CINCO-MARIAS
EUGÊNIA PICKINA
Para se libertarem dos preconceitos, os homens
precisam antes de tudo viver numa sociedade livre. N. Bobbio
Já presenciei preconceito infantil. Sim, crianças
que discriminam, principalmente quando estão diante de um colega portador de
deficiência, com óculos, aparelho nos dentes etc. Mas qual é o papel do adulto
na educação de uma criança sem preconceito?
Casa e escola são ambientes que influenciam
fortemente o comportamento da criança. Considerando a realidade brasileira, é
um grande desafio orientar os filhos para que não cresçam preconceituosos. O
trabalho diário, sem dúvida, exige conversas pontuais, esclarecimentos sobre o
que é discriminação, quando ela ocorre e por que ela é cruel, desrespeitosa,
criminosa, perante as pessoas.
Em casa, o que funciona sempre é o exemplo. É
crucial ter coerência entre o que falamos para as crianças e a maneira como
agimos, como nos comportamos em frente das pessoas e das coisas. Se queremos
crianças livres de preconceitos, temos que vigiar com atenção a nossa atitude
em relação às diferenças, nossa compreensão sobre gênero, religiões, etnias,
profissões etc. E caso nos deparemos com nossos próprios preconceitos, a
atitude inteligente supõe enfrentá-los a fim de nos depurarmos dessas opiniões
errôneas, desses estereótipos irracionais, que só causam atraso e sofrimentos.
Diálogo é muito importante. Prestar atenção nos
comentários dos filhos. Às vezes, eles rotulam um colega de “chato”, de
“diferente”. Aproveitar essa oportunidade para corrigir, esclarecer, frisar a
importância de mostrar respeito pelas pessoas. Reforçar, portanto, que o
respeito antecede as preferências.
Filhos muito protegidos tendem a crescer com visão
estreita. O ideal é permitir que a criança não estude em uma única escola ou
participe apenas do condomínio, da casa dos primos. Conhecer lugares
frequentados por pessoas diferentes, ler livros sobre outras culturas, países,
idiomas, visitar exposições, parques, mostrar à criança que o mundo é vasto e é
a diversidade que o torna rico e interessante.
Por fim, quanto maior a exposição ao mundo, com
mais naturalidade a criança vai encarar as diferenças e, com isso, crescerá
(mais) consciente e responsável acerca de seus direitos e deveres na sociedade,
ajudando o mundo a ser um lugar melhor e de paz.
Notinha
De acordo com diversos estudos e pesquisas, o tipo
de preconceito mais frequente no Brasil é o racial. E o problema do racismo
brasileiro é antigo: tem início por volta do final do primeiro século de
colonização, quando os portugueses notaram a impossibilidade de escravizar os
índios. O negro, então, foi trazido à força para o país, para servir de escravo
nas plantações de cana de açúcar. Independentemente da miscigenação, o negro e
os mestiços sempre foram discriminados socialmente no Brasil. A própria
legislação brasileira, durante quase 500 anos, incentivou a discriminação e o
preconceito. Nem após a abolição da escravatura e a proclamação da República, o
negro deixou de ser discriminado. Só em 1988, com a promulgação da Constituição
que está em vigor (art. 5º - inciso XLII), a prática do racismo passou a ser
considerada um crime inafiançável e imprescritível, felizmente.
*
Eugênia
Pickina é educadora ambiental e terapeuta floral e membro da Asociación Terapia
Floral Integrativa (ATFI), situada em Madri, Espanha. Escritora, tem livros
infantis publicados pelo Instituto Plantarum, colaborando com o despertar da consciência
ambiental junto ao Jardim Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista
em Filosofia (UEL-PR) e mestre em Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), ministra
cursos e palestras sobre educação ambiental em empresas e escolas no estado de
São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu
contato no Instagram é @eugeniapickina
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