Revista Espírita de 1865
Allan Kardec
Parte 19
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. A passagem
dos irmãos Davenport pela Europa foi prejudicial ao movimento espírita?
B. Chegou a
Kardec notícia sobre o Espiritismo no Brasil?
C. A fé
espírita pode ajudar na prevenção de certas enfermidades?
Texto para leitura
221. O número
de novembro de 1865 inicia-se com a transcrição de uma mensagem aprovada por
unanimidade pela Sociedade Espírita de Paris e dirigida aos espíritas da França
e do estrangeiro. Trata-se de uma moção de reconhecimento e apoio enviada pela
Sociedade numa hora em que se redobravam na Europa os ataques contra os
espiritistas. (Págs. 315 e 316.)
222. A alocução
feita por Kardec na reabertura das sessões da Sociedade de Paris, ocorrida em
outubro próximo passado, foi também transcrita na Revista. O Codificador fez
ali, como não podia ser diferente, alusão ao grande barulho que ocorrera
durante o recesso anual da Sociedade, embora não entrasse em detalhes, que ele
considerava no momento inteiramente supérfluos. E pediu a todos os confrades
que se unissem numa santa comunhão de pensamentos, para enfrentarem a
tempestade, pondo de lado as suscetibilidades e as questões menores, em favor de
algo mais importante, que é a causa espírita. (Págs. 316 a 319.)
223. Ficou
evidente que a presença dos irmãos Davenport na Europa foi bastante prejudicial
ao movimento espírita europeu. “Como se sabe – advertiu Kardec –, o que falta
aos que confundem o Espiritismo com a charlatanice é saber o que é o
Espiritismo. Sem dúvida poderão sabê-lo pelos livros, quando se derem à pena.
Mas, que é a teoria ao lado da prática?” “Não basta dizer que a doutrina é
bela; é necessário que os que a professam mostrem a sua aplicação.” (Págs. 315
e 316.)
224. Num artigo
logo a seguir, Kardec diz que começava a acalmar-se a situação causada pelos
irmãos Davenport, após a bordoada lançada pela imprensa contra eles e o
Espiritismo. Este, contudo, saíra incólume aos golpes recebidos, porque muitas
vozes respeitáveis se levantaram para mostrar que o Espiritismo não pode ser
confundido com seus adeptos. Exemplo dessas manifestações publicadas pela
imprensa é a carta do Sr. Breux, de Perpignan, divulgada a 8 de outubro pelo Journal
des Pyrénées-Orientales. (Págs. 320 e 321.)
225. O
Codificador, depois de transcrever a carta referida, acrescentou: “Todas as
refutações que temos sob os olhos, e que foram dirigidas aos jornais, protestam
contra a confusão que fizeram entre o Espiritismo e as sessões dos srs.
Davenport. Se, pois, a crítica persiste em torná-los solidários, é porque o
quer”. (Pág. 322.)
226. Em um
poema intitulado “Um fenômeno”, de sua autoria, o Sr. Dombre, de Marmande,
alude indiretamente ao tema tratado por Kardec, quando lembra, em sua estrofe
final: “A verdade sempre tem sua contrafação:/ Cabe-nos distinguir, pela
comparação,/ A verdade do embuste.” E conclui: “Para julgar direito os efeitos
e as causas,/ Ao céptico faltam duas coisas:/ Um pouco de modéstia – e boa fé.”
(Págs. 315 e 316.)
227. Sob o
título “O Espiritismo no Brasil”, Kardec informa que no jornal Diário da
Bahia fora publicada no dia 28 de setembro de 1865, a pedido de Luís
Olympio Telles de Menezes, José Alvares do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos,
uma refutação a um artigo do dr. Déchambre, contrário ao Espiritismo, publicado
no dia anterior pelo mesmo jornal. Elogiando a iniciativa dos confrades da
Bahia, Kardec afirma que as citações textuais das obras espíritas, como eles
haviam feito, são a melhor refutação das deformações que certos críticos tentam
impor à doutrina, visto que esta se justifica por si mesma. (Págs. 323 a 325.)
228. Aludindo a
uma carta do Sr. Repos Filho, de Constantinopla, onde o cólera acabara de fazer
pelo menos 70 mil vítimas, Kardec observa que seria absurdo crer que a fé
espírita pudesse ser um brevê de garantia contra a referida doença. Já estava,
porém, comprovado cientificamente que o medo, enfraquecendo o moral e o físico
das pessoas, torna o homem mais impressionável e mais suscetível de ser
atingido pelas moléstias contagiosas. Ora, toda causa tendente a fortificar o
moral é um preservativo e só assim, nesse sentido, é que se pode dizer que a fé
espírita pode ajudar na prevenção de certas enfermidades, o que não significa
que os espíritas sejam imunes a elas. (Págs. 325 a 328.)
