Revista Espírita de 1865
Allan Kardec
Parte 11
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Por que o
homem enfrenta na Terra tantos obstáculos?
B. Podemos
dizer que o mundo espiritual é um reflexo do mundo material?
C. Qual é o
segredo que faz com que a doutrina espírita seja facilmente aceita pelos que a
conhecem?
Texto para leitura
119. Comentando
o assunto, Kardec afirma que a mediunidade exige um estudo sério da parte de
quem quer que veja no Espiritismo uma coisa séria. À medida que as molas dessa
faculdade forem mais bem conhecidas, estaremos menos expostos às decepções e
haverá menos vítimas do charlatanismo. (Pág. 150.)
120. Escrevendo
sobre o progresso, em comunicação dada na Sociedade Espírita de Paris, diz
Pascal que no mundo nada se perde, não apenas na matéria, onde tudo se renova
incessantemente, mas também no domínio da inteligência. “A humanidade – afirma
Pascal – é como um só homem, que vivesse eternamente, e adquirisse
incessantemente novos conhecimentos.” (Pág. 151.)
121. Pascal
lembra que tais palavras não são apenas uma imagem, porque o Espírito é
imortal, só o corpo é transitório. Na natureza nada se perde e nada é inútil.
Tudo, até as criaturas mais perigosas e os mais sutis venenos, tem a sua razão
de ser. As coisas nocivas obrigam o homem a exercitar a inteligência. Ora, se a
necessidade é a mãe da indústria, a indústria também é filha da inteligência.
Se existem obstáculos, é para despertar no homem os recursos adormecidos; é
para dar impulso aos tesouros da inteligência, que ficariam enterrados, se uma
necessidade, um perigo a evitar, não viessem forçá-lo a velar por sua
conservação. “O instinto nasce; a inteligência o segue, as ideias se encadeiam
e está inventado o raciocínio”, conclui o notável filósofo. (Págs. 151 e 152.)
122. Em outra
mensagem transmitida na Sociedade de Paris e assinada por Mokí, é reiterada a
importância de se observar a seriedade e o recolhimento nas reuniões espíritas.
A linguagem usada no trato com os Espíritos pode variar, mas jamais a seriedade
e a benevolência podem faltar às reuniões. Todas as comunicações, diz o
Espírito, têm sua utilidade para aquele que sabe tirar delas proveito. Uma
mistificação reconhecida e provada pode agir com mais eficácia sobre as
pessoas, fazendo-as perceber melhor os pontos a reforçar, do que instruções que
são às vezes admiradas, mas não postas em prática. (Págs. 152 e 153.)
123. Duas
mensagens assinadas por Mesmer, valendo-se da mediunidade do sr. Delanne,
fecham a edição de maio de 1865. A primeira fala da imigração de Espíritos para
a Terra; a segunda trata do tema criações fluídicas. Eis em resumo parte do que
nelas se contém:
A) A Terra
treme ao sentir em seu seio aqueles que ela outrora viu passar por aqui, e se
alegra em os rever, porque pressente que eles vêm para a conduzir à perfeição.
B) Sim, grandes
mensageiros estão entre nós neste mundo: são eles que se tornarão os
sustentáculos da geração futura.
C) À medida que
o Espiritismo crescer e se desenvolver, os Espíritos de uma ordem cada vez mais
elevada virão sustentar a obra, em razão das necessidades da causa. Por toda a
parte Deus espalhou esteios para a doutrina.
D) A imigração
de Espíritos superiores se opera para ativar a marcha ascendente da humanidade
terrena. É preciso, pois, redobrar de coragem, de zelo, de fervor pela causa,
porque nada deterá a marcha progressiva do Espiritismo e poderosos protetores
continuarão a obra.
E) O mundo dos
invisíveis é como o mundo terráqueo. Em vez de ser material e grosseiro, é
fluídico, etéreo, da natureza do perispírito, que é o verdadeiro corpo do
Espírito, tirado desses meios moleculares, como o corpo físico se forma de
coisas mais palpáveis e materiais.
F) O mundo dos
Espíritos não é um reflexo do mundo material: este é que é uma imagem grosseira
e imperfeita do reino de além-túmulo.
G) As relações
entre os dois mundos sempre existiram. Mas agora é chegado o momento em que
todas essas afinidades irão ser reveladas, demonstradas e tornadas palpáveis.
(Págs. 153 a 155.)
124. No dia 5
de maio de 1865, Kardec apresentou à Sociedade Espírita de Paris um relatório a
que ele chamou de Relatório da Caixa do Espiritismo. Trata-se de uma detalhada
prestação de contas de natureza eminentemente financeira, em que o Codificador
especifica os recursos movimentados desde fevereiro de 1860 e as suas
respectivas aplicações. (Págs. 157 a 164.)
125. Eis
algumas informações importantes extraídas do documento citado:
A) Kardec
jamais dispôs de recursos financeiros fartos para a execução do seu trabalho à
frente do movimento espírita. Mas compreendia que, não pondo recursos
abundantes em suas mãos, os Espíritos quiseram provar que o Espiritismo não
devia o seu sucesso senão a si mesmo, à sua própria força, e não ao emprego de
meios vulgares.
