terça-feira, 3 de outubro de 2017

Contos e crônicas



Voltar a observar os desenhos das nuvens

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Simplesmente para observar a vida. Simplesmente um tempo.
Em algumas horas, nenhuma palavra, nem ação, nenhum dever oficial, apenas a quietude que apazigua a alma, traz, à percepção, a grandeza que existe. Não é necessário para isso ter um dia definido, um ritual, uma preparação, o espetáculo é ininterrupto, é a vida. Sentir com mais valor a aurora e o entardecer.
Quando se compreende que nada se repete, que o tempo não volta, mas pode-se perceber cada segundo e ocasião, então, tanto se é capaz de sentir o que está ao redor. Proponho-me, em todo amanhecer, a observar mais a natureza do que cuidar do ponteiro do relógio, ter menos o pensamento de que preciso cumprir o prazo de entrega de trabalhos e mais encantar-me com a perfeita delicadeza de uma flor.
Sinceramente, é um esforço, já que a nossa atenção é mínima diante da perfeição divina. Ainda me esforçando não é nem o início desse reconhecimento. E o tempo todo a luz ilumina.
Lembro-me de que quando era criança, adorava deitar-me na varanda para ver as nuvens branquinhas unirem-se e distanciarem-se formando figuras conhecidas, fantásticas, daqui e de lá. E aqueles minutos, comparados às muitas horas de um dia, faziam-me tão bem, eram tão importantes e... passageiros. Eu os adorava. Por que temos tanto que complicar?
Tornamo-nos perseguidores de inúmeras causas que nos cerceiam o primoroso tempo para a observação das belezas e a inserção em momentos de plenitude. A maior parte da sociedade nos ensina que tempo é dinheiro. Pobres de nós! O que faremos com os bolsos cheios e o coração amedrontado e vazio? Precisamos realmente repensar ou, então, ocuparmo-nos a ponto de não restarem os minutos preciosos para olhar, pelo menos, uma vez, para o céu, infinito que nos acolhe e apequena nossas dificuldades.
Deveras, a vida é tão além comparada à limitação desenhada por nós. O nosso despertamento está atrasado demais, embora tudo tenha sua hora. Mas quando se pode viver tão mais completamente e demora-se em estradas de pedregulhos por própria escolha é o mesmo que virar as costas para o campo de flores coloridas e lindas e olhar mais as montanhas gris atrás.
E se as observações se voltarem para o canto dos pássaros, o sopro suave do vento, o barulhinho da água descendo o rio, o olhar brilhante de um animalzinho de estimação, a saudação durante o dia nos encontros casuais com quem já se conhece e com quem acabou de conhecer-se, o olhar amoroso de quem se ama, o abraço reconfortante e carinhoso, a risada leve por estar de bem com a vida, a alegria de sentir mais um amanhecer e agradecer outro anoitecer, e se as observações forem para as preciosidades constantes, isso, sim, será o início do crescimento, já que as simples coisas demandam pouco tempo, no entanto, enriquecem para sempre um coração.
O espetáculo ininterrupto, naturalmente, acontece agora. Ele não para. Apenas eu é que vou parar mais e onde eu estiver sei que haverá algo para a apreciação. Penso que anexarei em meu ser um importante lembrete: menos compromisso com o ponteiro e mais importância às reais coisas que emancipam o coração.
E quando me aquietar e ficar em paz observando não mais me preocuparei, pois não é que eu esteja perdendo tempo, apenas estou interagindo com a mais nobre criação: a vida.

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