sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Iniciação aos clássicos espíritas




Memórias do Padre Germano

Amalia Domingo Soler

Parte 7

Continuamos o estudo metódico e sequencial do livro Memórias do Padre Germano, com base na 21ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo constitua para o leitor uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte compõe-se de:
1) questões preliminares;
2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto indicado para leitura. 

Questões preliminares

A. Padre Germano tornou-se cético com respeito ao valor das religiões?
B. A reencarnação fazia parte das crenças do Padre Germano?
C. Germano concordou com a comercialização da Fonte da Saúde, pretendida pela Igreja?
D. Dois grandes princípios Padre Germano aprendeu com as religiões. Quais são eles?
E. Quem era o menino André e como ele surgiu na vida do Padre Germano?

Texto para leitura

68. O cap. 15, intitulado “Para Deus Nunca é Tarde”, mostra as vacilações de Rodolfo e a importância de Maria na renovação dos hábitos do rapaz, que, como sabemos, sempre fora muito apegado à sensualidade e aos desejos da carne. Maria aproveitou o momento certo para, na presença do Padre, dizer a Rodolfo que ele tudo reduzia à sensualidade, quando o apetite da carne é, dos agentes da Natureza, “o que deve ocupar o mais limitado tempo dos trabalhos”. (P. 158)
69. As palavras de Maria, plenas de fé na imortalidade e na Providência Divina, reanimaram tanto o rapaz que ele, sorrindo prazeroso, perguntou: “E que devo fazer para começar minha tarefa?” “Olhai – replicou Maria –, hoje mesmo tive uma ideia: vi uma pobre mulher extenuada de fadiga, com três filhinhos que a acompanham na sua miséria. A pobrezinha, a julgar pela aparência, pouco poderá viver na Terra... Que será dessas pobres criancinhas se a caridade lhes não der generoso abrigo e assistência? Levantemos, pois, um asilo para os órfãos pobres: – a mais pequena das vossas joias, o broche mais simples do vosso manto, valerá muito mais do que o terreno necessário para tal fim”. (PP. 160 e 161)
70. Rodolfo concordou de imediato com a proposta e prometeu ajudá-la, pondo à sua disposição seus avultados haveres. “Farei quanto quiserdes – afirmou-lhe o moço – porque tenho, como dizeis, frio nalma e quero cobrir-me com o divino manto do amor...” (PP. 161)
71. No cap. 16, designado “O Melhor Templo”, Padre Germano transcreve, pesaroso, carta de seus superiores em que estes lhe sugerem a comercialização em favor da Igreja da água que jorrava da Fonte da Saúde e a reedificação da velha igreja. Esse fato o levou a ser um cético no tocante ao valor das religiões, de que ele dizia: “No início, todas [as religiões] são lagos cristalinos; depois, convertem-se em pântanos lodosos, porque penetra nelas a exploração das misérias humanas...”. (PP. 162 e 163)
72. Na resposta que enviou aos seus superiores, Padre Germano foi enfático: “Templos de terra, efêmeros como tudo que é terreno, não darei um passo para os edificar, porque, sob as suas abóbadas, o homem sente frio!” E aditou: “Cristo escolheu, antes, o cume dos montes e os frágeis barquinhos para neles fazer suas prédicas, provando-nos, assim, que a cátedra do Espírito Santo não necessita de lugares privilegiados; que, para anunciar aos homens o reino da verdade, na época da justiça, bastava haver apóstolos do Evangelho”. (P. 165)
73. Na sequência da carta, Padre Germano foi bastante claro: “Não espereis que eu dê um passo para reedificar minha velha igreja, pois cogito de levantar outros templos mais duradouros. Sabeis quais são? – São os Espíritos dos meus paroquianos, as almas simples destes camponeses, que hão de regressar à Terra tantas vezes quantas forem necessárias ao progresso do seu Espírito”. (P. 165)
74. Fechando sua resposta, Padre Germano acrescentou: “Se me for possível, antes de partir deste vale de lágrimas, hei de construir uma casa, não para Deus, que de casas prescinde, mas para os pobres, para os mendigos atribulados, para as crianças órfãs, para os velhos enfermos, para todos, em suma, que padeçam do alquebramento do corpo ou do espírito”. (P. 166)
75. No cap. 17, sugestivamente denominado “Uma Vítima de Menos”, Padre Germano conta como livrou da clausura a jovem Angelina, filha de antiga pecadora que, vez por outra, lhe vinha confessar seus pecados, fazendo constante propósito de se emendar, mas reincidindo sempre neles, visto como o que se aprende na infância não se esquece nem na velhice. (P. 168)
76. A Condessa A..., mulher sem coração, tivera um caso com o Marquês B..., do qual nasceu Angelina. Mentindo ao pai a respeito da filha, a Condessa internou-a num convento e desejava, como resgate de seus erros, que a moça concordasse com a vida de clausura. Para convencê-la, viera rogar os serviços do Padre Germano, mediante régia recompensa. (PP. 169 a 171)
