quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

 


Revista Espírita de 1867

 

Allan Kardec

 

Parte 10

 

Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

A coleção do ano de 1867 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec, que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.

Cada parte do estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:

a) questões preliminares;

b) texto para leitura.

As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

 

Questões preliminares

 

A. O impacto da realidade post mortem é maior sobre os materialistas?

B. Espíritos podem ser trazidos à reunião mediúnica apenas para serem auxiliados?

C. Como explicar o remorso?

 

Texto para leitura

 

120. A Revista reproduz notícia publicada pelo jornal Figaro de 5 de julho, pertinente a um julgamento realizado pelo tribunal de Bordeaux e que envolvia, como testemunha, o “feiticeiro de Cauderon”, epíteto atribuído ao Sr. Simonet, um médium curador que, segundo a imprensa, atendia cerca de mil pessoas diariamente no estabelecimento em que trabalhava. (Págs. 235 e 236.)

121. No tribunal, inquirido pelo magistrado, Simonet explicou: “Eu não curo todo o mundo; mas é preciso crer que eu faço curas, porque no dia em que a justiça veio havia mais de 1.500 pessoas que esperavam a sua vez”. (Pág. 236.)

122. Reportando-se ao caso, Kardec informa que o Sr. Simonet, marceneiro de profissão e espírita há muito tempo, vendo que muitos operários, seus colegas de trabalho, se feriam ou adoeciam nos serviços de construção de um grande estabelecimento localizado em Cauderon, subúrbio de Bordeaux, foi instintivamente levado a deles cuidar por meio do magnetismo. Como ele conseguira curar a muitos, a notícia das curas logo se espalhou e foi assim que uma multidão de doentes começou a buscar ali atendimento. Como os enfermos se acotovelassem à porta, os empreiteiros do estabelecimento tiveram a infeliz ideia de cobrar dez cêntimos por pessoa, valor que depois subiu para vinte cêntimos, o que, dada a afluência, produzia uma soma bem elevada, de que o médium nada usufruía, tanto que no julgamento apenas os proprietários do negócio foram condenados. (Págs. 237 e 238.)

123. Simonet curava realmente? Kardec diz que sim, apoiado no testemunho de pessoas dignas de fé que lhe relataram numerosos casos de cura perfeitamente autênticos. Além disso, Simonet era um homem suave, simples, modesto. Benevolente com os doentes, a todos encorajava por boas palavras e tinha igual solicitude tanto pelos miseráveis quanto pelos mais ricos. (Pág. 238.)

124. Um médico – Dr. Claudius –, que em vida fora materialista, transmitiu na Sociedade Espírita de Paris por intermédio do Sr. Morin, posto em estado sonambúlico, as informações que adiante resumimos: I – A dúvida ainda constituía o seu tormento; a incerteza de sua situação o mergulhara numa terrível perplexidade, e aí estava a sua punição. II – Encontrara antigos amigos que morreram antes, e não entendia como isso era possível. III – Via, mas via demasiado tarde, todo o mal que fizera, e entendia então que, reparando-o pouco a pouco, talvez um dia fosse digno de ver e fazer o bem.  (Págs. 239 a 241.)

125. A comunicação do Dr. Claudius foi toda ela entrecortada de exclamações e interrogações, o que indica que ele não compreendia bem o que dizia e que o impacto da realidade post mortem é maior ainda sobre os que durante a encarnação professam ideias materialistas. Comentando-a, lembra Kardec que, como sabemos, a inteligência não basta para conduzir as pessoas pelo caminho da verdade. (Pág. 241.)

126. Num dos grupos espíritas existentes em Marselha, a sra. T... recebeu psicograficamente uma comunicação de um operário que dias antes havia desencarnado no desmoronamento de uma ponte. O operário também fora materialista na Terra. Da mensagem destacamos estas informações: I – O comunicante dizia estar em trevas, mas havia conseguido seguir um raio luminoso de um Espírito (pelo menos é o que lhe disseram, embora ele não acreditasse em Espíritos). II – Nada do que via ele compreendia. III – Via-se duplo: um corpo mutilado jazia a seu lado, mas ele se sentia vivo. IV – Via os parentes desolados e os companheiros de infortúnio, que também tinham dificuldades para ver as coisas. (Pág. 242.)

