sexta-feira, 21 de julho de 2023

 



No Invisível

 

Léon Denis

 

Parte 26

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial do clássico No Invisível, de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.

Nossa expectativa é que este estudo sirva para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.

Cada parte do estudo compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto indicado para leitura.

Este estudo é publicado sempre às sextas-feiras.

 

Questões preliminares

 

A. Os fenômenos de efeitos físicos produzem convicções duradouras?

B. Em que consiste a escrita direta?

C. Quem nos tempos modernos foi o pioneiro nesse tipo de fenômeno?

 

Texto para leitura

 

705. Após a partida da Sra. De Girardin, Victor Hugo continuou esses misteriosos exercícios e os consignou em muitos cadernos, que o Sr. Camille Flammarion pôde compulsar, dos quais publicou alguns fragmentos em “Annales Politiques et Littéraires”, de 7 de maio de 1899. Nele lemos o seguinte: “A Sra. Victor Hugo e seu filho François reuniam-se quase sempre em torno da mesa. Vacquerie e alguns outros não se aproximavam senão alternativamente; Hugo jamais. Ele desempenhava o papel de secretário, escrevendo, à parte, em folhas de papel os ditados da mesa. Esta, consultada, anunciava, geralmente, a presença de poetas, autores dramáticos e outras personagens célebres, como Molière, Shakespeare, Galileu, etc. Na maioria das vezes, porém, quando interrogados, em lugar do nome que se esperava, a mesa soletrava o de um ser imaginário, como este, por exemplo, que reaparecia com frequência: “a Sombra do Sepulcro”.

706. Um dia, os Espíritos pediram que os interrogassem em verso. Victor Hugo declarou que não sabia improvisar como repentista e pediu que fosse adiada a sessão. No dia seguinte, tendo Molière ditado seu nome, o autor de “La Légende des Siècles” recitou alguns versos. Esperou-se algum tempo, mas não foi Molière quem respondeu. Foi a “Sombra do Sepulcro”, e, em verdade, ninguém pode ler sua resposta sem ficar maravilhado de sua irônica imponência. A lição fora ríspida e, indignado com a conduta dos Espíritos, Victor Hugo largou o caderno e abandonou a sala.

707. As comunicações ditadas pela mesa, em Jersey – conclui o Sr. Flammarion – apresentam uma grande elevação de pensamento e esplêndida linguagem. O autor das “Contemplações” acreditou sempre que nelas havia uma entidade exterior, independente dele, às vezes mesmo hostil, que com ele discutia e o chamava à ordem. E, entretanto, examinando-se esses três cadernos, força é reconhecer que ali está Victor Hugo, algumas vezes mesmo o Victor Hugo sublime.

708. A respeito do fato, segundo Flammarion, existiriam duas hipóteses: ou uma ação inconsciente do Espírito de Victor Hugo, de um ou de alguns dos assistentes, ou a presença de um Espírito independente. Contudo, não nos é possível partilhar dessa hesitação. Os versos da “Sombra do Sepulcro” não são o produto de Victor Hugo, pois que ele antecipadamente declara “não saber improvisar” e zanga-se com a resposta altaneira e espontânea do Espírito. Se não é admissível que tivesse ele querido a si mesmo infligir uma lição, o respeito que lhe votavam ainda menos permite atribuir essa intenção às pessoas que o cercavam. Além disso – assegura-se – ele jamais estava ao pé da mesa.

709. Quanto à linguagem, não esqueçamos que os Espíritos não a empregam entre si, mas se comunicam simplesmente pelo pensamento. Eles não se utilizam da linguagem articulada senão em relação conosco e sempre na forma que nos é habitual. Não admira que um Espírito de grande elevação, como parece o interlocutor de Victor Hugo, tenha querido falar ao poeta em sua própria linguagem. Qualquer outro estilo teria ficado abaixo das circunstâncias e do meio.

710. Os fenômenos da mesa têm trazido numerosas adesões ao Espiritismo. A mesa que se ergue e se move, com ou sem contacto, e dita frases imprevistas, impressiona os cépticos, abala a incredulidade. Mas as convicções não se firmam e consolidam senão quando o fenômeno reveste um caráter inteligente e fornece provas de identidade. Sem isso, a primeira impressão não tarda a dissipar-se, e chega-se a explicar o fato por qualquer outra coisa que não a intervenção dos Espíritos.

