importante observado por Kardec diz respeito às reuniões espíritas realizadas na intimidade das famílias, as quais se haviam multiplicado consideravelmente em Paris e nas principais cidades, em razão do aumento do número de médiuns e de adeptos. O ano recém-findo viu também realizadas certas previsões feitas pelos Espíritos, como a expansão da mediunidade curadora, que se revelou em plena luz e por meio de muitas pessoas. Em certos grupos manifestavam-se numerosos casos de sonambulismo espontâneo, de mediunidade falante, de segunda vista e de outras variedades medianímicas que forneceram úteis assuntos de estudo. Não havia, pois, motivos para pessimismo. (Págs. 9 e 10.)

7. Os pensamentos espíritas corriam o mundo – afirmou Kardec, mencionando frases e comentários extraídos da imprensa laica, como a revista Siècle de 2 de dezembro de 1866. Ele examina então a popularização pela imprensa da crença na reencarnação, um dos princípios fundamentais do Espiritismo, que constitui, por si só, a negação do materialismo e do panteísmo. (Págs. 10 a 12.)

8. Outro princípio espírita – o da manifestação dos Espíritos entre os homens – também ocupou o noticiário de janeiro. Curiosamente, o padre V..., cura da igreja de Saint-Vincent de Paul, no sermão pronunciado em novembro de 1866, fazendo o elogio do patrono da paróquia, disse: “O Espírito de São Vicente de Paulo está aqui, eu o afirmo, meus irmãos: está em meio a nós; plaina sobre esta assembleia; vê-nos e nos ouve; eu o sinto perto de mim, que me inspira”. (Pág. 12.)

9. Kardec comenta essa declaração e esclarece que o fato era plenamente possível, porque o Espírito possui um corpo incorruptível, que o reveste após a morte corporal e pode, portanto, fazer-se visível. A esse corpo o Espiritismo dá o nome de perispírito, que é um dos elementos constitutivos do ser humano. Trata-se do mesmo corpo espiritual a que Paulo de Tarso alude numa de suas cartas aos coríntios. É com esse corpo que os Espíritos podem manifestar-se em nosso meio. Sobre o assunto Kardec menciona trecho de um livro sobre o magnetismo publicado em 1842 pelo Sr. Charpignon, em que o autor se reporta explicitamente ao perispírito. (Págs. 12 e 13.)

10. Sob o título Os romances espíritas, a Revista relaciona diversas obras – romances e peças – publicadas na França em que o tema central eram os fenômenos ou as ideias espíritas. Eis os romances citados no artigo: Spirite, de Théophile Gautier (romance já referido anteriormente e que recebeu no Brasil o título de O Ignorado Amor); La double vue (A dupla vista), de Elie Berthet; La seconde vie, de X. B. Saintine; Séraphita, de Balzac; Consuelo, Drag e Comfesse de Rudolfstade, de George Sand; Histoires de l’ autre monde, racontées par des Esprits, do Sr. de Germonville; Nouveaux Mystères de Paris, de Aurélien Scholl; e L’Assassinat du Pont-Rouge (O Assassinato da Ponte-Vermelha), de Charles Barbara. (Págs. 14 a 21.)

11. Quem lê o romance do Sr. Charles Barbara imagina que ele tenha sido espírita fervoroso. Entretanto não o era. Barbara morreu numa casa de saúde, ao atirar-se pela janela num acesso de febre cerebral. Fora um suicídio, atenuado pelas circunstâncias, assunto a que o próprio Barbara se referiu em uma comunicação dada na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas pouco tempo depois de seu falecimento. (Pág. 21.)

12. Na comunicação, transmitida a 19/10/1866 por meio do Sr. Morin, Barbara disse que ainda se encontrava perturbado, especialmente pelo fato de ter buscado no suicídio o fim de seus sofrimentos na Terra. E confessou que não conhecia o Espiritismo quando escreveu o romance. Ele, aliás, quando encarnado, ria das teses espíritas, o que agora lamentava, arrependido. “Não duvideis, senhores – explicou Charles Barbara –: muitos escritores são, muitas vezes, instrumentos inconscientes para a propagação das ideias que as forças invisíveis julgam úteis ao progresso da humanidade. Não vos admireis, pois, de os ver escrever sobre o Espiritismo sem nele crer: para eles é um assunto como qualquer outro, que se presta ao efeito, e não suspeitam que a ele sejam levados mau grado seu.” Concluindo, Charles Barbara pediu: “Orai por mim, senhores, porque a prece é um bálsamo inefável. A prece é a caridade que se deve fazer aos infelizes do outro mundo, dos quais sou um”. (Págs. 21 a 23.)

13. A Revista transcreve dois artigos publicados pelos periódicos France, de 14/9/1866, e Evénement, de 26/8/1866, em que são tecidas considerações depreciativas acerca dos espiritistas. O primeiro chegou até a fazer um retrato físico do espírita-padrão, que teria a pele pálida e os olhos perdidos num vago oceânico, além de cabelos curtos, se mulher, e longos, se homens. O segundo destaca os erros ortográficos cometidos pelo Espírito de Lamennais e a ignorância de Cervantes. Kardec diz que não devemos perder tempo com críticas desse quilate. “Seria – diz o Codificador – trabalho inútil refutar coisas que se refutam por si mesmas.” (Págs. 23 a 26.)

 

Respostas às questões propostas

 

A. Como deve o espírita proceder diante de seus oponentes?

Deve esforçar-se em mostrar por seu próprio exemplo o que a doutrina espírita é. Não basta dizer-se espírita. Aquele que o é de coração prova-o por seus atos. Não pregando a doutrina senão o bem, o respeito às leis, a caridade, a tolerância e a benevolência com todos, e repudiando toda violência feita à consciência alheia, aquele que não se afasta da linha traçada não pode incorrer em censuras fundadas nem em perseguições legais. É que diante do bem a própria incredulidade trocista se inclina. E é dessa forma que o Espiritismo atravessará as tempestades que serão amontoadas em sua estrada e sairá triunfante de todas elas. (Revista Espírita de 1867, pp. 7 a 9.)

B. Na aparição de um Espírito, que é que vemos realmente?

Vemos o seu corpo espiritual, a que Paulo de Tarso alude numa de suas cartas aos Coríntios. É com esse corpo que os Espíritos podem manifestar-se em nosso meio. Diz Kardec que o Espírito possui um corpo incorruptível, que o reveste após a morte corporal e pode, portanto, fazer-se visível. A esse corpo o Espiritismo dá o nome de perispírito, que é um dos elementos constitutivos do ser humano. (Obra citada, pp. 12 e 13.) 

C. A prece pode aliviar os sofrimentos daquele que se encontra no mundo espiritual?

Sim. Segundo os Espíritos, a prece é um bálsamo inefável; é a caridade que se deve fazer aos infelizes do outro mundo. (Obra citada, pp. 22 e 23.) 

 

 

 

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