domingo, 19 de janeiro de 2025

 


  Por que Kardec mudou de ideia quanto à possessão?

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Em sua obra O Livro dos Médiuns, publicada no ano de 1861, Kardec escreveu que a obsessão pode apresentar-se sob três diferentes formas ou graus: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação, rejeitando assim a existência das hipóteses de possessão.

Anos depois, em seu livro A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, publicado em 1868, ele voltou ao assunto, admitindo dessa vez a existência da possessão não apenas nos casos de ação espiritual maléfica, mas também em ações promovidas por um bom Espírito.

Diante disso, muitos ainda se acham confusos e, por isso, indagam:

- Há ou não há possessão?

- Como entender a divergência entre dois textos escritos pelo mesmo autor?

- No caso da possessão atribuída a um bom Espírito, podemos dizer que se trata da chamada incorporação mediúnica mencionada por Léon Denis na obra No Invisível?

Quem estuda as obras fundamentais do Espiritismo sabe perfeitamente que Allan Kardec mudou de ideia com relação à possessão, que ele havia rejeitado até O Livro dos Médiuns e depois admitiu claramente, primeiro na Revista Espírita, depois em sua última obra, A Gênese.

Quando produzida por um mau Espírito – diz o Codificador – a possessão tem todos os característicos da subjugação, mas, diferentemente da subjugação, a possessão pode ser produzida por um bom Espírito e, neste caso, entendemos que pode aplicar-se ao fenômeno o nome de incorporação mencionado por Léon Denis e, décadas mais tarde, por André Luiz e outros autores.

A mudança de pensamento do Codificador deu-se por força dos fatos. É que demorou algum tempo para que ele conhecesse o fenômeno da incorporação, hoje tão conhecido dos que trabalham na área da mediunidade.

Na Revista Espírita ele alude ao episódio, que muito o impressionou na ocasião.

Trata-se do caso Júlia, acometida de possessão, que Kardec examinou na Revista, quando aproveitou o ensejo para retificar assertiva sua relativa à possessão, constante de suas primeiras obras. “Temos dito – escreveu Kardec – que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.” (Revista Espírita de 1863, pág. 373.)

Como dissemos, a análise publicada na Revista Espírita foi, anos depois, desenvolvida e publicada em A Gênese, cap. XIV, n. 47 e 48.

 

 

 

 

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