Por que Kardec mudou de ideia quanto à
possessão?
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
Em sua obra O
Livro dos Médiuns, publicada no ano de 1861, Kardec escreveu que a obsessão
pode apresentar-se sob três diferentes formas ou graus: a obsessão simples, a fascinação
e a subjugação, rejeitando assim a existência das hipóteses de possessão.
Anos depois, em seu livro A Gênese, os Milagres
e as Predições segundo o Espiritismo, publicado em 1868, ele voltou ao
assunto, admitindo dessa vez a existência da possessão não apenas nos casos de ação
espiritual maléfica, mas também em ações promovidas por um bom Espírito.
Diante disso, muitos ainda se acham confusos e, por
isso, indagam:
- Há ou não há possessão?
- Como entender a divergência entre dois textos
escritos pelo mesmo autor?
- No caso da possessão atribuída a um bom Espírito,
podemos dizer que se trata da chamada incorporação mediúnica mencionada por
Léon Denis na obra No Invisível?
Quem estuda as obras fundamentais do Espiritismo
sabe perfeitamente que Allan Kardec mudou de ideia com relação à possessão, que
ele havia rejeitado até O Livro dos Médiuns e depois admitiu
claramente, primeiro na Revista Espírita, depois em sua última obra, A
Gênese.
Quando produzida por um mau Espírito – diz o
Codificador – a possessão tem todos os característicos da subjugação, mas,
diferentemente da subjugação, a possessão pode ser produzida por um bom
Espírito e, neste caso, entendemos que pode aplicar-se ao fenômeno o nome de
incorporação mencionado por Léon Denis e, décadas mais tarde, por André Luiz e
outros autores.
A mudança de pensamento do Codificador deu-se por
força dos fatos. É que demorou algum tempo para que ele conhecesse o fenômeno
da incorporação, hoje tão conhecido dos que trabalham na área da mediunidade.
Na Revista Espírita ele alude ao episódio, que
muito o impressionou na ocasião.
Trata-se do caso Júlia, acometida de possessão, que
Kardec examinou na Revista, quando aproveitou o ensejo para retificar assertiva
sua relativa à possessão, constante de suas primeiras obras. “Temos dito – escreveu
Kardec – que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas
subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado
que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial,
de um Espírito errante a um encarnado.” (Revista Espírita de 1863,
pág. 373.)
Como dissemos, a análise publicada na Revista Espírita
foi, anos depois, desenvolvida e publicada em A Gênese, cap. XIV, n. 47
e 48.
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