quinta-feira, 11 de junho de 2020



O Livro dos Espíritos

Allan Kardec

Parte 25 e final

Publicamos neste espaço o estudo – sob a forma dialogada – dos 8 principais livros de Allan Kardec. Os textos são publicados neste blog sempre às quintas-feiras.
Concluímos hoje o estudo de O Livro dos Espíritos, cuja edição inicial se deu em Paris, França, no dia 18 de abril de 1857.  Iniciaremos na próxima semana o estudo de O Livro dos Médiuns.
Eis as questões de hoje:

193. Que se deve entender por purgatório?
Purgatório significa dores físicas e morais, o tempo da expiação. Quase sempre na Terra é que fazemos o nosso purgatório e expiamos nossas faltas. O que o homem chama purgatório é, em verdade, uma alegoria, devendo-se entender como tal, não um lugar determinado, porém o estado dos Espíritos imperfeitos que se acham em expiação, até que alcancem a purificação completa, que os elevará à categoria de Espíritos bem-aventurados. Operando-se essa purificação por meio das diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corporal. (O Livro dos Espíritos, questão 1.013.)
194. Em que sentido devemos entender estas palavras de Jesus: “Meu reino não é deste mundo”? 
Dizendo tais palavras, o Cristo falava em sentido figurado. Ele queria dizer que seu reinado se exerce unicamente sobre os corações puros e desinteressados e que ele está onde quer que domine o amor do bem. Ávidos, porém, das coisas deste mundo e apegados aos bens da Terra, os homens com ele não estão. (Obra citada, questão 1.018.)
195. O reinado do bem um dia será implantado na Terra? 
Sim. O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons predominarem, porque então farão que aí reinem o amor e a justiça, fonte do bem e da felicidade. Por meio do progresso moral e praticando as leis de Deus é que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e dela afastará os maus. Estes, porém, não a deixarão, senão quando daí estejam banidos o orgulho e o egoísmo. Essa transformação se verificará por meio da encarnação de Espíritos melhores, que constituirão na Terra uma geração nova. Então os Espíritos dos maus, que a morte vai ceifando dia a dia, e todos os que tentem deter a marcha das coisas serão daí excluídos, pois que viriam a estar deslocados entre os homens de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos, menos adiantados, desempenhar missões penosas, trabalhando pelo seu próprio adiantamento, ao mesmo tempo que trabalharão pelo de seus irmãos ainda mais atrasados. (Obra citada, itens 1.018 e 1.019.)
196. O progresso real da Humanidade tem seu princípio na aplicação de uma das leis naturais. Que lei é essa? 
É a lei de justiça, de amor e de caridade, lei que se funda na certeza do futuro. Dessa lei derivam todas as outras, porque ela encerra todas as condições da felicidade do homem. Só ela pode curar as chagas da sociedade. Comparando as idades e os povos, pode-se avaliar quanto a sua condição melhora à medida que essa lei vai sendo mais bem compreendida e praticada. Ora, se aplicando-a parcial e incompletamente aufere o homem tanto bem, que ele não conseguirá quando fizer dela a base de todas as suas instituições sociais! Será isso possível? Claro que sim, porquanto desde que ele já deu dez passos, possível lhe é dar vinte e assim por diante. (Obra citada, Conclusão, item IV.)
197. Kardec diz que o desenvolvimento das ideias espíritas apresentaria três períodos distintos. Quais são eles?
Primeiro, o da curiosidade, que a singularidade dos fenômenos produzidos desperta. Segundo, o do raciocínio e da filosofia. Terceiro, o da aplicação e das consequências. O período da curiosidade passou; a curiosidade dura pouco. Uma vez satisfeita, muda de objeto. O mesmo não acontece com o que desafia a meditação séria e o raciocínio. Começou o segundo período, o terceiro virá inevitavelmente. O Espiritismo progrediu principalmente depois que foi sendo mais bem compreendido na sua essência íntima, depois que lhe perceberam o alcance, porque tange a corda mais sensível do homem: a da sua felicidade, mesmo neste mundo. Aí está a causa da sua propagação, o segredo da força que o fará triunfar. Enquanto sua influência não atinge as massas, ele vai felicitando os que o compreendem. Mesmo os que nenhum fenômeno têm testemunhado dizem: “À parte esses fenômenos, há a filosofia, que me explica o que NENHUMA OUTRA me havia explicado. Nela encontro, por meio unicamente do raciocínio, uma solução racional para os problemas que no mais alto grau interessam ao meu futuro. Ela me dá calma, firmeza, confiança; livra-me do tormento da incerteza”. Ao lado de tudo isto, secundária se torna a questão dos fatos materiais. (Obra citada, Conclusão, item V.)