B) Se ele
pudesse contar com uma soma vultosa, não a utilizaria – como pensava
anteriormente – em gastos publicitários em prol da doutrina, mas sim na
edificação de um retiro espírita, cujos habitantes recolhessem os benefícios da
doutrina, e na constituição de um fundo que produzisse uma renda inalienável
destinada:
1º – a manter o
estabelecimento;
2º – a
assegurar uma existência digna a quem lhe sucedesse e aos que o ajudassem em
sua missão;
3º – a cobrir
as necessidades correntes do Espiritismo.
C) O
Espiritismo, segundo Kardec, ainda se achava no estado de esboço; os princípios
gerais estavam estabelecidos, mas as suas consequências não estavam, nem podiam
estar claramente definidas. Até aquele
momento ele não passava de uma doutrina filosófica e somente mais tarde é que
as pessoas compreenderiam o seu verdadeiro alcance e utilidade. (Págs. 159 a
164.)
126. A Revista
publica duas cartas, uma enviada a Kardec por um general da Rússia e a outra
remetida por um simples pastor de Touraine. O objetivo da transcrição é mostrar
que o Espiritismo satisfaz a todas as camadas da sociedade. A carta do militar
russo noticia o surgimento do primeiro grupo espírita de São Petersburgo, ocorrido
a 23 de outubro de 1864. O objetivo principal do grupo, diz ele, é o alívio dos
Espíritos sofredores, encarnados e desencarnados. Com duas reuniões por semana,
o grupo já contava com 40 membros. O missivista diz ainda ter aparecido a
primeira brochura espírita na Rússia, impressa em São Petersburgo, com
autorização da censura. Foi uma resposta que ele próprio deu a um artigo do
arcipreste Debolsky publicado no jornal Radougaf. “Até agora – acrescenta o militar – nossa
censura não permitia publicar artigos senão contra, mas nunca pró Espiritismo.
Pensei que a melhor refutação fosse a tradução de vossa brochura O Espiritismo
em sua mais simples expressão, que fiz inserir naquele jornal.” (Págs. 164 e
165.)
127. Comentando
a segunda carta, enviada por uma pessoa simples de Touraine, Kardec observa que
não é preciso diploma para compreender o Espiritismo, porque sua doutrina é tão
clara e tão lógica que chega sem esforço a todas as inteligências. Além disso,
ela toca o coração: eis o seu maior segredo. (Págs. 166 e 167.)
128. O confrade
J.M.F., do grupo espírita de Barcelona, relata detalhadamente a cura de uma
mulher chamada Rosa N..., que durante 15 anos esteve presa de uma obsessão das
mais cruéis. Casada em 1850, poucos dias depois do casamento Rosa foi atingida
por ataques espasmódicos que se repetiam muitas vezes e com violência, até
engravidar. (Págs. 167 e 168.)
129. Durante a
gravidez Rosa nada experimentou, mas após o parto os ataques se renovaram. As
crises duravam três a quatro horas e era preciso muitas pessoas para a dominar.
Os médicos que a examinaram diziam uns que era uma doença nervosa; outros, que
era loucura. O certo é que o fenômeno se repetia em cada gravidez: cessavam os
ataques durante a gestação e recomeçavam após o parto. (Págs. 168 e 169.)
130. Em julho
de 1864 o grupo espírita de Barcelona se interessou pelo caso e bastaram alguns
minutos para se reconhecer a causa da moléstia: Rosa enfrentava, na verdade,
uma obsessão das mais terríveis e foi muito difícil fazer com o que o obsessor
atendesse ao chamado que o grupo espírita lhe fez. (Pág. 169.)
Respostas às questões propostas
A. Por que o
homem enfrenta na Terra tantos obstáculos?
Esta questão
foi tratada pelo Espírito de Pascal na Sociedade Espírita de Paris, Segundo
ele, em a Natureza nada se perde e nada é inútil. Tudo, até as criaturas mais
perigosas e os mais sutis venenos, tem a sua razão de ser. As coisas nocivas
obrigam o homem a exercitar a inteligência. Se existem obstáculos, é para
despertar no homem os recursos adormecidos; é para dar impulso aos tesouros da
inteligência, que ficariam enterrados, se uma necessidade, um perigo a evitar,
não viessem forçá-lo a velar por sua conservação. “O instinto nasce; a
inteligência o segue, as ideias se encadeiam e está inventado o raciocínio”,
concluiu o conhecido filósofo. (Revista Espírita de 1865, pp. 151 e
152.)
B. Podemos dizer que o mundo espiritual é um reflexo do mundo
material?
Não. O mundo dos Espíritos não é um reflexo do
mundo material; este é que é uma imagem grosseira e imperfeita do reino de
além-túmulo, porque as relações entre os dois mundos são uma constante e sempre
se verificaram em nosso planeta. (Obra citada, pp. 153 a 155.)
C. Qual é o
segredo que faz com que a doutrina espírita seja facilmente aceita pelos que a
conhecem?
Kardec tratou
deste assunto ao comentar uma carta recebida de uma pessoa simples de Touraine.
Observou então o codificador que não é preciso diploma para compreender o
Espiritismo, porque sua doutrina é tão clara e tão lógica que chega sem esforço
a todas as inteligências. Além disso, ela toca o coração: eis o seu maior
segredo. (Obra citada, pp. 166 e 167.)
Observação:
Para
acessar a Parte 10 deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/05/revista-espirita-de-1865-allan-kardec_01409633082.html
To read in English, click here: ENGLISH |
Nenhum comentário:
Postar um comentário