711. Os fatos puramente físicos são impotentes para produzir convicções duradouras. O próprio professor Charles Richet o reconhece. Ele presenciou em Milão, Roma e Paris manifestações muito significativas; subscreveu relatórios concludentes; mas, a breve trecho, pela força do hábito, reincide em suas hesitações de antanho.

712. Diz ele em seu discurso proferido em 1899, na Sociedade Inglesa de Investigações Psíquicas: “Nossa convicção, isto é, a dos homens que observaram, deveria servir para convencer os outros; ao contrário, porém, é a convicção negativa dos que nada viram, e nada deveriam dizer, que enfraquece e chega a destruir a nossa.”

713. Vimos, pelos casos mencionados, que a mesa pode tornar-se o instrumento de Espíritos eminentes, mas esses casos são bem raros. Na maioria das vezes são almas de fraca inteligência que se manifestam por esse processo. Suas comunicações são geralmente banais ou mesmo grosseiras e sem valor. Quanto mais inferior é o Espírito, mais fácil lhe é agir sobre os objetos materiais. Os Espíritos adiantados só excepcionalmente se servem da mesa, em falta de outro meio. O contacto e a manipulação dos fluidos necessários às manifestações desse gênero impõem um certo constrangimento aos Espíritos de natureza etérea e delicada; não raro, contudo, o afeto e solicitude que nos votam lhes fazem superar muitas dificuldades.

714. As manifestações da mesa são apenas o vestíbulo do Espiritismo, uma preparação para fenômenos mais nobres e instrutivos. Não nos devemos deter nas experiências físicas; logo que delas houvermos colhido o que nos podem fornecer como certeza, procuremos modos de comunicação mais perfeitos, suscetíveis de nos conduzirem ao verdadeiro conhecimento do ser e de seus destinos.

715. Escrita direta. Escrita mediúnica – A escrita é também um dos meios pelos quais os seres que amamos neste mundo podem comunicar-se conosco e transmitir-nos seus pensamentos. Duas são as formas que reveste: escrita direta e escrita mediúnica.

716. Desses dois modos de manifestação, a escrita direta ou pneumatografia (1) é certamente o mais seguro, o mais fácil de fiscalizar-se. Pode produzir-se em plena luz. O médium permanece em estado normal, estranho a suas peculiaridades, a ponto de parecer que não tem a mínima intervenção no fenômeno. Colocadas algumas folhas de papel numa caixa ou numa gaveta fechadas à chave, ou ainda entre ardósias duplas, amarradas e lacradas, ao serem retiradas algum tempo depois, são encontradas escritas, assinadas com os nomes de pessoas falecidas.

717. Nos tempos modernos, o Barão de Guldenstubbé foi o primeiro que chamou a atenção pública para essa ordem de fatos, com o seu livro “La réalité des Esprits et le phénomène de leur écriture directe”. Sem o concurso de pessoa alguma, sendo ele próprio indubitavelmente médium, obteve, em variadíssimas condições, numerosas mensagens escritas. Suas mais notáveis experiências foram efetuadas no Louvre, no Museu de Versalhes, na basílica de Saint-Denis, na abadia de Westminster, no British Museum e em diversas igrejas ou monumentos, em ruínas, da França, da Alemanha e da Inglaterra.

718. Entre as testemunhas desses fatos cita ele o Sr. Delamare, redator-chefe de “La Patrie”; Croisselat, redator do “Universo”; R. Dale Owen, Lacordaire, irmão do grande orador, o historiador De Bonnechose, o Príncipe Leopoldo Galitzin, o Reverendo W. Mountfort, cujo depoimento a esse respeito foi publicado pelo “The Spiritualist”, de 21 de dezembro de 1877.

719. O barão colocava algumas folhas de seu próprio caderno em lugares ocultos, sem lápis nem coisa alguma que servisse para escrever. Afastava-se alguns passos, sem perder de vista um só instante o objeto da experimentação, e depois retirava o papel, em que se achavam escritas mensagens inteligíveis. O volume é acompanhado de trinta fac-símiles de psicografias assim obtidas e escolhidas entre mais de duzentos espécimes em vinte línguas diferentes.

720. Em certos casos, dispostas sobre mesas ou no chão folhas de papel e lápis, sob as vistas dos experimentadores erguia-se o lápis, como empunhado por mão invisível, e traçava caracteres. Algumas vezes, via-se essa mão guiar e dirigir os movimentos do lápis; noutras, parece a escrita ser o resultado de uma ação química.