77. O Padre ficou com a jovem, a quem ele pretendia salvar de tão cruel destino, enquanto sua mãe retornou à sua casa. Ato contínuo, Germano foi ao encontro do Marquês B..., a quem, além de apresentar a filha tida como morta, explicou toda a história e a pretensão da Condessa. O reencontro de pai e filha foi comovente. Impossível descrever o júbilo dos dois, que seguiram para a Espanha, onde a jovem poderia, junto com o pai que a estimava, dar início a uma nova vida. (PP. 173 e 174)
78. Após chamar a Condessa à igreja, Padre Germano deu-lhe ciência do desfecho do caso, falando-lhe com toda a severidade. Hostil, a princípio, a mulher acabou sucumbindo às palavras do pároco e clamou por piedade. “Tranquilizai-vos, infeliz mulher, segui vossa vida de agonias – respondeu-lhe o Padre –; sois bem digna de compaixão, visto que não há na Terra uma só criatura que possa abençoar-vos. Continuai a erigir casas de oração, mas não vos esqueçais de que as orações por vós compradas nada aproveitam ao repouso da vossa alma. Esta tem muito que gemer, porque os que com ferro ferem com ferro serão feridos”. (PP. 176 e 177)
79. “O Verdadeiro Sacerdócio” é o título do cap. 18, que se reporta ao dia em que Padre Germano completou vinte e cinco anos de idade, um jovem sacerdote que já entendia que o convento não é mais do que um sepulcro, onde fora iniciado numa religião de gelo, a contrastar com o fogo de um sagrado amor que sentia em sua alma, (P. 179)
80. Depois de ler muito, embora não tudo o que gostaria de ter lido (porquanto os seus superiores não permitiam que ele lesse certos livros, avaramente guardados no convento), Padre Germano diz ter aprendido com as religiões dois grandes princípios: primeiro, não há mais que um Deus, como não há mais que um culto; segundo, fazer o bem pelo mesmo bem. Mas reconhecia também, embora tarde, que a religião católica mortifica o corpo sem alevantar a alma, visto que pede o absurdo, o impossível, o truncamento das leis naturais, um sacrifício superior às fracas forças, como a reclusão, a soledade completa, ou seja, o aniquilamento do ser. (PP. 179 a 181)
81. “A religião a que pertenço – diz Germano –, sublime na sua teoria, tanto quanto mesquinha e absurda na sua prática, necessita de representantes dignos, de verdadeiros sacerdotes, e estes... desgraçadamente escasseiam, visto que aos homens não se lhes pode pedir coisas impossíveis.” “Há sacerdotes que são maus, porque são vítimas dos seus apetites carnais, tanto quanto das suas ambições, quando o homem deve ser superior a todos os vícios, uma vez que, para isso, o dotou Deus com a inteligência.” Dizendo isso, Germano confessa que quer, ao deixar a Terra, levar alguma coisa e, por isso, cingirá não a coroa de flores, mas a de espinhos, para que as gotas de sangue que manarem de suas feridas sejam o batismo sagrado de sua regeneração. (PP. 181 e 182)
82. Nessa mesma época, um homem muito rico, enviado por seus superiores, procurou Germano para pedir-lhe fosse o preceptor de seus filhos e confessor de sua esposa. Após quinze dias de convivência naquele palacete, o Padre admitiu apenas ser o preceptor dos meninos, sem contudo ficar preso àquelas paredes, porquanto não viera ao mundo para servir aos ricos, mas aos pobres. Quanto a ser confessor da esposa, ninguém melhor do que o marido para aconselhar sua mulher. (P. 184 e 185)
83. Na verdade, a recusa a ouvir a mulher em confissão tinha um outro motivo: a infeliz vivia só; o marido não a compreendia, nem a estimava. Por isso, Germano fugiu dela, sedenta que estava de felicidade e de amor. “Não convém – assevera o Padre – que os famintos de carinho estejam em contacto com os que, por sua vez, têm fome e sede de ternura.” (P. 185)
84. Retirando-se dali, sem nenhum recurso, Germano acudiu uma jovem leprosa que, em humilde barraca, dava à luz um menino. Chamava-se Madalena, que apenas pôde confiar ao Padre o filho que ela não poderia criar, porque em seguida expirou. O Padre Germano percebeu que um homem ainda moço chorava ante aquela cena comovente, e perguntou-lhe: “Queres ter, provisoriamente, mais um filho? Digo provisoriamente, porque, uma vez passado o período da amamentação, virei buscá-lo”. Duas horas depois, o menino era entregue à sua nova família. (P. 186 e 187)
85. Cinco anos depois, o menino André e o Sultão, o valoroso companheiro de Germano, eram o consolo daqueles dias em que Padre Germano experimentava inúmeras calúnias e as dores da expatriação. Por essa ocasião, morreu o magnata que tentara contratá-lo cinco anos antes, o qual o nomeou tutor e curador dos seus filhos, encarregando-o de velar por sua jovem viúva. (PP. 187 e 188) (Continua na próxima edição.)

