Cínthia Cortegoso
De Londrina-PR
De Londrina-PR
Aproximando-se das seis da tarde, numa das calçadas
centrais de uma antiga cidade francesa, desciam menina e mulher, com laços de
mãe e filha. A garotinha aparentava uns oito anos, poderia ter mais, no
entanto, a aparência franzina era próxima disso.
Vinham em silêncio, de mãos dadas, com penúria de tudo o
que fosse material. Roupas gastas e poucas para o frio temeroso. Os sapatos
apenas isolavam do chão a sola do pé, e ainda um pouco além de seus números. O
sentimento carinhoso era recíproco.
Após a caminhada de uma quadra em total silêncio de
palavras, mas com a harmonia latente, e sabe-se lá quanto mais já haviam
andado, chegaram quase ao final deste quarteirão.
Um senhor, com
carrinho de doces, estava parado na calçada; decerto havia permanecido lá o dia
todo, satisfazendo quem pudesse pagar pelas guloseimas e aguçando ainda mais a
vontade de quem não possuía uma moeda sequer em qualquer esconderijo da roupa.
Assim eram as duas jovens que desciam – jovem, pois, mesmo aparentando ser mãe,
a maior era bastante nova para o posto.
Quando passaram bem rente ao carrinho de doces - esses
conhecidos no Brasil como os famosos pés-de-moleque ou ainda quebra-queixos -
foi nítido o engolir de saliva com sabor de vontade e fome da menina. O
vendedor, apoiando o pé direito em uma das rodas, presenciou e compreendeu o
que ocorrera.
– Não estou com vontade não, mamãe – a pequenina frágil
disse rápido, pois nos olhos da mãe estava visível a insatisfação de nem ao
menos o doce poder oferecer à filha.
– Além disso, mamãe, não são desses que eu gosto – a
garotinha reforçou o aperto na mão materna e estreitou o sentimento.
O sino da matriz anunciou seis em ponto. Prosseguiram
a jornada, mas, na verdade, não sabiam de onde vinham nem para onde iriam,
simplesmente, com amor, continuaram.
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