domingo, 6 de novembro de 2022

 



A vida no outro mundo segundo Cairbar Schutel

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

De Londrina-PR

 

O sentimento e a sabedoria – assevera Emmanuel – são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita. No círculo acanhado do orbe terrestre, essas asas são também chamadas adiantamento moral e adiantamento intelectual, ambas igualmente imprescindíveis ao progresso. (O Consolador, questão 204.)

No tocante à área do sentimento – ou do adiantamento moral – ninguém que acompanha o Movimento Espírita pode ignorar a estatura moral de Cairbar Schutel, o homem cordial, o amigo dos pobres e dos enfermos, a quem curava não somente as mazelas do corpo, mas as enfermidades da alma.

Amante da natureza, é conhecido o amor que Cairbar nutria pelos animais.

Nhonhô, o gato que fora sacrificado por ele após uma briga, olhava-o atentamente quando Cairbar escrevia.

Cabrito, seu último cavalo, aposentado por Cairbar quando comprou seu primeiro carro, recebia tanto carinho do dono que, momentos antes de morrer, veio despedir-se do protetor e amigo.

Os cães Rolf e Leão, dois espécimes dinamarqueses, sentavam-se à mesa e eram servidos em primeiro lugar por seu dono. Rolf, aliás, adorava pastéis e ovos cozidos, embora sua preferência fosse mesmo sorvete. E gostava também de passear de carro nas visitas que Cairbar fazia aos doentes, ocasião em que, sentado no banco traseiro, parecia um fidalgo.

Na assistência aos obsidiados e aos enfermos de toda ordem que chegavam a Matão (SP), o zelo de Cairbar chegava ao ponto de levá-los para a sua própria casa, onde construíra alguns quartos nos fundos do terreno, exatamente para poder acolhê-los e assisti-los.

Isso no tocante à asa do sentimento.

No tocante à área da sabedoria – ou do adiantamento intelectual – existe uma faceta da obra de Cairbar Schutel que tem sido pouco enfatizada por seus biógrafos.

Evidentemente, ninguém desconhece o trabalho do Cairbar-jornalista, fundador d’O Clarim e da Revista Internacional de Espiritismo e pioneiro da divulgação espírita por intermédio do rádio; do Cairbar-orador e polemista vibrante; do Cairbar-escritor, autor de 17 livros dentre os quais quem poderia ignorar “Parábolas e Ensinos de Jesus”, “Vida e Atos dos Apóstolos”, “O Espírito do Cristianismo”, “Espiritismo para as crianças” e tantos outros indispensáveis aos que pretendem ter uma sólida formação espírita.

Pouco se fala, porém, da profundidade e mesmo do pioneirismo com que Cairbar examinou vários assuntos relacionados com a prática da mediunidade e as condições da vida no Outro Mundo, algo que era confinado a poucas pessoas antes da eclosão, na década de 1940, da Série Nosso Lar. Como se sabe, Cairbar desencarnou em janeiro de 1938, portanto antes do surgimento de André Luiz e suas obras.

O confrade Antenor de Souza, recentemente falecido, diz que em 1944, quando foi lançada a 1a edição do livro Nosso Lar, de André Luiz, muitos confrades de relevo deste país, como Leopoldo Machado, tiveram sérias dúvidas pertinentes a aspectos da vida espiritual que lhes pareceram, naquele momento, algo inusitado e inédito na literatura espírita, embora Cairbar Schutel já houvesse tratado do assunto 12 anos antes.

Eis na sequência alguns exemplos do que acabamos de relatar.

No livro “A Vida no Outro Mundo”, Cairbar refere-se de modo explícito aos diversos planos que compõem o Mundo Espiritual.

Segundo ele, existem no Outro Mundo diversos planos de existência, e não poderia ser de outro modo, porque os Espíritos, revestidos do seu corpo espiritual, não poderiam viver num meio que não estivesse de acordo com sua vestimenta espiritual, que vibra sempre no ritmo da elevação de cada um em sabedoria e moralidade. Uma região isenta de oxigênio – observou Cairbar – seria hostil a Espíritos ainda necessitados de oxigênio.

Os círculos que envolvem a Terra se diferenciam pela fluidez da matéria que os compõe, eis o que ele consignou em “A Vida no Outro Mundo”, pp. 82, 83, 85 e 107. O primeiro plano do Mundo Espiritual é bem parecido com o plano terráqueo e podemos mesmo dizer que nosso plano, aqui na Terra, é uma cópia materializada desse outro plano, impropriamente chamado de extrafísico, o que explicaria a existência ali de habitações semelhantes às nossas.

Muitas obras e estudiosos, diz Cairbar, já haviam falado sobre a existência de cidades, casas, hospitais, templos e palácios no Outro Mundo. E ele lembra então Conan Doyle, que menciona em seu livro “História do Espiritismo” vários casos, a exemplo de sir Oliver Lodge, Carl du Prel, Swedenborg, Winifred Moyes e Lilian Walbrook, todos eles citados por Cairbar.

Nas mensagens transcritas por Conan Doyle, além da referência à existência de lindas casas e flores, um dos comunicantes fala do alimento utilizado no plano em que vivia, o qual não se parecia com o nosso porque era muito mais agradável e delicado.

Nas obras de Swedenborg faz-se menção de casas, templos, salões, palácios. As crianças são bem recebidas no Outro Mundo, sejam ou não batizadas, e ali elas crescem cuidadas por mulheres jovens, até que lhes apareçam suas mães verdadeiras.

Muitas outras passagens descritivas da vida no mundo espiritual constam do livro “A Vida no Outro Mundo”, de Cairbar Schutel. Contudo, para não nos alongarmos demasiadamente no assunto, eis, a título de conclusão, parte da mensagem dada pelo Espírito de Lester Coltman, constante do livro “O Caso de Lester Coltman”, de Lilian Walbrook:

 

“Meu trabalho continua aqui como se iniciou na Terra, ou seja, no terreno científico. Para progredir em meus estudos, visito frequentemente um laboratório, onde encontro facilidades tão completas como extraordinárias para a realização de experiências. Tenho casa própria, verdadeiramente bela, com uma grande biblioteca, na qual existe toda a classe de livros de consulta: históricos, científicos, de Medicina, e de todos os gêneros da Literatura. Para nós, estes livros são tão interessantes como para vós, os da Terra. Tenho uma sala de música com toda a sorte de instrumentos. Tenho quadros de rara beleza e móveis de gosto apurado.” (Obra citada.)

 

Na sequência, Lester Coltman refere-se a uma paisagem extraordinariamente bela que ele podia descortinar de suas janelas e afirma haver ali magníficas escolas para instrução dos Espíritos de crianças. (“A Vida no Outro Mundo”, pp. 93 a 95.)

 

 

 

 

 

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