Respostas às questões preliminares

A. Padre Germano tornou-se cético com respeito ao valor das religiões?
Sim. O fato que o levou ao ceticismo com relação às religiões foi o desejo de seus superiores de comercializar em favor da Igreja a água que jorrava da Fonte da Saúde, tida como milagrosa pelos fiéis da região. Germano escreveu: “No início, todas [as religiões] são lagos cristalinos; depois, convertem-se em pântanos lodosos, porque penetra nelas a exploração das misérias humanas...”. (Memórias do Padre Germano, pp. 162 e 163.)
B. A reencarnação fazia parte das crenças do Padre Germano?
Sim, e ele não ocultava seu pensamento até mesmo ante seus superiores, aos quais escreveu dizendo que seus paroquianos, as almas simples daquela pequena comunidade, haveriam de regressar à Terra tantas vezes quantas fossem necessárias ao progresso de seus Espíritos. (Obra citada, pág. 165.)
C. Germano concordou com a comercialização da Fonte da Saúde, pretendida pela Igreja?
Não. Sua resposta aos superiores foi bem clara: “Templos de terra, efêmeros como tudo que é terreno, não darei um passo para os edificar, porque, sob as suas abóbadas, o homem sente frio!” E aditou: “Cristo escolheu, antes, o cume dos montes e os frágeis barquinhos para neles fazer suas prédicas, provando-nos, assim, que a cátedra do Espírito Santo não necessita de lugares privilegiados; que, para anunciar aos homens o reino da verdade, na época da justiça, bastava haver apóstolos do Evangelho”. Fechando sua resposta, Padre Germano acrescentou: “Se me for possível, antes de partir deste vale de lágrimas, hei de construir uma casa, não para Deus, que de casas prescinde, mas para os pobres, para os mendigos atribulados, para as crianças órfãs, para os velhos enfermos, para todos, em suma, que padeçam do alquebramento do corpo ou do espírito”. (Obra citada, pp. 165 e 166.)    
D. Dois grandes princípios Padre Germano aprendeu com as religiões. Quais são eles?
O primeiro: não há mais que um Deus, como não há mais que um culto. O segundo: devemos fazer o bem pelo próprio bem. Ele reconhecia, no entanto, que a religião católica mortifica o corpo sem alevantar a alma, visto que pede o absurdo, o impossível, o truncamento das leis naturais, um sacrifício superior às fracas forças, como a reclusão, a soledade completa, ou seja, o aniquilamento do ser. (Memórias do Padre Germano, pp. 179 a 181.)
E. Quem era o menino André e como ele surgiu na vida do Padre Germano?
André era filho de Madalena, uma jovem leprosa que, vivendo em humilde barraca, logo que deu à luz o menino, expirou. Antes, porém, de desencarnar, ela confiou o filho ao Padre Germano. O menino André e Sultão, o valoroso companheiro de Germano, passaram a ser, então, o consolo daqueles dias em que Germano experimentava inúmeras calúnias e as dores da expatriação. (Obra citada, pp. 186 a 188.)

Nota:
Links que remetem aos 3 textos anteriores:





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