Memórias do
Padre Germano
Amalia Domingo Soler
Parte 7
Continuamos o estudo metódico e sequencial do livro Memórias do Padre Germano, com base na
21ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo constitua para o
leitor uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte compõe-se de:
1) questões preliminares;
2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões apresentadas
encontram-se no final do texto indicado para leitura.
Questões preliminares
A. Padre Germano tornou-se cético com respeito ao valor das
religiões?
B. A reencarnação fazia parte das crenças do Padre Germano?
C. Germano concordou com a comercialização da Fonte da
Saúde, pretendida pela Igreja?
D. Dois grandes princípios Padre Germano aprendeu com as
religiões. Quais são eles?
E. Quem era o menino André e como ele surgiu na vida do
Padre Germano?
Texto para
leitura
68. O cap. 15, intitulado “Para Deus Nunca é Tarde”, mostra
as vacilações de Rodolfo e a importância de Maria na renovação dos hábitos do
rapaz, que, como sabemos, sempre fora muito apegado à sensualidade e aos
desejos da carne. Maria aproveitou o momento certo para, na presença do Padre,
dizer a Rodolfo que ele tudo reduzia à sensualidade, quando o apetite da carne
é, dos agentes da Natureza, “o que deve ocupar o mais limitado tempo dos
trabalhos”. (P. 158)
69. As palavras de Maria, plenas de fé na imortalidade e na
Providência Divina, reanimaram tanto o rapaz que ele, sorrindo prazeroso,
perguntou: “E que devo fazer para começar minha tarefa?” “Olhai – replicou
Maria –, hoje mesmo tive uma ideia: vi uma pobre mulher extenuada de fadiga,
com três filhinhos que a acompanham na sua miséria. A pobrezinha, a julgar pela
aparência, pouco poderá viver na Terra... Que será dessas pobres criancinhas se
a caridade lhes não der generoso abrigo e assistência? Levantemos, pois, um
asilo para os órfãos pobres: – a mais pequena das vossas joias, o broche mais
simples do vosso manto, valerá muito mais do que o terreno necessário para tal
fim”. (PP. 160 e 161)
70. Rodolfo concordou de imediato com a proposta e prometeu
ajudá-la, pondo à sua disposição seus avultados haveres. “Farei quanto
quiserdes – afirmou-lhe o moço – porque tenho, como dizeis, frio nalma e quero
cobrir-me com o divino manto do amor...” (PP. 161)
71. No cap. 16, designado “O Melhor Templo”, Padre Germano
transcreve, pesaroso, carta de seus superiores em que estes lhe sugerem a
comercialização em favor da Igreja da água que jorrava da Fonte da Saúde e a
reedificação da velha igreja. Esse fato o levou a ser um cético no tocante ao
valor das religiões, de que ele dizia: “No início, todas [as religiões] são
lagos cristalinos; depois, convertem-se em pântanos lodosos, porque penetra
nelas a exploração das misérias humanas...”. (PP. 162 e 163)
72. Na resposta que enviou aos seus superiores, Padre
Germano foi enfático: “Templos de terra, efêmeros como tudo que é terreno, não
darei um passo para os edificar, porque, sob as suas abóbadas, o homem sente
frio!” E aditou: “Cristo escolheu, antes, o cume dos montes e os frágeis
barquinhos para neles fazer suas prédicas, provando-nos, assim, que a cátedra
do Espírito Santo não necessita de lugares privilegiados; que, para anunciar
aos homens o reino da verdade, na época da justiça, bastava haver apóstolos do
Evangelho”. (P. 165)
73. Na sequência da carta, Padre Germano foi bastante
claro: “Não espereis que eu dê um passo para reedificar minha velha igreja,
pois cogito de levantar outros templos mais duradouros. Sabeis quais são? – São
os Espíritos dos meus paroquianos, as almas simples destes camponeses, que hão
de regressar à Terra tantas vezes quantas forem necessárias ao progresso do seu
Espírito”. (P. 165)
74. Fechando sua resposta, Padre Germano acrescentou: “Se
me for possível, antes de partir deste vale de lágrimas, hei de construir uma