721. Em seu livro “Investigações sobre os fenômenos do Espiritualismo”, pág. 158, W. Crookes cita vários exemplos desse fenômeno: “Havia-me sentado perto da médium, a Srta. Fox, e as outras únicas pessoas presentes eram minha mulher e uma de suas parentas. Eu mantinha as duas mãos da médium numa das minhas, enquanto os seus pés descansavam sobre os meus. Uma folha de papel havia sido colocada sobre a mesa, diante de nós, e com a mão que eu conservava livre segurava um lápis. Uma mão luminosa desceu do teto do salão e, depois de ter flutuado alguns segundos perto de mim, tomou-me o lápis da mão, escreveu rapidamente na folha de papel, atirou o lápis, depois elevou-se acima de nossas cabeças, perdendo-se pouco a pouco na obscuridade.”

722. Aksakof, em “Animismo e Espiritismo” (cap. I, B), cita diversos casos em que mãos de Espíritos materializados escrevem sob as vistas dos assistentes.

723. Aqui estão fatos mais recentes, obtidos na aldeia de Douchy (Norte) e apresentados ao Congresso Espírita de Paris, de 1900, pelo Dr. Dusart: “No dia 4 de março de 1898, a médium Maria D., rodeada de cinco pessoas, indica uma cadeira vazia, na qual diz ver o Espírito Agnes, sua prima, falecida há muitos anos, entretido a escrever em pedaços de papel recortados em forma de coração. Um momento depois, todos os assistentes veem uma mão depor sobre a mesa um pacotinho contendo cinco corações de papel, num dos quais estava escrita uma pequena prece. O Sr. e a Sra. N., pais de Agnes, reconhecem a escrita de sua filha e desfazem-se em lágrimas. Numa outra sessão viu-se, duas vezes seguidas, uma pena colocada sobre a mesa erguer-se, escrever por si mesma duas linhas e voltar à primitiva posição.”

724. Noutros casos, é sobre a ardósia que são traçadas as comunicações diretas. Uma observação aqui se impõe. É sabido que certas radiações exercem ação dissolvente sobre os fluidos. Uma luz demasiado viva, a fixação dos olhares no ponto em que se produzem as experiências podem paralisar a força psíquica e constituir obstáculos às manifestações, ao passo que a obscuridade as favorece. Esta, porém, torna mais difícil a verificação e diminui o valor dos resultados obtidos. É preciso, portanto, a ela recorrer o menos possível, salvo no que se refere aos fenômenos luminosos, que sem a obscuridade não poderiam ocorrer.

725. As experiências de escrita em ardósia oferecem a preciosa vantagem de se poderem realizar em plena luz e ser submetidas a uma severa fiscalização, ao mesmo tempo em que reúnem as condições mais favoráveis à preparação dos fenômenos. As ardósias, com efeito, aplicadas uma contra a outra, constituem, com suas faces interiores, uma câmara completamente obscura, semelhante à câmara escura dos fotógrafos e, por isso mesmo, muitíssimo própria à ação fluídica.

726. Em todas as experiências que vamos mencionar, as ardósias eram novas, limpas de quaisquer caracteres, compradas e trazidas pelos experimentadores; muitas vezes, a fim de evitar alguma substituição fraudulenta, se lhes punha uma marca secreta. Eram fortemente amarradas, ou lacradas e carimbadas, ou até, como no caso da Sra. L. Andrews e W. Petty, solidamente atarraxadas uma à outra. Nessas condições, aparecem mensagens escritas no interior de tais ardósias, que se não perderam de vista um só instante. Às vezes, mesmo as mãos dos experimentadores não as abandonam.

727. Casos há também em que nem o médium, nem qualquer dos assistentes, toca sequer nas ardósias. Colocando um pedaço de lápis no intervalo vazio, ouve-se, todo tempo que dura o fenômeno, o ranger desse lápis sobre a lousa e o ruído característico que se produz quando se põe a pontuação ou quando se cortam os "tês".

728. Sob o título “Psychography”, Stainton Moses (Oxon) escreveu, acerca dos fenômenos da escrita em ardósia, uma obra documentada, em que refere numerosos casos por ele mesmo observados num período de dez anos; a esses fatos se vêm acrescentar outros da mesma natureza, presenciados e atestados por investigadores não menos sérios. Aí se encontram testemunhos coletivos provenientes de notáveis personalidades ou de observadores cépticos, em cujo número o autor cita muitas vezes os nomes de O'Sullivan, ministro dos Estados Unidos na Corte de Portugal, o Conselheiro Thiersch, o professor de Direito Criminal Wach; os professores Zoellner, Fechner, Weber e Scheibner, da Universidade de Leipzig; Harrison, redator-chefe do “The Spiritualist”, de Londres; Robert Dale Owen, ministro dos Estados Unidos em Nápoles, etc.

