domingo, 9 de julho de 2023

 



O caso da paralítica que um dia foi rainha

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Certa vez Chico Xavier visitou, numa cidade próxima de Uberaba, uma senhora presa ao leito que fora, séculos atrás, rainha num dos países da Europa. O caso é relatado no cap. 10 do livro Astronautas do Além, obra elaborada em parceria por Chico Xavier, J. Herculano Pires e Espíritos diversos.

Assim o médium relatou a história:

 

“Horas antes de nossa reunião pública, com quatro irmãos que se achavam em nossa companhia, fomos a cidade vizinha visitar uma criança doente. Não longe da casa em que reside a pequenina enferma encontramos uma senhora paralítica, em recanto quase isolado de extensa zona rural, que nos solicitou orarmos com ela por alguns momentos. Muito simpática e sofredora, vivendo da caridade pública e sem qualquer parente, a situação dela realmente nos comoveu muito. Voltamos para a nossa reunião. E, depois de nossa habitual visita a alguns lares de irmãos nossos, passamos ao desenvolvimento das tarefas da noite.

O Evangelho segundo o Espiritismo nos ofereceu a exame a formosa página intitulada ‘Uma realeza terrestre’, no capítulo II, assinada por entidade espiritual que se reportava às lutas que encontrara na posição altamente destacada que usufruiu na Terra. A comunicação foi carinhosamente estudada por uma de nossas irmãs presentes. E, no encerramento da reunião, o poeta Epifânio Leite nos trouxe um soneto com dedicatória expressiva. Ele mesmo, o poeta desencarnado, informou-nos por audição referir-se à paralítica em penúria material que havíamos visitado horas antes.”

 

O soneto, assinado por Epifânio Leite, intitula-se “Refazimento” e diz o seguinte:

 

Vejo-te, soberana, aos painéis da memória!

O trono te emoldura a face de outras eras…

Oprimes sem temor, espancas onde imperas,

Fulges no fausto vão de vaidade ilusória!…

 

A paixão te esfogueia a fome de vanglória,

Exilas e destróis, humilhas e encarceras…

Vem a morte, no entanto, entre forças austeras,

E largas sob a cinza a pompa transitória!

 

Foi-se o tempo… Hoje achei-te em catre duro e estreito,

Paralítica e só, parafusada ao leito!…

Chorei ao ver-te a choça e o triste quarto em ruínas!

 

Mas louvo o fel de agora ante o sol do futuro…

Pela dor subirás ao reino do amor puro

Em teu carro estelar de açucenas divinas!

 

Na apresentação do soneto, Epifânio Leite escreveu estas palavras:

 

“Versos dedicados à venerável irmã que conhecemos na realeza terrestre, há quatro séculos. Culta, não espalhou os benefícios da inteligência; amiga incondicional dos amigos e inimiga implacável dos adversários; generosa para com os áulicos abastados e indiferente às vítimas da penúria. Embora destacasse as vantagens da paz, incentivou, quanto pôde, as guerras de conquista e ambição. Agradecida aos vassalos obedientes, perseguia até à morte quantos não lhe observassem as diretrizes.

Amada e odiada, alcançou o Mais Além e, à frente da verdade, preocupou-se com a redenção própria.

Regressou à Terra, várias vezes, apagando-se devagar, quanto ao brilho terreno que ostentava, até que rogou a prova final, em que a identificamos presentemente, habilitando-se no corpo enfermo e disforme, em acentuada penúria, para a ascensão próxima à Espiritualidade Superior.

A essa irmã admirável e valorosa, capaz de omitir-se e sofrer até a integral reparação da própria grandeza em si mesma, oferecemos aqui a nossa pálida homenagem, desejando-lhe plena vitória em Jesus e com Jesus.”

 

O poeta Epifânio Leite de Albuquerque nasceu e morreu em Fortaleza-CE (1891-1942). Autor do livro de poesias Escada de Jacó, membro da Academia Cearense de Letras, foi juiz de Direito em Baturité, no mesmo estado.

O caso da ex-rainha, que não é o único apresentado nas obras espíritas como prova de como funciona a Lei divina, ajuda-nos a compreender a verdade contida em um pensamento espírita bem conhecido, sintetizado nas seguintes palavras: O mal que nos faz mal não é o mal que nos fazem, mas o mal que nós fazemos, porquanto na vida, se a semeadura é livre, a colheita é e será sempre compulsória.

 

 

 

 

 

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