Revista Espírita de 1867
Allan Kardec
Parte 9
Damos prosseguimento ao estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1867, periódico editado e dirigido por Allan Kardec.
O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho
publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1867 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. A lei que
pune o exercício legal da medicina pode aplicar-se aos magnetizadores?
B. Os bons
pensamentos produzem algum resultado?
C. Segundo
Kardec, o que é que fez a doutrina espírita e deverá completá-la?
Texto para leitura
105. No artigo Kardec indaga se as pessoas que tratam os doentes
pelo magnetismo, pela água magnetizada, pela imposição das mãos, pela prece ou
pelo concurso direto dos Espíritos seriam passíveis de sanções penais pelo
exercício ilegal da medicina. (Pág. 203.)
106. Embora os termos da lei fossem muito elásticos, o Codificador
faz, sobre o assunto, as seguintes considerações: I – A rigor não se pode
considerar como exercendo a arte de curar senão os que fazem disso profissão,
isto é, que tiram proveito das curas. II – Haviam-se, no entanto, registrado
condenações contra indivíduos que se ocupavam desses cuidados por puro
devotamento, sem nenhum interesse, ostensivo ou dissimulado. III – O delito
seria, pois, a prescrição de remédios, embora o desinteresse notório geralmente
fosse levado em consideração, como atenuante. (Pág. 203.)
107. Até aquele momento, observa Kardec, não se havia pensado que
fosse possível operar uma cura sem medicamentos; por isso a lei não previu o
caso dos tratamentos curativos sem remédios e não seria senão por extensão a
sua aplicação a magnetizadores e médiuns curadores. Ora, não reconhecendo a
medicina nenhuma eficácia no magnetismo e seus anexos, e menos ainda na
intervenção dos Espíritos, não se poderia legalmente condenar pelo exercício
ilegal da medicina os magnetizadores e os médiuns curadores que nada
prescrevem, a não ser a água magnetizada. (Págs. 203 e 204.)
108. Concluindo o artigo, diz Kardec que, segundo seu
entendimento, se o médium curador nada prescreve e nada recebe em paga por seu
trabalho, a lei não pode atingi-lo. E adverte: “Não há nenhum poder no mundo
que possa opor-se ao exercício da mediunidade ou magnetização curadora, na
verdadeira acepção da palavra”. (Pág. 204.)
109. Uma carta sob o título “Illiers e os espíritas” publicada no Jornal
de Chartres de 26 de maio de 1867 motivou de Kardec um longo artigo em
defesa do Sr. Grezelle, espírita radicado em La Certellerie, injustamente
atacado na referida correspondência. (Págs. 204 a 212.)
110. Grezelle fora, na verdade, vítima de perseguição do cura
local por causa de seu envolvimento com o Espiritismo. “O cura me repele do
confessionário porque sou espírita”, disse o confrade em carta também publicada
no citado periódico. “Se eu viesse a ele carregado de todos os crimes
possíveis, ele me absolveria; mas espírita, crente em Deus e fazendo o bem
segundo o meu poder, não encontra graça aos seus olhos.” (Pág. 207.)
111. Kardec diz que um dos correspondentes da Revista, o Sr.
Quômes d’Arras, homem de ciência e distinto escritor, dirigiu-se até os locais
citados na carta, a fim de se inteirar pessoalmente dos fatos, após o que
enviou ao Codificador um relato minucioso de suas investigações. (Pág. 209.)
112. Com base nesse relato, Kardec faz então as observações que se
seguem: I – Grezelle era excelente pedreiro e bom pai de família e todos, em La
Certellerie, reconheciam o seu bom senso e seus hábitos de ordem e trabalho. II
– Na região ele não era o único partidário do Espiritismo, que contava ali
numerosos e dedicados adeptos. III – Aos 45 anos de idade, Grezelle era casado
e tinha dois filhos, ambos médiuns escreventes, como o pai. Essa era a
verdadeira causa dos sentimentos adversos de que ele e sua família eram objeto.
IV – Em sua casa, o Sr. Quômes participou de uma sessão espírita composta de
dezoito pessoas, entre as quais se achavam o prefeito e várias pessoas de
notória honorabilidade. V – Tudo na reunião se passou na melhor ordem. A sessão
se iniciou com uma prece, durante a qual todos se ajoelharam. “Como temos dito
– concluiu Kardec –, as perseguições são o prêmio inevitável de todas as
grandes ideias novas, que todas têm tido os seus mártires. Os que as suportam
um dia serão felizes por haverem sofrido pelo triunfo da verdade.” (Págs. 209 a
212.)