127. Em seguida à comunicação, o guia da médium explicou que o infeliz irmão fora conduzido até ali para ser ajudado. A tarefa não seria muito difícil, porque o essencial para compreendê-la o Espírito tinha: a bondade do coração. Era indispensável, porém, que o grupo espírita se fortalecesse, sustentando-se seus componentes uns aos outros, porque, para bem combater os obstáculos exteriores, é preciso, antes de tudo, ter vencido a si mesmo. “Deveis manter uma disciplina severa para o vosso coração”, recomendou-lhe o amigo espiritual. “A menor infração deve ser reprimida, sem buscar atenuar a falta, senão não sereis jamais vencedores dos outros.” (Pág. 243.)

128. Após reproduzir notícia do Siècle de 10 de julho, relativa à instalação em Metz do Círculo Messino da Liga do Ensino, Kardec diz sentir-se feliz com a concretização das ideias de Jean Macé, a quem ele criticara não o projeto em si, mas somente o modo de execução. Em Metz, logo que empossada, a comissão diretora decidiu começar o trabalho pela fundação de uma biblioteca popular. (Págs. 243 e 244.)

129. Na seção de variedades, a Revista destaca dois fatos: I – A visita feita ao Hospital de Caridade pela Dra. Walker, uma médica americana, doutora em cirurgia, que se tornou célebre durante a Guerra da Secessão. Recebida com muita simpatia e respeito, a presença da Dra. Walker no Hospital de Caridade consagrava um princípio novo que se espalhava por todo o mundo: a igualdade da mulher perante a Ciência. II – O encontro em Paris do sultão Hairoulah-Effendi com o Monsenhor Chigi, Núncio Apostólico, e o Arcebispo de Paris. Comentando o fato, Kardec diz que os ódios religiosos eram anomalias naquele século e que uma das consequências do progresso moral será certamente um dia a unificação das crenças, o que se dará quando os diferentes cultos reconhecerem que existe um só Deus e que é absurdo e indigno dele lançar-se anátemas porque os homens não o adoram da mesma maneira. (Págs. 244 e 245.)

130. A Revista transcreve do Journal de Bruxelles um caso inusitado e interessante, relacionado com um operário de nome Jean Ryzak, que, levado à presença do burgomestre, confessou ter cometido, doze anos antes, um crime torpe. Ele matara um de seus amigos para ficar com seu soldo. Cometido o crime, o remorso começou a fazer-se sentir; mais tarde, o espectro de sua vítima passou a persegui-lo noite e dia. Tais foram as razões da surpreendente confissão. (Págs. 245 e 246.)

131. Em 10 de maio de 1867, na Sociedade Espírita de Paris, duas comunicações trataram do caso, transmitindo os ensinamentos que se seguem: I – Cada ser tem a liberdade do bem e do mal, a que chamamos de livre-arbítrio. II – O homem tem em si a consciência que o adverte quando faz ou deixa de fazer qualquer coisa. III – A consciência produz dois efeitos distintos: a satisfação de haver agido bem, a paz que deixa o sentimento do dever cumprido; e o remorso que penetra e tortura quando se praticou uma ação reprovada por Deus ou pelos homens. IV – O remorso é como uma serpente de mil voltas, que circula em redor do coração e o devasta. V – O mal carrega em si a sua pena, pelo remorso que deixa e pelos reproches feitos só pela presença das pessoas contra quem se agiu mal. (Págs. 246 a 248.)

132. Analisando o assunto, Kardec observa: “Se o remorso já é um suplício na Terra, quão maior não o será no mundo dos Espíritos, onde não é possível subtrair-se à vista daqueles a quem se ofendeu”. “O remorso é uma consequência do desenvolvimento do senso moral; não existe onde o senso moral ainda se acha em estado latente. É por isto que os povos selvagens e bárbaros cometem sem remorso as piores ações.” (Pág. 248.)

