JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Quando eu era menino, no Rio de Janeiro, toda vez que alguém
da família espirrava, papai dizia: — Saúde!
Cresci com esse hábito e, sempre que minha esposa espirra,
eu grito do meu escritório: — Saúde! Isso porque agora estamos sós, pois os
filhos já se casaram, deram-nos seis netos, mas o procedimento é o mesmo, se
qualquer deles ou outrem espirrar e eu ouvir.
A saúde é um bem tão precioso, que em 1947 a Organização Mundial da
Saúde (OMS) definiu-a como “um estado de completo bem-estar físico, mental
e social e não apenas a ausência de doença”.
Para
nós, espíritas, a mente nada mais é do que a manifestação da alma no comando do
corpo, seja ele físico ou perispirítico, que é a parte do ser integral:
espírito, perispírito e físico. Então, esse conceito da OMS, no meu
entendimento, é perfeito.
E quem
nos auxilia na manutenção do corpo e da mente com saúde é o médico. Seu juramento,
cujo autor foi Hipócrates, nascido em 460 a.C. na Grécia, atualmente foi bastante modificado e mesmo
dispensado por algumas faculdades de medicina.
Resume-se ao seguinte:
“Juro por Apolo, médico,
e por Esculápio, por Hygeia, por Panaceia, e por todos os deuses e deusas,
constituindo-os juízes de como, na medicina das minhas forças e do meu juízo,
haverei de fazer executado o seguinte juramento e o seguinte compromisso: [...]
Passarei a minha vida e praticarei a minha arte pura e santamente [...]. Em
quantas casas entrar, fá-lo-ei só para a utilidade dos doentes, abstendo-me de
todo o mal voluntário e de toda voluntária maleficência e de qualquer outra
ação corruptora [...]. O que quer que veja ou ouça, concernente à vida das
pessoas, no exercício da minha profissão ou fora dela, e que não haja
necessidade de ser revelado, eu calarei, julgando que tais coisas não devem ser
divulgadas [...].”
Segundo
o professor Sandoval[1],
a Declaração de Genebra adotada pela Associação Médica Mundial, inspirada no
Juramento de Hipócrates e com sua redação aprovada em 1936, começa assim:
“Prometo solenemente
consagrar a minha vida a serviço da humanidade. Darei aos meus mestres o
respeito e o reconhecimento que lhes são devidos. Exercerei a minha arte com
consciência e dignidade. A saúde do meu doente será a minha primeira
preocupação.”
Destaco
a conclusão de Sandoval sobre a base do juramento hipocrático: “Portanto, o
importante, mesmo que haja versão reduzida, que se mantenha o cerne dos
princípios e das regras éticas contidos no Juramento de Hipócrates constantes
de seu original, princípios e regras éticas que permanecem atuais, apesar de
decorridos 2.600 anos”.
Infelizmente,
porém, atualmente, há profissionais da medicina que não são fiéis ao Juramento
de Hipócrates, mas reféns do ganho fácil com a medicina. Então, ignoram ou
desprezam o conceito de saúde no seu atendimento médico. Por isso,
sugerimos-lhes que coloquem sobre sua mesa ou parede do consultório ou ainda
num chaveirinho, para leitura e prática diária, as primeiras frases do texto do
juramento hipocrático supracitado.
O médico que atente para o conceito atual de saúde, à luz da
ética, precisa observar clinicamente tanto a doença da alma quanto a do corpo
físico do seu paciente. Para isso, deve colocar-se no lugar de quem o procure
por um mal orgânico, que reflete também o estado espiritual do seu paciente. É
o que entendemos quando lemos o conceito de saúde da OMS e do Juramento de
Hipócrates, que pode ser lido integralmente na versão aprovada pela Associação Médica
Mundial em 1936.
Só o
fato de ser tratado com dignidade e respeito já auxilia, em boa parte, no
bem-estar do doente. Desse modo, independentemente de quem espirre, o bom
médico agirá como verdadeiro apóstolo divino, no tratamento do seu paciente,
após dizer-lhe: — Saúde!
[1] SANDOVAL, Ovídio Rocha Barros. O Juramento de Hipócrates. Disponível
em www.fmrp.usp.br (Faculdade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo),
24 de abril de 2019. Acesso em 19.7.2023.
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