casa, não para Deus, que de casas prescinde, mas para os pobres, para os
mendigos atribulados, para as crianças órfãs, para os velhos enfermos, para
todos, em suma, que padeçam do alquebramento do corpo ou do espírito”. (P. 166)
75. No cap. 17, sugestivamente denominado “Uma Vítima de
Menos”, Padre Germano conta como livrou da clausura a jovem Angelina, filha de
antiga pecadora que, vez por outra, lhe vinha confessar seus pecados, fazendo
constante propósito de se emendar, mas reincidindo sempre neles, visto como o
que se aprende na infância não se esquece nem na velhice. (P. 168)
76. A Condessa A..., mulher sem coração, tivera um caso com
o Marquês B..., do qual nasceu Angelina. Mentindo ao pai a respeito da filha, a
Condessa internou-a num convento e desejava, como resgate de seus erros, que a
moça concordasse com a vida de clausura. Para convencê-la, viera rogar os
serviços do Padre Germano, mediante régia recompensa. (PP. 169 a 171)
77. O Padre ficou com a jovem, a quem ele pretendia salvar
de tão cruel destino, enquanto sua mãe retornou à sua casa. Ato contínuo,
Germano foi ao encontro do Marquês B..., a quem, além de apresentar a filha
tida como morta, explicou toda a história e a pretensão da Condessa. O
reencontro de pai e filha foi comovente. Impossível descrever o júbilo dos
dois, que seguiram para a Espanha, onde a jovem poderia, junto com o pai que a
estimava, dar início a uma nova vida. (PP. 173 e 174)
78. Após chamar a Condessa à igreja, Padre Germano deu-lhe
ciência do desfecho do caso, falando-lhe com toda a severidade. Hostil, a
princípio, a mulher acabou sucumbindo às palavras do pároco e clamou por
piedade. “Tranquilizai-vos, infeliz mulher, segui vossa vida de agonias – respondeu-lhe
o Padre –; sois bem digna de compaixão, visto que não há na Terra uma só
criatura que possa abençoar-vos. Continuai a erigir casas de oração, mas não
vos esqueçais de que as orações por vós compradas nada aproveitam ao repouso da
vossa alma. Esta tem muito que gemer, porque os que com ferro ferem com ferro
serão feridos”. (PP. 176 e 177)
79. “O Verdadeiro Sacerdócio” é o título do cap. 18, que se
reporta ao dia em que Padre Germano completou vinte e cinco anos de idade, um
jovem sacerdote que já entendia que o convento não é mais do que um sepulcro,
onde fora iniciado numa religião de gelo, a contrastar com o fogo de um sagrado
amor que sentia em sua alma, (P. 179)
80. Depois de ler muito, embora não tudo o que gostaria de
ter lido (porquanto os seus superiores não permitiam que ele lesse certos
livros, avaramente guardados no convento), Padre Germano diz ter aprendido com
as religiões dois grandes princípios: primeiro, não há mais que um Deus, como
não há mais que um culto; segundo, fazer o bem pelo mesmo bem. Mas reconhecia
também, embora tarde, que a religião católica mortifica o corpo sem alevantar a
alma, visto que pede o absurdo, o impossível, o truncamento das leis naturais,
um sacrifício superior às fracas forças, como a reclusão, a soledade completa,
ou seja, o aniquilamento do ser. (PP. 179 a 181)
81. “A religião a que pertenço – diz Germano –, sublime na
sua teoria, tanto quanto mesquinha e absurda na sua prática, necessita de
representantes dignos, de verdadeiros sacerdotes, e estes... desgraçadamente
escasseiam, visto que aos homens não se lhes pode pedir coisas impossíveis.”
“Há sacerdotes que são maus, porque são vítimas dos seus apetites carnais,
tanto quanto das suas ambições, quando o homem deve ser superior a todos os
vícios, uma vez que, para isso, o dotou Deus com a inteligência.” Dizendo isso,
Germano confessa que quer, ao deixar a Terra, levar alguma coisa e, por isso,
cingirá não a coroa de flores, mas a de espinhos, para que as gotas de sangue
que manarem de suas feridas sejam o batismo sagrado de sua regeneração. (PP.