729. Tendo sido em sua maioria reproduzidos esses fatos em diversos jornais e revistas, deles não citaremos mais que um limitado número. Sergeant Cox, presidente da Sociedade Psicológica da Grã-Bretanha, declara ter obtido diversas mensagens em ardósia com o concurso do médium Slade. Eis aqui um extrato do seu testemunho: “Slade apoiava as mãos na mesa e todo o seu corpo estava sob minhas vistas, da cabeça aos pés. Tomou a ardósia, que eu havia cuidadosamente inspecionado, para assegurar-me de que nela nenhum traço de escrita existia, e, colocando-lhe um fragmento de lápis, aplicou-a contra a face inferior da tábua da mesa. No mesmo instante ouvi um ruído como se estivessem a escrever na ardósia.

730. Tendo algumas pancadas rápidas indicado que estava terminada a escrita, foi retirada a ardósia e, então, pudemos ler a comunicação seguinte, escrita em caracteres nítidos e corretamente dispostos: “Caro Sergeant, estudais um assunto que merece toda a vossa atenção. O homem que chega a acreditar nesta verdade torna-se melhor, na maioria dos casos. Tal é nosso objetivo, quando volvemos à Terra, impelidos pelo desejo de tornar os homens mais conscientes e mais puros”. (Continua no próximo número.)

 

(1) O termo usado por Kardec para designar a escrita direta é pneumatografia. Neste livro Léon Denis usou o vocábulo psicografia para designar a escrita direta. Contudo, o termo psicografia aplica-se aos casos em que a mão do médium se serve do lápis ou da caneta para grafar a mensagem de origem transcendental.

 

Respostas às questões preliminares

 

A. Os fenômenos de efeitos físicos produzem convicções duradouras?

Não. No caso das mesas girantes, os fenômenos trouxeram numerosas adesões ao Espiritismo. A mesa que se ergue e se move, com ou sem contacto, e dita frases imprevistas, impressiona os cépticos e abala a incredulidade. Mas as convicções não se firmam e se consolidam senão quando o fenômeno reveste um caráter inteligente e fornece provas de identidade. Sem isso, a primeira impressão não tarda a dissipar-se, e chega-se a explicar o fato por qualquer outra coisa que não a intervenção dos Espíritos. Os fatos puramente físicos são, pois, impotentes para produzir convicções duradouras. (No Invisível - O Espiritismo experimental: Os fatos - XVII - Fenômenos físicos - As mesas.)

B. Em que consiste a escrita direta?

A escrita é um dos meios pelos quais os seres que amamos neste mundo podem comunicar-se conosco e transmitir-nos seus pensamentos. Duas são as formas que reveste: escrita direta e escrita mediúnica. Desses dois modos de manifestação, a escrita direta é certamente o mais seguro, o mais fácil de fiscalizar-se e pode produzir-se em plena luz. O médium permanece em estado normal, estranho a suas peculiaridades, a ponto de parecer que não tem a mínima intervenção no fenômeno. Colocadas algumas folhas de papel numa caixa ou numa gaveta fechadas à chave, ou ainda entre ardósias duplas, amarradas e lacradas, ao serem retiradas algum tempo depois, são encontradas escritas, assinadas com os nomes de pessoas falecidas. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XVIII - Escrita direta. Escrita mediúnica.)

C. Quem nos tempos modernos foi o pioneiro nesse tipo de fenômeno?

Foi o Barão de Guldenstubbé quem primeiro chamou a atenção pública para essa ordem de fatos, com o seu livro “La réalité des Esprits et le phénomène de leur écriture directe”. Sem o concurso de pessoa alguma, sendo ele próprio indubitavelmente médium, obteve, em variadíssimas condições, numerosas mensagens escritas. Suas mais notáveis experiências foram efetuadas no Louvre, no Museu de Versalhes, na basílica de Saint-Denis, na abadia de Westminster, no British Museum e em diversas igrejas ou monumentos, em ruínas, da França, da Alemanha e da Inglaterra. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XVIII - Escrita direta. Escrita mediúnica.)

 

 

Observação:

Para acessar a Parte 25 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2023/07/no-invisivel-leon-denis-parte-25-damos.html

 

 

 

 



 

 

Como consultar as matérias deste blog?  Se você não conhece a estrutura deste blog, clique em Espiritismo Século XXI e verá como utilizá-lo e os vários recursos que ele nos propicia.

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário