As ovelhas e os bodes...
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amigo leitor, lembra-se de minha
promessa de explicar-lhe o sentido das palavras do Cristo expressas por Mateus,
25:31 a 46? Pois chegou a hora da verdade. As ovelhas são todas as pessoas de
bom coração, que ouvem as palavras do Cristo e, sobretudo, praticam os seus
ensinamentos. Os bodes são todos aqueles que nada fazem do que foi dito
acima...
Vimos domingo, na televisão, idoso com
dificuldade para subir a escada da porta de entrada de ônibus. Logo atrás,
estava um jovem, completamente indiferente à sorte do senhor. Modesto vendedor
de balas, porém, vendo a cena, apressou-se em ajudar o necessitado a entrar no
coletivo.
Alguém que filmava a cena de um dos
andares de edifício em frente, comovido com o gesto do baleiro, comprou-lhe
todos os doces. Nesse dia, o vendedor ambulante pôde voltar mais cedo para sua
casa. O almoço estava garantido para ele e esposa. Seu gesto de bondade atraíra
outro, bom.
Também viralizou na internet nova cena: colado a moto quebrada, lia-se num
papel a seguinte informação, com telefone para contato: “Destruí sua moto. Me liga”. O bilhete era do dono do
ônibus que causara o acidente.
O autor do recado, o baleiro e seu
generoso “cliente” são algumas das “boas ovelhas” citadas por Jesus
simbolicamente.
No último domingo, um incêndio destruiu
90% das obras do Museu Nacional, situado na Quinta da Boa Vista, no Rio de
Janeiro. Dentre os diversos comentários sobre a tragédia, destacamos o do
Ministro da Secretaria do Governo: “Agora que aconteceu, tem muita viúva
chorando [...], mas, na verdade, essas viúvas não amavam tanto assim o
museu...”
Quem não amava o museu: o povo, que em
média de 150 mil pessoas visitava, anualmente, o local, ou o governo, que
somente em 2014 deixou de aplicar ali vinte milhões de reais?
Quem não amava o museu: as inúmeras
famílias que lá iam com seus amigos, filhos e netos, estudantes, pesquisadores
ou a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que, desde 2004, não atendia
aos apelos de providências do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN)?
Aquele rapaz indiferente à necessidade
de ajuda ao próximo, tão perto dele, assim como os gestores de nossa economia
que não preservam nossa cultura nem valorizam nossa educação estão na situação
dos bodes citados por Jesus na parábola acima, narrada por Mateus.
E, se quem afirmou sobre a falência de
nossa educação foi o Ministro... da Educação, também quem criticou a destruição
do museu mais importante da América Latina e de nossa cultura foi nosso
Ministro... da Cultura. Se isso ocorresse num país sério, muitas cabeças
rolariam.
Será que o fogo queimou também o papel
com o nome e o telefone do incendiário de parte da cultura mundial? Quem é o
bode expiatório?
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