113. Vários Espíritos haviam previsto que um flagelo destruidor
iria ferir em breve a população da ilha Maurícia. Súbito uma moléstia estranha
rompeu na pobre ilha: uma febre sem nome que começa suavemente, depois aumenta
e derruba todos os que atinge. A doença tomou a feição de epidemia e todas as
pessoas atingidas não puderam curar-se. O fato é destacado em carta datada de 8
de maio por um correspondente da Revista radicado na ilha, o qual informa ainda
que os farmacêuticos aproveitaram o momento para aumentar de forma escandalosa
o preço do único medicamento que conseguia deter por algum tempo os acessos.
(Págs. 212 a 214.)
114. Lida a carta na Sociedade Espírita de Paris, um Espírito
transmitiu verbal e espontaneamente mensagem em que confirma o que a doutrina
espírita nos ensina sobre os chamados flagelos destruidores, lembrando, porém,
que eles não afetam o Espírito imortal, apenas a matéria. (Págs. 214 e 215.)
115. Um dos correspondentes da Revista, escrevendo de
Maine-et-Loire, relata o caso do Sr. X..., que se comunicou no dia seguinte ao
de seu passamento, dando, de modo espontâneo, prova indiscutível de sua
identidade. Embora o fato não seja raro, Kardec o aproveita para lembrar que as
provas de identidade dadas espontaneamente tocam mais o incrédulo do que certos
prodígios extraordinários que pouco o sensibilizem. (Págs. 215 e 216.)
116. A Revista transcreve o poema intitulado “Aos Espíritos
Protetores”, assinado por Jules-Stany Doinel (d’Aurillac). (Págs. 217 e 218.)
117. Na seção de livros novos, Kardec analisa a obra Roman de
l‘Avenir – Romance do Futuro – de E. Bonnemère, que ele recomenda
seja lida e divulgada por ter lugar marcado na biblioteca dos espíritas.
Segundo as explicações de seu autor, constantes do prefácio, o romance teria
sido escrito mediunicamente por um jovem de 25 anos que ele conheceu em modesta
aldeia da Bretanha. (Págs. 219 a 226.)
118. Fechando o número de julho, a Revista reproduz uma
comunicação psicografada em 24 de março pelo Sr. Rul, na qual o comunicante faz
as seguintes considerações: I – O orgulho é filho da ignorância. II – Há
relação entre o estado da alma e a natureza dos fluidos que a envolvem. III -
Se a alma pura saneia os fluidos, o pensamento impuro os vicia. IV – Não basta
à pessoa querer melhorar-se para expulsar os Espíritos que a influenciam no
mal, porque estes procuram retê-la em sua atmosfera malsã. V – Os bons
Espíritos a esclarecem e lhe trazem a força de que ela necessita para lutar
contra a influência dos maus, mas depois se afastam. VI – Somos solidários uns
com os outros e não há um só pensamento bom que não leve consigo frutos de
amor, de melhora e de progresso moral. (Págs. 226 e 227.)
119. Kardec analisa o romance-folhetim Fernanda, que o Sr. Jules
Doinel (d’Aurillac) publicou em maio e junho de 1866 no Moniteur du Cantal. Depois de elogiar a novela e lhe opor apenas
dois reparos, o Codificador assevera que é a universalidade do ensino,
sancionado pela lógica, que fez e completará a doutrina espírita. “A aliança
que se pretendesse estabelecer das ideias espíritas com ideias contraditórias –
afirmou Kardec – não pode ser senão efêmera e localizada.” (Págs. 229 a 235.)
Respostas às questões propostas
A. A lei que pune o exercício legal da medicina pode aplicar-se
aos magnetizadores?
Segundo Kardec, não. E o motivo desse entendimento é bem simples.
Não reconhecendo a medicina nenhuma eficácia no magnetismo e menos ainda na
intervenção dos Espíritos, não se pode legalmente condenar pelo exercício
ilegal da medicina os magnetizadores e os médiuns curadores, que nada
prescrevem, a não ser a água magnetizada. (Revista Espírita de 1867, pp.
203 e 204.)
B. Os bons pensamentos produzem algum resultado?
Sim. É o que diz um amigo espiritual numa comunicação psicografada
em 24 de março pelo Sr. Rul. Segundo a mensagem, não há um só pensamento bom
que não leve consigo frutos de amor, de melhora e de progresso moral. (Obra
citada, pp. 226 e 227.)
C. Segundo Kardec, o que é que fez a doutrina espírita e deverá
completá-la?
O Codificador assevera que é a universalidade do ensino,
sancionado pela lógica, que fez e completará a doutrina espírita. “A aliança
que se pretendesse estabelecer das ideias espíritas com ideias contraditórias –
disse Kardec – não pode ser senão efêmera e localizada.” (Obra citada, pp. 229
a 235.)
Observação:
Para acessar a Parte 8 deste estudo, publicada na semana passada,
clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2025/01/revista-espirita-de-1867-allan-kardec_01881043800.html
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