181 e 182)
82. Nessa mesma época, um homem muito rico, enviado por
seus superiores, procurou Germano para pedir-lhe fosse o preceptor de seus
filhos e confessor de sua esposa. Após quinze dias de convivência naquele
palacete, o Padre admitiu apenas ser o preceptor dos meninos, sem contudo ficar
preso àquelas paredes, porquanto não viera ao mundo para servir aos ricos, mas
aos pobres. Quanto a ser confessor da esposa, ninguém melhor do que o marido
para aconselhar sua mulher. (P. 184 e 185)
83. Na verdade, a recusa a ouvir a mulher em confissão
tinha um outro motivo: a infeliz vivia só; o marido não a compreendia, nem a
estimava. Por isso, Germano fugiu dela, sedenta que estava de felicidade e de
amor. “Não convém – assevera o Padre – que os famintos de carinho estejam em
contacto com os que, por sua vez, têm fome e sede de ternura.” (P. 185)
84. Retirando-se dali, sem nenhum recurso, Germano acudiu
uma jovem leprosa que, em humilde barraca, dava à luz um menino. Chamava-se
Madalena, que apenas pôde confiar ao Padre o filho que ela não poderia criar,
porque em seguida expirou. O Padre Germano percebeu que um homem ainda moço
chorava ante aquela cena comovente, e perguntou-lhe: “Queres ter,
provisoriamente, mais um filho? Digo provisoriamente, porque, uma vez passado o
período da amamentação, virei buscá-lo”. Duas horas depois, o menino era
entregue à sua nova família. (P. 186 e 187)
85. Cinco anos depois, o menino André e o Sultão, o
valoroso companheiro de Germano, eram o consolo daqueles dias em que Padre
Germano experimentava inúmeras calúnias e as dores da expatriação. Por essa
ocasião, morreu o magnata que tentara contratá-lo cinco anos antes, o qual o
nomeou tutor e curador dos seus filhos, encarregando-o de velar por sua jovem
viúva. (PP. 187 e 188) (Continua na próxima
edição.)
Respostas às
questões preliminares
A. Padre
Germano tornou-se cético com respeito ao valor das religiões?
Sim. O fato que o levou ao ceticismo com relação às
religiões foi o desejo de seus superiores de comercializar em favor da Igreja a
água que jorrava da Fonte da Saúde, tida como milagrosa pelos fiéis da região.
Germano escreveu: “No início, todas [as religiões] são lagos cristalinos;
depois, convertem-se em pântanos lodosos, porque penetra nelas a exploração das
misérias humanas...”. (Memórias do Padre
Germano, pp. 162 e 163.)
B. A
reencarnação fazia parte das crenças do Padre Germano?
Sim, e ele não ocultava seu pensamento até mesmo ante seus
superiores, aos quais escreveu dizendo que seus paroquianos, as almas simples
daquela pequena comunidade, haveriam de regressar à Terra tantas vezes quantas
fossem necessárias ao progresso de seus Espíritos. (Obra citada, pág. 165.)
C. Germano
concordou com a comercialização da Fonte da Saúde, pretendida pela Igreja?
Não. Sua resposta aos superiores foi bem clara: “Templos de
terra, efêmeros como tudo que é terreno, não darei um passo para os edificar,
porque, sob as suas abóbadas, o homem sente frio!” E aditou: “Cristo escolheu,
antes, o cume dos montes e os frágeis barquinhos para neles fazer suas
prédicas, provando-nos, assim, que a cátedra do Espírito Santo não necessita de
lugares privilegiados; que, para anunciar aos homens o reino da verdade, na época
da justiça, bastava haver apóstolos do Evangelho”. Fechando sua resposta, Padre
Germano acrescentou: “Se me for possível, antes de partir deste vale de
lágrimas, hei de construir uma casa, não para Deus, que de casas prescinde, mas
para os pobres, para os mendigos atribulados, para as crianças órfãs, para os
velhos enfermos, para todos, em suma, que padeçam do alquebramento do corpo ou
do espírito”. (Obra citada, pp. 165 e 166.)
D. Dois grandes
princípios Padre Germano aprendeu com as religiões. Quais são eles?
O primeiro: não há mais que um Deus, como não há mais que
um culto. O segundo: devemos fazer o bem pelo próprio bem. Ele reconhecia, no
entanto, que a religião católica mortifica o corpo sem alevantar a alma, visto
que pede o absurdo, o impossível, o truncamento das leis naturais, um
sacrifício superior às fracas forças, como a reclusão, a soledade completa, ou
seja, o aniquilamento do ser. (Memórias do Padre Germano, pp. 179 a 181.)
E. Quem era o
menino André e como ele surgiu na vida do Padre Germano?
André era filho de Madalena, uma jovem leprosa que, vivendo
em humilde barraca, logo que deu à luz o menino, expirou. Antes, porém, de
desencarnar, ela confiou o filho ao Padre Germano. O menino André e Sultão, o
valoroso companheiro de Germano, passaram a ser, então, o consolo daqueles dias
em que Germano experimentava inúmeras calúnias e as dores da expatriação. (Obra
citada, pp. 186 a 188.)
Nota:
Links que remetem aos 3 textos anteriores:
Parte 4 - https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2017/09/iniciacao-aos-classicos-espiritas_15.html
Parte 5 - https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2017/09/iniciacao-aos-classicos-espiritas_22.html
Parte 6 - https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2017/09/iniciacao-aos-classicos-espiritas_29.html
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