Revista Espírita de 1865
Allan Kardec
Parte 10
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do ano de
1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a
dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do estudo,
que será apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. As sessões de
doutrinação eram comuns em 1865?
B. Que tipo de
fenômeno Delanne presenciou em Carcassone?
C. Que recomendação,
no tocante às comunicações, fez em Lyon o Espírito de Pascal?
Texto para leitura
107. Doutor Vignal
disse que há muita diferença entre o desprendimento pós-morte e o
desprendimento da alma ainda encarnada, como se dá durante o sono. “Hoje sou
livre”, exclamou o Espírito, agora desencarnado, lembrando que durante a
encarnação a matéria constringe a alma com seu sistema inflexível. (Págs. 134 e
135.)
108. A Revista
publica duas cartas enviadas a Kardec pelo autor do opúsculo A confusão no
Império de Satã, o Sr. Salgues, de Angers. Confessando ter sido
anteriormente adversário das ideias espíritas, o Sr. Salgues reconhece o bem
que o Espiritismo tem feito por toda a parte e se diz leitor atento dos
escritos que tanto se espalham, para reafirmar a moralidade e os sentimentos
religiosos, levados na via mais racional. (Págs. 136 e 137.)
109. Kardec lhe
respondeu de forma carinhosa e, no final de sua carta, asseverou: “Se
divergimos nalguns pontos de doutrina, vejo com verdadeira satisfação que um
grande princípio nos une: `Fora da caridade não há salvação’.” (Pág. 138.)
110. Em carta a
Kardec, o Sr. Delanne fala de sua visita a Barcelona, onde encontrou adeptos
zelosos e fervorosos do Espiritismo. “Num grupo que visitei – refere o pai de
Gabriel Delanne – vi dignos êmulos desse caro Sr. Dombre, de Marmande.
Constatei a cura completa de uma senhora atingida por uma obsessão horrorosa,
que datava de quinze anos pelo menos, muito antes que tivesse ouvido falar de
Espíritos.” (Págs. 138 e 139.)
111. Delanne descreve,
na sequência, o tratamento realizado em outra sessão de um manobreiro chamado
Joseph, que havia 18 anos sofria um processo obsessivo, agora em via de cura. O
Espírito obsessor parecia ser da pior espécie, mas nunca disse o motivo de sua
vingança, que impunha sofrimentos inenarráveis em sua vítima. Delanne relata na
carta o que acontecia a Joseph nos momentos de crise. (Pág. 139.)
112. Premido pelo Sr.
Delanne, o algoz desencarnado confessou enfim que aquele homem lhe havia
roubado a mulher a quem amava. O doutrinador explicou que se ele quisesse não
mais atormentar o manobreiro e mostrasse um arrependimento sincero, ainda que
mínimo, Deus lhe permitiria rever a pessoa amada. “Por ela – respondeu o
Espírito – farei tudo.” Delanne pediu-lhe então que repetisse estas palavras:
“Meu Deus, perdoai minhas faltas”. Ele hesitou, mas atendeu escrevendo: “Meu
Deus, perdoai os meus erros!” O momento era crítico. Que iria acontecer? Tudo
correu, no entanto, como o esperado e, operando enérgicos passes magnéticos em
Joseph, que estava efetivamente esgotado como um lutador, o Sr. B... acabou
acalmando-o completamente. (Pág. 139.)
113. Concluindo o
relato, acrescentou Delanne: “Que energia, que convicção, que coragem não são
precisas para fazer semelhantes curas! A fé, a esperança e, sobretudo, a
caridade, e só elas, podem vencer tão grandes obstáculos e afrontar tão
temerariamente um grupo de tão temíveis adversários. Eu saí arrasado!” (Pág.
139.)
114. Em Carcassone,
visitando o Sr. Jaubert, presidente do grupo espírita local, Delanne pôde
assistir a outra ordem de fenômenos: os transportes. Assim que ele entrou no
salão, uma grande peça despida, apenas atapetada, uma chuva de drágeas caiu com
ruído num canto da sala. A médium, que tinha o estômago inchado, tomou seu
lápis e escreveu: “Dize a Delanne que ponha a mão no vazio de teu estômago e
essa inflamação desaparecerá. Ora antes”. Aí caiu uma nova chuva, agora de
bombons e no canto oposto àquele onde ocorrera o primeiro fenômeno. Delanne
aproximou-se da doente, que apresentava uma inchação maior que na véspera.
Impôs-lhe a mão e a inchação desapareceu como por encanto. Ocorreu então um
terceiro derrame de drágeas. (Págs. 139 a 141.)
115. Comentando
notícia publicada no Siècle a respeito da influência do uso imoderado do
tabaco, que ocasionaria uma debilidade no cérebro e na medula espinhal, podendo
daí resultar a loucura, a Revista adverte que, diante de tais perigos, não é de
admirar que existam espíritas entre os loucos. Ocorre que, além das causas
materiais, como a referida pelo Sr. Jolly na Academia de Ciências da França, há
causas morais e é contra estas que os espíritas têm um poderoso preservativo em
suas crenças. Com a influência do Espiritismo o número de casos de loucura por
causas morais diminuiria incontestavelmente, diz a nota. (Págs. 142 e 143.)
116. A Revista
transcreve três dissertações recebidas em Lyon e assinadas pelo Espírito de
Pascal. Eis de forma resumida parte do que nelas se contém:
A) É preciso examinar
as comunicações recebidas, submetendo-as à análise da razão e não tomando sem
exame nem mesmo as inspirações que agitam a nossa alma.
