Desde que o tema mundo de regeneração passou a ser um
assunto frequente nos congressos e conferências espíritas, muitos nos
perguntam: 1.) Allan Kardec chegou a tratar desse tema em suas obras? 2.) As
mudanças por que passará a Terra realizar-se-ão sem comoções?
A resposta à primeira pergunta é afirmativa. O
Codificador da doutrina espírita referiu-se aos tempos novos em vários
momentos, tanto na Revista Espírita
como em sua última obra, intitulada A Gênese,
os Milagres e as Predições segundo O Espiritismo.
Quanto à segunda pergunta – as mudanças ocorrerão sem
comoções? – a resposta é não. Apoiamo-nos, ao dizer isso, no que Kardec
consignou no cap. XVIII, itens 6
a 8, da obra mencionada.
Uma mudança tão radical como a que se está elaborando
não pode realizar-se sem comoções. Haverá, inevitavelmente, luta de ideias e
desse conflito forçosamente se originarão passageiras perturbações, até que o
terreno se ache aplainado e restabelecido o equilíbrio.
Entendamos, no entanto, que é da luta das ideias que
surgirão os graves acontecimentos preditos, e não de cataclismos ou catástrofes
puramente materiais. Os cataclismos gerais foram e ainda são consequência do
estado de formação e aprimoramento da Terra. Existe, porém, um outro tipo de
agitação, pertinente não às entranhas do planeta, mas à própria Humanidade. Os
movimentos sociais e políticos que vêm agitando os países árabes são uma
pequena amostra disso.
Diz Kardec que a efervescência que por vezes se manifesta
em toda uma população, entre os homens de uma mesma etnia, não é coisa
fortuita, nem resultado de um capricho, pois tem sua causa nas leis da
Natureza. Essa efervescência, inconsciente a princípio, não passando de vago
desejo, de aspiração indefinida por alguma coisa melhor, de certa necessidade
de mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que levam às
revoluções sociais, que têm também sua periodicidade, como as revoluções
físicas, pois que tudo se encadeia no Universo.
Se não tivéssemos a visão espiritual limitada pelo véu
da matéria, veríamos as correntes fluídicas que, como milhares de fios
condutores, ligam as coisas do mundo espiritual às do mundo material.
Em face disso, quando se diz que a Humanidade chegou a
um período de transformação e que a Terra tem de se elevar na hierarquia dos
mundos, nada de místico há nessas palavras. Trata-se, ao contrário, da execução
da uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais nada pode a
má-vontade humana.
O único erro – aliás, lamentável erro – é deduzir que
o processo de construção do mundo de regeneração seja concluído no século em
que vivemos, porque centenas de anos, com toda a certeza, transcorrerão até que
a Terra possa usufruir as benesses inerentes à sua nova condição, após
milhares de anos como um singelo mundo de provas e expiações.
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