CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
– Bom dia, D. Raquel. Tudo bem? – cumprimentei minha
vizinha de há muito tempo.
– Bom dia, minha menina. Estou bem – respondeu-me com a
elegância que sempre a compusera.
D. Raquel sabia meu nome, pois me conhecia desde a
infância. Um dia me confidenciou que quando me chamava de “minha menina”,
sentia em seu coração como se eu fosse um pouquinho mais dela – talvez por seus
filhos e netos não estarem tão presentes. Toda família era da Espanha e uma ou
duas vezes ao ano os parentes a visitavam. Ela viera para o Brasil ainda jovem.
Então, como me aproximei da grade do quintal, ela, com a
“performance” permitida por suas quase oito décadas e meia, “correu” para prolongar
a conversa.
– E você, tudo bem? – perguntou-me ternamente.
– Sim, estou sim – respondi-lhe com carinho.
– Quero lhe dar um presente – falou-me tão generosa.
– Outro, D. Raquel? – surpreendi-me. – A senhora me presenteou terça passada – procurei lembrá-la do último “regalo”.
– Eu sei. Mas se podemos e queremos, por que não fazer? – explicou-me
com a sabedoria que lhe era própria. – Tenho aqui um livro que muitas vezes li
e sempre me encantou – ela o passou pelo
vão da grade.
– Ah, D. Raquel. Quanta gentileza! – agradeci-lhe.
– Não é só gentileza... é sintonia... é carinho – falou-me
com sua simplicidade peculiar.
O livro estava embrulhado e, sutilmente, retirei o papel, continuando
a conversa. Ela estava no quintal; eu, na calçada da rua. Quando olhei para a
capa do livro, lá estava o famoso clássico “Encontros e reencontros a céu
aberto”, de um conceituado escritor francês.
– Este é um livro que traz a história de incontáveis
pessoas que se (re)encontraram e se melhoraram, e trouxeram também à luz os que
as prejudicaram – falou-me com
autoridade da conhecedora que era.
– Que interessante! – extasiada, apenas essas duas
palavrinhas consegui pronunciar.
Olhando aquela tão querida senhora, percebi que há pessoas
com grande sabedoria e desenvolvimento que muito se dedicam a ajudar os outros
a também se aprimorarem. Essas pessoas podem ser chamadas de anjos e estão
muito próximas de nós. Podem ser o vizinho de infância ou qualquer outro
companheiro de jornada que tenha nos olhos o brilho do amor.
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