198. A força do Espiritismo lhe advém da prática das manifestações materiais?
Não. Sua força está na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao bom senso. Na antiguidade, era objeto de estudos misteriosos, que cuidadosamente se ocultavam do vulgo. Hoje, para ninguém tem segredos. Fala uma linguagem clara, sem ambiguidades. Nada há nele de místico, nada de alegorias suscetíveis de falsas interpretações. Quer ser por todos compreendido, porque chegados são os tempos de fazer com que os homens conheçam a verdade. O Espiritismo não é obra de um homem. Ninguém pode inculcar-se como seu criador, pois tão antigo é ele quanto a criação. Encontramo-lo por toda parte e em todas as religiões, principalmente na religião católica e aí com mais autoridade do que em todas as outras, porquanto nela se nos depara o princípio de tudo que há nele: os Espíritos em todos os graus de elevação, suas relações ocultas e ostensivas com os homens, os anjos guardiães, a reencarnação, a emancipação da alma durante a vida, a dupla vista, todos os gêneros de manifestações e até as aparições, tangíveis ou não. (Obra citada, Conclusão, item VI.)
199. O Espiritismo se apresenta sob três diferentes aspectos: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Disso resultariam três classes de espíritas. Quais são elas? 
Ei-las: 1ª. os que creem nas manifestações e se limitam a comprová-las; para esses, o Espiritismo é uma ciência experimental; 2ª. os que lhe percebem as consequências morais; 3ª. os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral. (Obra citada, Conclusão, item VII.)
200. Três efeitos se verificam na vida das pessoas que passam a compreender o Espiritismo filosófico e nele veem outra coisa e não apenas fenômenos mais ou menos curiosos. Quais são esses efeitos?
O primeiro efeito e mais geral consiste em desenvolver o sentimento religioso até naquele que, mesmo não sendo materialista, olha com absoluta indiferença para as questões espirituais. Daí lhe advém o desprezo pela morte. Não dizemos o desejo de morrer; longe disso, porquanto o espírita defenderá sua vida como qualquer outro, mas uma indiferença que o leva a aceitar, sem queixa nem pesar, uma morte inevitável, como coisa mais de alegrar do que de temer, pela certeza que tem do estado que se lhe segue.
O segundo efeito, quase tão geral quanto o primeiro, é a resignação nas vicissitudes da vida. O Espiritismo dá a ver as coisas de tão alto que, perdendo a vida terrena três quartas partes da sua importância, o homem não se aflige tanto com as tribulações que a acompanham. Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos. Daí, também, o banimento da ideia de abreviar os dias da existência, porque a ciência espírita ensina que pelo suicídio sempre se perde o que se queria ganhar. A certeza de um futuro, que temos a faculdade de tornar feliz, e a possibilidade de estabelecermos relações com os entes que nos são caros oferecem ao espírita suprema consolação.
O terceiro efeito é o de estimular no homem a indulgência para com os defeitos alheios. Todavia, cumpre dizê-lo, o princípio egoísta e tudo que dele decorre são o que há de mais tenaz no homem e, por conseguinte, mais difícil de desarraigar. Toda gente faz voluntariamente sacrifícios, contanto que nada custem e de nada a privem. Para a maioria dos homens, o dinheiro tem ainda irresistível atrativo e bem poucos compreendem a palavra supérfluo, quando de suas pessoas se trata. Por isso mesmo, a abnegação da personalidade constitui sinal de enorme progresso. (Obra citada, Conclusão, item VII.)

Observação:
Para acessar a Parte 24 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/06/o-livro-dos-espiritos-allan-kardec.html




Caso o leitor queira baixar o estudo completo – texto consolidado e questões objetivas – de “O Livro dos Espíritos”, clique neste link: http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN - e, em seguida, nos verbetes “O Livro dos Espíritos” – Parte I e “O Livro dos Espíritos” - Parte II.





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