133. Comunicação transmitida na Sociedade de Paris por intermédio do Sr. T..., em estado de sonambulismo espontâneo, analisou a preocupação que os progressos do Espiritismo causavam aos seus inimigos e os diversos ardis que estes haviam empregado e ainda empregavam para deter sua marcha. No final da mensagem, o comunicante pediu aos companheiros que orassem pelos irmãos transviados, a fim de que aproveitassem os curtos instantes de mora que lhes eram concedidos, antes que a justiça de Deus os alcançasse. (Págs. 249 a 252.)

134. Em nota aposta em seguida à mensagem, Kardec diz que o sonambulismo espontâneo não é senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento fora anunciado tempos atrás. Segundo o Codificador, é nos momentos de crise geral ou de perseguição que as pessoas dotadas dessa faculdade se tornam mais numerosas do que nos tempos normais. A visão a distância e independente dos órgãos é explicada pelo Espiritismo pelas propriedades da alma e por sua capacidade de expansão e desprendimento. (Pág. 253.) 

 

Respostas às questões propostas

 

A. O impacto da realidade post mortem é maior sobre os materialistas?

Sim. Exemplo disso é a comunicação transmitida pelo Espírito do Dr. Claudius, médico que em vida fora materialista. Sua comunicação foi toda entrecortada de exclamações e interrogações, o que mostra que ele não compreendia bem o que dizia e que o impacto da realidade post mortem é maior sobre os que durante a encarnação professam ideias materialistas. (Revista Espírita de 1867, pp. 239 a 241.)

B. Espíritos podem ser trazidos à reunião mediúnica apenas para serem auxiliados?

Sim. Tal como ocorre atualmente nos centros espíritas, isso se verificava também à época de Kardec. Num dos grupos espíritas existentes em Marselha, a sra. T... recebeu uma comunicação de um operário que dias antes havia desencarnado no desmoronamento de uma ponte. O comunicante dizia estar em trevas, e o pouco que conseguia ver ele não compreendia. Via-se duplo: um corpo mutilado jazia a seu lado, mas ele se sentia vivo. Via também os parentes desolados e os companheiros de infortúnio, que também tinham dificuldades para ver as coisas. O guia da médium explicou, então, que o infeliz irmão fora conduzido até ali para ser ajudado, e a tarefa não seria muito difícil, porque o essencial para compreendê-la o Espírito tinha: a bondade do coração. (Obra citada, pp. 242 e 243.)

C. Como explicar o remorso?

Kardec refere-se ao assunto ao comentar o caso de um operário de nome Jean Ryzak que, levado à presença do burgomestre, confessou ter cometido, doze anos antes, um crime torpe. Ele matara um de seus amigos para ficar com seu soldo. Cometido o crime, o remorso começou a fazer-se sentir; mais tarde, o espectro de sua vítima passou a persegui-lo noite e dia. Tais foram as razões da surpreendente confissão. Em 10 de maio de 1867, na Sociedade Espírita de Paris, duas comunicações trataram do caso, transmitindo os ensinamentos que se seguem: I – Cada ser tem a liberdade do bem e do mal, a que chamamos de livre-arbítrio. II – O homem tem em si a consciência que o adverte quando faz ou deixa de fazer qualquer coisa. III – A consciência produz dois efeitos distintos: a satisfação de haver agido bem, a paz que deixa o sentimento do dever cumprido; e o remorso que penetra e tortura quando se praticou uma ação reprovada por Deus ou pelos homens. IV – O remorso é como uma serpente de mil voltas, que circula em redor do coração e o devasta. V – O mal carrega em si a sua pena, pelo remorso que deixa e pelos reproches feitos só pela presença das pessoas contra quem se agiu mal. (Obra citada, pp. 245 a 248.) 

 

Observação:

Para acessar a Parte 9 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui:  https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/01/revista-espirita-de-1867-allan-kardec_15.html

 

 

 


 

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