A vida no outro mundo
segundo Cairbar Schutel
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
O sentimento e a
sabedoria – assevera Emmanuel – são as duas asas com que a alma se elevará para
a perfeição infinita. No círculo acanhado do orbe terrestre, essas asas são
também chamadas adiantamento moral e adiantamento intelectual, ambas igualmente
imprescindíveis ao progresso. (O Consolador,
questão 204.)
No tocante à área do
sentimento – ou do adiantamento moral – ninguém que acompanha o Movimento
Espírita pode ignorar a estatura moral de Cairbar Schutel, o homem cordial, o
amigo dos pobres e dos enfermos, a quem curava não somente as mazelas do corpo,
mas as enfermidades da alma.
Amante da natureza, é
conhecido o amor que Cairbar nutria pelos animais.
Nhonhô, o gato que fora
sacrificado por ele após uma briga, olhava-o atentamente quando Cairbar escrevia.
Cabrito, seu último
cavalo, aposentado por Cairbar quando comprou seu primeiro carro, recebia tanto
carinho do dono que, momentos antes de morrer, veio despedir-se do protetor e
amigo.
Os cães Rolf e Leão,
dois espécimes dinamarqueses, sentavam-se à mesa e eram servidos em primeiro
lugar por seu dono. Rolf, aliás, adorava pastéis e ovos cozidos, embora sua
preferência fosse mesmo sorvete. E gostava também de passear de carro nas
visitas que Cairbar fazia aos doentes, ocasião em que, sentado no banco
traseiro, parecia um fidalgo.
Na assistência aos
obsidiados e aos enfermos de toda ordem que chegavam a Matão (SP), o zelo de
Cairbar chegava ao ponto de levá-los para a sua própria casa, onde construíra
alguns quartos nos fundos do terreno, exatamente para poder acolhê-los e
assisti-los.
Isso no tocante à asa do
sentimento.
No tocante à área da
sabedoria – ou do adiantamento intelectual – existe uma faceta da obra de
Cairbar Schutel que tem sido pouco enfatizada por seus biógrafos.
Evidentemente, ninguém
desconhece o trabalho do Cairbar-jornalista, fundador d’O Clarim e da Revista
Internacional de Espiritismo e pioneiro da divulgação espírita por intermédio
do rádio; do Cairbar-orador e polemista vibrante; do Cairbar-escritor, autor de
17 livros dentre os quais quem poderia ignorar “Parábolas e Ensinos de Jesus”,
“Vida e Atos dos Apóstolos”, “O Espírito do Cristianismo”, “Espiritismo para as
crianças” e tantos outros indispensáveis aos que pretendem ter uma sólida
formação espírita.
Pouco se fala, porém, da
profundidade e mesmo do pioneirismo com que Cairbar examinou vários assuntos
relacionados com a prática da mediunidade e as condições da vida no Outro
Mundo, algo que era confinado a poucas pessoas antes da eclosão, na década de 1940,
da Série Nosso Lar. Como se sabe, Cairbar desencarnou em janeiro de 1938,
portanto antes do surgimento de André Luiz e suas obras.
O confrade Antenor de
Souza, recentemente falecido, diz que em 1944, quando foi lançada a 1a
edição do livro Nosso Lar, de André
Luiz, muitos confrades de relevo deste país, como Leopoldo Machado, tiveram sérias
dúvidas pertinentes a aspectos da vida espiritual que lhes pareceram, naquele
momento, algo inusitado e inédito na literatura espírita, embora Cairbar
Schutel já houvesse tratado do assunto 12 anos antes.
Eis na sequência alguns
exemplos do que acabamos de relatar.
No livro “A Vida no
Outro Mundo”, Cairbar refere-se de modo explícito aos diversos planos que
compõem o Mundo Espiritual.
Segundo ele, existem no Outro Mundo
diversos planos de existência, e não poderia ser de outro modo, porque os
Espíritos, revestidos do seu corpo espiritual, não poderiam viver num meio que
não estivesse de acordo com sua vestimenta espiritual, que vibra sempre no
ritmo da elevação de cada um em sabedoria e moralidade. Uma região isenta de
oxigênio – observou Cairbar – seria hostil a Espíritos ainda necessitados de
oxigênio.
Os círculos que envolvem a Terra se
diferenciam pela fluidez da matéria que os compõe, eis o que ele consignou em
“A Vida no Outro Mundo”, pp. 82, 83, 85 e 107. O primeiro plano do Mundo Espiritual
é bem parecido com o plano terráqueo e podemos mesmo dizer que nosso plano,
aqui na Terra, é uma cópia materializada desse outro plano, impropriamente
chamado de extrafísico, o que explicaria a existência ali de habitações
semelhantes às nossas.
Muitas obras e estudiosos, diz
Cairbar, já haviam falado sobre a existência de cidades, casas, hospitais,
templos e palácios no Outro Mundo. E ele lembra então Conan Doyle, que menciona
em seu livro “História do Espiritismo” vários casos, a exemplo de sir Oliver
Lodge, Carl du Prel, Swedenborg, Winifred Moyes e Lilian Walbrook, todos eles
citados por Cairbar.
Nas mensagens transcritas por Conan
Doyle, além da referência à existência de lindas casas e flores, um dos
comunicantes fala do alimento utilizado no plano em que vivia, o qual não se
parecia com o nosso porque era muito mais agradável e delicado.
Nas obras de Swedenborg faz-se
menção de casas, templos, salões, palácios. As crianças são bem recebidas no
Outro Mundo, sejam ou não batizadas, e ali elas crescem cuidadas por mulheres
jovens, até que lhes apareçam suas mães verdadeiras.
Muitas outras passagens descritivas
da vida no mundo espiritual constam do livro “A Vida no Outro Mundo”, de
Cairbar Schutel. Contudo, para não nos alongarmos demasiadamente no assunto,
eis, a título de conclusão, parte da mensagem dada pelo Espírito de Lester
Coltman, constante do livro “O Caso de Lester Coltman”, de Lilian Walbrook:
“Meu trabalho continua aqui como se
iniciou na Terra, ou seja, no terreno científico. Para progredir em meus
estudos, visito frequentemente um laboratório, onde encontro facilidades tão
completas como extraordinárias para a realização de experiências. Tenho casa
própria, verdadeiramente bela, com uma grande biblioteca, na qual existe toda a
classe de livros de consulta: históricos, científicos, de Medicina, e de todos
os gêneros da Literatura. Para nós, estes livros são tão interessantes como
para vós, os da Terra. Tenho uma sala de música com toda a sorte de
instrumentos. Tenho quadros de rara beleza e móveis de gosto apurado.” (Obra citada.)
Na sequência, Lester Coltman
refere-se a uma paisagem extraordinariamente bela que ele podia descortinar de
suas janelas e afirma haver ali magníficas escolas para instrução dos Espíritos
de crianças. (“A Vida no Outro Mundo”, pp.
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