B) A inspiração
encerra dois elementos: o pensamento e o calor fluídico destinado a aquecer a
alma do médium, dando-lhe o que chamamos de veia da composição. Se a inspiração
encontrar o lugar ocupado por uma ideia preconcebida, o pensamento do Espírito
comunicante fica sem intérprete e o calor fluídico se gasta em aquecer um
pensamento que não é dele.
C) A ideia, um dos
dois elementos da inspiração medianímica, vem do mundo extrafísico e é a
inspiração própria do Espírito.
D) O calor fluídico é
encontrado e tomado dos encarnados: é a parte quintessenciada do fluido vital
em emanação, algumas vezes recolhido ao próprio inspirado, quando dotado de um
certo poder fluídico ou medianímico, e o mais das vezes tomado em seu ambiente,
na emanação de benevolência de que o inspirado esteja mais ou menos rodeado. É
por isso que se diz que a simpatia torna eloquente.
E) A ideia, sozinha,
não basta, se não se lhe dá a força de exprimi-la. O calor é para a ideia o que
o perispírito é para a alma.
F) Deus não se vinga.
É uma blasfêmia dizer que Deus age como os homens, porque estes, sim, se
vingam.
G) Deus não age
assim. Ele entrava o impulso de uma paixão funesta, corrige o orgulho inato,
endireita o egoísmo... Como pai, corrige, mas não se vinga jamais.
H) Só porque o
Espiritismo foi revelado, não acreditemos num cataclismo das instituições
sociais. Desconfiemos, pois, dos Espíritos impacientes, que vos impelem para as
vias perigosas do desconhecido. Lembremo-nos de que o Espírito humano se move e
se agita sob a influência de três causas – a reflexão, a inspiração e a
revelação.
I) A reflexão é a
riqueza de nossas lembranças, que agitamos voluntariamente. Nela o homem
encontra o que lhe é rigorosamente útil para satisfazer as suas necessidades.
J) A inspiração é a
influência dos Espíritos extraterrenos, que se mistura mais ou menos às nossas
próprias reflexões para nos impelir ao progresso.
L) A revelação é a mais elevada das forças que
agitam o Espírito humano, porque vem de Deus e só se manifesta por sua vontade
expressa. Ela é rara e ordinariamente dada como uma recompensa à fé sincera, ao
coração devotado. (Págs. 144 a 149.)
117. Manifestando-se
em Paris, Georges diz que a medianimidade é uma faculdade inerente à natureza
do homem. Não é uma exceção, nem um favor, e está sujeita às variações físicas
e às desigualdades morais. “Jamais se devem atribuir aos Espíritos, refiro-me aos
Espíritos elevados, esses ditados sem fundo nem forma, que aliam à sua nulidade
o ridículo de serem assinados por nomes ilustres”, diz Georges. (Pág. 149.)
118. Mais adiante,
diz ele que a ciência tem os seus pseudossábios e a medianimidade, os seus falsos
médiuns. Existe, segundo Georges, diferença entre os médiuns inspirados pelos
fluidos espirituais e os que agem apenas sob o impulso do fluido corporal, isto
é, os que vibram intelectualmente e aqueles cuja ressonância física só conduz à
produção confusa e inconsciente de suas próprias ideias, ou de ideias vulgares.
(Págs. 149 e 150.)
Respostas às questões propostas
A. As sessões de
doutrinação eram comuns em 1865?
Em alguns lugares,
sim, como o Sr. Alexandre Delanne pôde constatar em visita a Barcelona, onde
acompanhou a cura completa de uma senhora atingida por uma obsessão horrorosa,
que datava de quinze anos pelo menos. Delanne descreveu também, na sequência, o
tratamento realizado em outra sessão de um manobreiro chamado Joseph, que havia
18 anos sofria um processo obsessivo. Depois de relatar como se realizou o
tratamento, Delanne acrescentou: “Que energia, que convicção, que coragem não
são precisas para fazer semelhantes curas! A fé, a esperança e, sobretudo, a
caridade, e só elas, podem vencer tão grandes obstáculos e afrontar tão temerariamente
um grupo de tão temíveis adversários. Eu saí arrasado!” (Revista Espírita de
1865, pp. 138 e 139.)
B. Que tipo de
fenômeno Delanne presenciou em Carcassone?
Em Carcassone, em
visita ao Sr. Jaubert, presidente do grupo espírita local, Delanne assistiu a
outra ordem de fenômenos: os transportes. Assim que ele entrou no salão, uma
chuva de drágeas caiu com ruído num canto da sala. A médium, que tinha o
estômago inchado, tomou seu lápis e escreveu: “Dize a Delanne que ponha a mão
no vazio de teu estômago e essa inflamação desaparecerá. Ora antes”. Aí caiu
uma nova chuva, agora de bombons e no canto oposto àquele onde ocorrera o
primeiro fenômeno. Delanne aproximou-se da doente, que apresentava uma inchação
maior que na véspera. Impôs-lhe a mão e a inchação desapareceu como por
encanto. Ocorreu então um terceiro derrame de drágeas. (Obra citada, pp. 139 a
141.)
C. Que recomendação,
no tocante às comunicações, fez em Lyon o Espírito de Pascal?
A Revista transcreveu
três dissertações recebidas em Lyon, de autoria do Espírito de Pascal, que fez
na ocasião inúmeras recomendações. Com respeito às comunicações mediúnicas, ele
foi enfático: É preciso examinar as comunicações recebidas, submetendo-as à
análise da razão e não tomando sem exame nem mesmo as inspirações que agitam a
nossa alma. (Obra citada, pp. 144 a 149.)
Observação:
Para acessar a Parte 9
deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/05/revista-espirita-de-1865-allan-kardec_01186291097.html
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