O fim do materialismo
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Outro
dia, amável leitora, após confessar não nos conhecer, afirmou que nada sabemos
sobre o materialismo. Disse isso, após ler na internet nosso repto: “Espíritas,
unamo-nos contra o materialismo”, esse mal que tem levado tanta gente ao
desencanto pela vida, ao crime, às paixões nefastas, à falta de ética e ao
suicídio.
Em
resposta, dissemos-lhe simplesmente que, de fato, ela não nos conhece. O pouco
que sabemos está nas obras codificadas por Allan Kardec, que ela parece não
conhecer, além de diversos filósofos, religiosos, médiuns... Referimo-nos,
antes de sua crítica, às consequências às quais chega quem adere,
inconsequentemente, às teorias que negam a existência e a sobrevivência do
espírito após a morte do corpo físico; a existência de Deus e do mundo
espiritual e acreditam que tudo, em nossa existência, se explica pelas leis da
matéria. Características próprias do viés filosófico materialista de nossos
dias.
Em
vista disso, vejamos alguns conceitos de materialismo: “Perspectiva que
sustenta que o mundo é inteiramente composto de matéria. [...] Opõe-se ao
dualismo mente-corpo, mas não tem qualquer relação com o desejo excessivo de
bens ou de riqueza, o que constitui um significado diferente do termo”
(BLAKBURN, 1997, p. 239).
Vejamos,
então, o que esse autor entende por “significado diferente do termo”:
“materialismo de estados centrais – uma filosofia da mente que identifica os
acontecimentos mentais com acontecimentos físicos que ocorrem no cérebro e no
sistema nervoso central [...]” (op. cit., p. 240). Tal ideia nega o
livre-arbítrio da alma, espírito encarnado, e confunde o cérebro, órgão físico
da manifestação do espírito, com este.
Temos,
também, segundo o autor consultado, o materialismo dialético:
Traço filosófico
dominante do marxismo, onde se combina o materialismo, concebido como uma
filosofia da natureza e uma ciência englobantes, com a noção hegeliana de
dialética, imaginada como uma força histórica que conduz os acontecimentos para
uma resolução progressiva das contradições que caracterizam cada época
histórica. [...] Na interpretação de Plekhanov e de Lenin, o materialismo
dialético implica que a natureza do mundo coincide com os ideais da revolução
[...] (id., p. 240).
Vem,
por fim, a definição de “materialismo histórico”, de Engels,
[...] na introdução da obra Do socialismo utópico ao socialismo científico, como a procura “da causa última e da grande força que faz mover todos os acontecimentos históricos importantes no desenvolvimento econômico da sociedade, nas mudanças do modo de produção e de troca, na consequente divisão da sociedade em classes distintas e na luta das classes que se opõem”. Marx e Engels descrevem o materialismo histórico como uma hipótese científica e empírica, mas na verdade trata-se de um quadro de referências para as explicações históricas [...] (id., ibid.)
Como
todo conhecedor da obra codificada por Kardec sabe, essas teorias vêm trazendo
consequências danosas para a humanidade: negam as doutrinas de Sócrates, Platão
e outros filósofos espiritualistas; contradizem a doutrina de amor e a crença
na vida espiritual, pregadas pelo Cristo; incentivam o culto à matéria e as
lutas de classes (“Proletários de todos os países, uni-vos”, incentivava Karl
Marx).
Não
destaco os aspectos positivos do materialismo, por considerá-los nulos, em
vista dos malefícios elencados acima. A meu ver, todos esses aspectos são
também realçados nas leis do merecimento, que o Espiritismo nos assegura, além
de este ser, bem compreendido e praticado, como diz Kardec, preservativo contra
o suicídio, o grande mal de nosso tempo.
Quando
se busca “modernizar” a teoria materialista, afirma-se que “Os filósofos hoje
preferem o termo fisicalismo, visto que a física mostrou que a própria matéria
se decompõe em força e energia [...]” (BLACKBURN, 1977, p. 239). Ou seja, já se
percebeu a presença da “energia” junto da “força”, como elementos
estruturadores da matéria, mas a conclusão disso sempre será a de que “tudo é
matéria”, que se compõe e decompõe eternamente. Daí a negação de um ser
espiritual, que sobreviva a essa decomposição.
É
nisso que está o grande mal provocado à humanidade pelo materialismo. Ele não
nos dá qualquer perspectiva de existência de um ser externo, que sobreviva à
desagregação material. Daí vêm as consequências. A primeira delas é a negação
da individualidade do ser extramaterial, pois tudo se reduziria, em nós, ao
cérebro, aos nervos, ao código DNA, à matéria enfim. A segunda é a de que, uma
vez nascidos quando nosso corpo é formado, trazemos conosco a herança genética,
que nada mais seria do que propriedade da matéria. A terceira é a ideia de que,
na história, os mais fortes é que são vitoriosos. Daí, surgem ideologias
nefastas, como as da suposta superioridade racial, da qual decorreu o
holocausto dos judeus. Daí surgem as teorias maquiavélicas, que nos ensinam a
mentir e atropelar todos aqueles que nos impeçam de alcançar nossos objetivos:
o poder, os bens materiais, a fama... Princípios milenares são desprezados,
como o da instituição familiar; o da meritocracia, na aferição dos valores; o
do respeito à ética e aos ensinamentos do Cristo, modelo de perfeição dado por
Deus à humanidade (questão 625 d’O Livro
dos Espíritos).
Caso a leitora e demais leitores desejem conhecer um pouco mais
das ideias dos espíritos e de outros pensadores espiritualistas sobre o
presente tema, sugiro-lhes lerem nosso artigo publicado em Reformador, revista
mensal da Federação Espírita Brasileira. Nosso artigo foi publicado em abril de
2017.
Referências:
BLACKBURN,
Simon. Dicionário Oxford de Filosofia.
Tradução: Desidério Murho et al. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1977.
DENIS,
Léon. O Problema do Ser, do Destino e da
Dor. Rio de Janeiro: FEB, 1989.
KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos.
Tradução: Evandro Noleto Bezerra. 4. ed., 4. imp. Brasília: FEB, 2017.
OLIVEIRA,
Jorge Leite de. A Matéria, o Espírito e O
livro dos Espíritos. In: Reformador, abril 2017, Brasília: FEB, p. 46- 49.
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