Um dileto
amigo, atualmente radicado em Atibaia (SP), pergunta-nos qual é a posição do
Espiritismo a respeito da cremação de cadáveres humanos.
Antes de
responder a esta pergunta, é bom lembrar que foi em 1774 que começou no mundo o
movimento pró-cremação, uma iniciativa do abade Scipion Piattoli, o qual se
expandiu pela Suíça, Alemanha, Inglaterra, França etc. No século seguinte, uma
lei de 1886 consagrou na França o direito à escolha pela sepultura ou pela
cremação.
A cremação
apresenta vantagens e desvantagens.
No campo
econômico, as vantagens são evidentes. As despesas de funeral são reduzidas
enormemente, o espaço físico destinado aos cemitérios não se torna mais
necessário e, em vez de mausoléus, sempre muito caros, uma urna pequena resolve
o problema de acondicionamento das cinzas, se a família pretender conservá-las.
No aspecto
higiênico ou sanitário, a cremação é considerada também, em muitos casos, a
solução ideal. Especialistas propõem a incineração obrigatória em casos de
morte por moléstia contagiosa, como tifo, varíola, escarlatina, tanto quanto
nas epidemias, em que apenas o fogo pode ensejar um saneamento em regra.
Já no campo
jurídico, há quem seja contrário à cremação baseado no fato de que, uma vez
destruído o cadáver, torna-se impossível toda e qualquer verificação post mortem
que se fizer necessária.
No tocante ao
Espiritismo, nada existe nas obras Allan Kardec sobre o assunto, um fato
curioso tendo em vista que a cremação era e continua sendo um procedimento
comum em alguns países importantes, como a Índia e Portugal.
Em face da
inexistência de uma orientação específica na Codificação Kardequiana, as
opiniões no meio espírita são divergentes.
Léon Denis,
por exemplo, prefere a inumação, em vez da cremação, tendo em vista que a
cremação provoca desprendimento mais rápido, mais brusco e violento da entidade
desencarnante, além de ser muito doloroso para as almas apegadas à Terra.
Como sabemos,
determinados Espíritos permanecem algum tempo imantados ao corpo material após
o transe da morte, como acontece principalmente com os suicidas. O rompimento
do cordão fluídico nem sempre se consuma num curto espaço de tempo. Nessas
condições, o desencarnado é como se fosse um morto-vivo cuja percepção
sensória, para sua desventura, continua presente e atuante. A cremação viria
causar-lhe um angustiante trauma, o que seria "aumentar a aflição ao
aflito".
Richard
Simonetti entende que, embora o cadáver não transmita sensações ao Espírito,
este experimentará obviamente "impressões extremamente desagradáveis"
se no ato crematório a entidade estiver ainda ligada ao corpo.
Paul Bodier
acha que "a incineração, tal como se pratica entre nós, é, com efeito,
prematura demais". Talvez, por isso a inumação devesse ser o processo
normal, só se cremando os cadáveres com sinais evidentes de putrefação.
Emmanuel
afirmou, todavia, por intermédio de Chico Xavier, que "a cremação é
legítima para todos aqueles que a desejam, desde que haja um período de, pelo
menos, 72 horas de expectação para a ocorrência em qualquer forno
crematório".
Ao
considerá-la legítima, Emmanuel quer dizer que não se trata de algo que fira as
leis naturais, sendo, porém, importante que o falecido haja feito tal escolha e
que se observe o prazo mencionado.
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