229. A razão é
simples: a fé espírita dá serenidade à alma e essa serenidade secunda a
eficácia dos remédios, ao passo que a perspectiva do nada mergulha o moribundo
na ansiedade do desespero que em nada contribui para a sua melhora. Além dessa
influência moral, o Espiritismo produz outra mais material: a moderação nos
hábitos e o abandono dos excessos e dos vícios, o que concorre para uma vida
mais saudável. (Págs. 328 e 329.)
230. A
propósito do cólera numerosas comunicações foram dadas na Sociedade Espírita de
Paris, das quais a Revista transcreveu uma delas, assinada pelo doutor Demeure.
(Págs. 329 a 331.)
231. Da
mensagem do dr. Demeure destacamos as informações seguintes: I – O cólera não é
uma afecção imediatamente contagiosa; por isso, os que vivem onde ela grasse
não devem temer prestar socorros aos enfermos. II – Não existia então um
remédio universal contra essa moléstia, visto como o mal varia de conformidade
com o temperamento dos indivíduos, seu estado moral, seus hábitos e o clima.
III – O melhor preservativo consistia, pois, nas precauções de higiene
sabiamente recomendadas pelos especialistas encarnados. IV – O medo, em casos
semelhantes, é, muitas vezes, pior que o mal em si mesmo. A confiança em si e
em Deus é, portanto, em tais circunstâncias, o primeiro elemento da saúde.
(Págs. 329 a 331.)
232. Com o
título “Um novo Nabucodonosor”, a Revista relata em todas as suas minúcias o
caso do jovem Alexandre R..., que vivia na cidade de Kazan, na Rússia, onde
cursava a Universidade, até que foi envolvido por uma obsessão terrível causada
por seu irmão Voldemar, morto aos 16 anos. A partir daí, por mais de 20 anos,
Alexandre viveu só, sem roupas, numa espécie de cabana que não possuía portas
nem janelas, exposto assim ao vento e ao frio que, naquela região, chegava a 30
graus abaixo de zero. Evocado na Sociedade Espírita de Paris, o obsessor
confirmou que era ele que dominava o irmão e assim o punia pelo não cumprimento
de uma promessa. Um Espírito protetor, comunicando-se em seguida, confirmou a
história e disse que o fato tinha origem no passado dos dois rapazes. (Págs.
331 a 337.)
233. A alusão
ao rei Nabucodonosor, feita por um sonâmbulo inglês, tinha fundamento, porque
Nabucodonosor – explicou o protetor espiritual – não passara de um obsidiado
que agia, quando em crise, como uma fera. Alexandre R... também se comportava e
dava urros como se fera fosse. (Pág. 337.)
Respostas às questões propostas
A. A passagem
dos irmãos Davenport pela Europa foi prejudicial ao movimento espírita?
Evidentemente.
A presença deles foi bastante prejudicial ao movimento espírita europeu. “Como
se sabe – advertiu Kardec –, o que falta aos que confundem o Espiritismo com a
charlatanice é saber o que é o Espiritismo. Sem dúvida poderão sabê-lo pelos
livros, quando se derem à pena. Mas, que é a teoria ao lado da prática?” “Não
basta dizer que a doutrina é bela; é necessário que os que a professam mostrem
a sua aplicação.” O mau exemplo dado pelos médiuns americanos é que deu causa a
esses comentários de Kardec. (Revista Espírita de 1865, pp. 315 a 316.)
B. Chegou a
Kardec notícia sobre o Espiritismo no Brasil?
Sim. Sob o
título “O Espiritismo no Brasil”, Kardec informa que no jornal Diário da Bahia
fora publicada no dia 28 de setembro de 1865, a pedido de Luís Olympio Telles
de Menezes, José Álvares do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos, uma refutação
a um artigo do dr. Déchambre, contrário ao Espiritismo, publicado no dia
anterior pelo mesmo jornal. O Codificador elogiou a iniciativa dos confrades da
Bahia. (Obra citada, pp. 323 a 325.)
C. A fé espírita pode ajudar na prevenção de certas
enfermidades?
Sobre este assunto, Kardec diz que toda causa
tendente a fortificar o moral é um preservativo e só assim, nesse sentido, é
que se pode dizer que a fé espírita pode ajudar na prevenção de certas
enfermidades,
o que não significa que os espíritas sejam imunes a elas. A razão é simples: a
fé espírita dá serenidade à alma e essa serenidade secunda a eficácia dos
remédios, ao passo que a perspectiva do nada mergulha o moribundo na ansiedade
do desespero que em nada contribui para a sua melhora. (Obra citada, pp. 325 a
328.)
Observação:
Para
acessar a Parte 18 deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/07/revista-espirita-de-1865-allan-kardec_0673354714.html
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