terça-feira, 28 de maio de 2019




Há a transformação natural

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Numa dessas tardes mais tranquilas de sábado, visitava uma parente; momentos distintos do cotidiano corrido. E eu conversava com essa tia-avó, alcançando os seus 94 anos de “luta”, pensei eu, na verdade, ela me disse que esse tempo era de vida.
As histórias antigas são protagonistas nesses encontros, aliás, das quais muito gosto e ouço, atenta, quantas vezes renascerem no assunto. As memórias são bens irrevogáveis do espírito. Que bom! As boas, para encher o coração e as imaturas, como reflexão para o caminho novo.
Deitada em sua cama e segurando a minha mão, a senhora, quase secular, me falou algo bastante interessante:
− Quanto mais velhos, mais nos parecemos com um cristal, com uma casquinha de ovo.
Foi a comparação feita diante da delicadeza em que o corpo físico se transforma. E me falou com propriedade, visto que estava ali deitada porque se recuperava de uma inofensiva queda na qual quebrara o quadril.
Mesmo assim era com suavidade que aquela tia-avó se expressava.
E hei de concordar quanto à comparação por ela refletida; parecida com um cristal, pois seu semblante se apresentava com valorosa, transparente e leve alva e quanto à casca de ovo, aí, sim, fazia referência ao enfraquecimento natural do corpo.
Aqueles olhos azuis denotavam a profundidade de sua essência, o longo caminho desbravado, a sede de ainda mais querer a vida. Aquela voz agradável era o reflexo do seu interior calmo, esperançoso, feliz. Ainda deixava à vista que envelhecer nada mais é que a confirmação de mais uma oportunidade, nos canteiros, de plantar flores e fazer algo melhor ao lado de companheiros que, não necessariamente, sejam a família.
Visitas a parentes que não se têm muito contato são mais longas; o acúmulo de notícias é maior. Mas mesmo assim, há o momento da despedida. Abraços calorosos, pois, normalmente, esses parentes só nos viram na infância e agora estamos, assim, adultos.
Quando me despedi da senhora de 94 primaveras, senti o pulso do vigor real, aquela energia que o espírito traz, a alegria cheia de cores significando que na velhice, o desgaste volta-se ao corpo, mas a alma deve sempre estar com o frescor da vida.

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