terça-feira, 21 de outubro de 2014

As respostas vêm de formas variadas


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

Certa tarde, um jovem rapaz ficou de frente para a imensidão do mar e, com a água, mansa, morninha e clara que molhava seus pés, fez a seguinte pergunta, em voz serena, mas desejosa de uma resposta:
– O que a vida me reserva?
E o som ecoou pelo infinito.
Nenhuma resposta veio pelo vento contínuo que soprava, e ele tornou a perguntar:
– Por favor, vida, o que você me reserva?
Ecoou novamente.
E o jovem abriu os braços e fechou os olhos, talvez assim estivesse mais apto a ouvir e compreender uma resposta. Aguardou uns segundos, somando-se a breves minutos. Em seus pés sentiu algo e assustou-se por imaginar que pudesse ser algum dos seres do mar que, mais por defesa, pudesse machucá-lo.
Olhou rápido e identificou uma garrafa com uma rolha bem fincada e um papel, feito um pergaminho, em seu interior com o lado das palavras enrolado para dentro, impossibilitando a leitura do texto.
A curiosidade pelo objeto e ainda mais pelo que estava dentro levou o jovem a buscar, em sua casa, um tipo de ferramenta para poder retirar a rolha emperrada. Com jeito e determinação, conseguiu removê-la e com um fino arame com a ponta curvada, facilitou a retirada do papel que estava intacto e totalmente sequinho.
Na casa, havia somente ele. O pai, pescador, estava no mercado de peixes; a mãe cuidava, em cada dia da semana, de uma residência, era faxineira; o irmão mais novo se encontrava na escola.
Então, o jovem colocou a garrafa em pé no cantinho da porta e, já com o papel na mão, sentou-se à mesa.
Com tanta simplicidade e cuidado, o rapaz devagar, começou a desenrolar o amarelado papel e escrito com a caligrafia que transmitia bondade e amor. A primeira linha iniciava-se por um vocativo carinhoso:

“Meu caro leitor”...

E as palavras continuaram:

“Estas são algumas palavras escritas por alguém que muito já viveu e tantos exemplos, alguns bons e outros nem tanto assim, assimilou e também deixou, impressos, nas cenas da vida. Sou Cécile Tournier, tenho 83 anos, presenciei acontecimentos que até hoje me emocionam por tanta ternura; por outros, sinto enorme pesar pela maldade e ignorância com a qual a humanidade ainda nos surpreende. No entanto, sinto imensa alegria pelo número bem maior de pessoas boas ter passado por minha vida. Graças a Deus que os casos infelizes nos inquietam e tanto perturbam, pois nos melhoramos muito com relação à era dos gladiadores frios e calculistas; estamos com mais sentimento amoroso e benéfico. A luz de Jesus cada vez mais ilumina um número maior de irmãos necessitados, a fé aumenta e o amparo também.
Vi montanhas que escondiam o sol e deixavam passar apenas os raios dourados iluminando a paisagem divina; abracei pessoas tão amadas... e simples... e bondosas; colhi frutas doces oferecidas pela natureza; peguei crianças no colo e renovei minha energia com essas pequenas criaturas adoráveis; vivenciei histórias tão profundas e emocionantes com pessoas conhecidas e tantas mais com desconhecidas que até hoje as trago na memória; aprendi infinitas palavras novas com as muitas leituras verídicas e outras ficcionais quase tão verdadeiras quanto; vi a chuva e o sol; contemplei a lua e as estrelas; apaixonei-me perdidamente por várias pessoas com atitudes e sentimentos tão nobres, mas quem amei de fato ainda hoje está em meu coração; experimentei comidas que me levaram a tempos passados e a países europeus tão desejados hoje; vi olhos lacrimejados de dor e em alguns deles pude abraçar com tanta comoção e carinho e em muitos outros somente emiti meu sentimento amoroso, não era possível pela distância; convivi com alguns animaizinhos cuja ternura era toda sua essência... e como os amei; tive amigos jovens e velhos, alguns idosos de pensamentos bem mais novos que os jovens de idade, no entanto, cada amigo meu com sua grandeza incomparável... e como os amo; minha família... com seres tão queridos em companhia na estrada, progresso dos dias, familiares de mais idade que, na verdade, eram crianças para cuidar; tanto mais há para agradecer.
Minha mão está um pouco cansada, então, começo por encerrar essas palavras do fundo d'alma.
Entretanto, quem receber esse sentimento escrito em prosa, mas com sentido de poesia, repense a vida e coloque nela o maior amor que seu coração puder sentir. A vida nos é o mais lindo presente.
E a vida, caro leitor amigo, sempre nos reserva a grandeza em sua simplicidade. Teremos o que nela buscarmos, simples assim. As respostas serão dadas, algumas vezes, de forma mais direta e bem clara e em outras, de maneira mais implícita exigindo maior atenção, porém as respostas sempre chegam. 
O tesouro é viver a própria vida com o melhor a realizar; querer mudar só se for o próprio eu; nem se importar com a opinião alheia, pois a consciência sempre mostrará o caminho do sim e o do não para a harmonia interior; ajudar tantos quanto puder, mas sem se prejudicar... somos o maior responsável por nós.
Vou me recostar um pouco e vou encerrar.
Meu caro leitor, a vida é esplêndida e simples.
Seja você mesmo, respeite sempre e ame muito.
Com grande carinho.
Cécile Tournier
24/05/1967”

O jovem estava com os olhos rasos da lágrima do agradecimento. Quanto pediu uma resposta e tão completa lhe chegou. A grandeza da vida, mais uma vez, lhe apresentara. Reunira todo aprendizado e energia vital daquele sentimento e poria, a partir de agora, no caminho de sua existência.
– Obrigado, Senhor. Tão onipotente e incomparável é o Senhor. Está presente em todos os lugares e tudo sabe e observa. Obrigado, Senhor.
Com delicadeza, enrolou o pergaminho como estava e colocou-o na garrafa. Tão agradecido, voltou à beira do mar e a lançou.
– Que possa chegar a alguém que a espera. Vá em paz!
E o jovem falou com voz forte e feliz.
Era quase pôr do sol, ele olhou para o laranja do horizonte e seu coração estava mudado e fortalecido com tanta vontade de viver. Certamente a vida lhe reservaria o reflexo de todas as suas ações, palavras, sentimentos e pensamentos e tudo de magnífico que naturalmente a vida possui.
As respostas estão presentes o tempo todo; é a atenção do observador que precisa estar concentrada, receptiva e em equilíbrio com o bem para compreender toda a dádiva da orientação concedida.

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