Um leitor de Mato Grosso do Sul pergunta-nos em que
obra Kardec examina de forma específica o tratamento e a cura das obsessões.
O tema obsessão é tratado pelo Codificador do
Espiritismo em vários textos publicados em O Livro dos Médiuns, A Gênese e na Revista
Espírita, em que o leitor atento verá até mesmo como a chamada doutrinação
dos Espíritos passou a fazer parte das sessões mediúnicas de desobsessão.
É, contudo, no livro O Evangelho segundo o Espiritismo que encontramos as orientações de
ordem prática que Kardec dedicou ao tratamento e à cura das obsessões. Essas
orientações compõem o cap. 28, itens 81 e seguintes, da obra citada.
A cura das obsessões graves, diz o Codificador, requer
muita paciência, perseverança e devotamento e exige tato e habilidade, a fim de
encaminhar para o bem Espíritos muitas vezes perversos, endurecidos e
astuciosos, porquanto os há rebeldes ao extremo. Na maioria dos casos, temos de
nos guiar pelas circunstâncias. Qualquer que seja, porém, o caráter do
Espírito, nada se obtém pelo constrangimento ou pela ameaça, porque toda
influência reside no ascendente moral.
Outra verdade igualmente comprovada pela experiência,
tanto quanto pela lógica, é a completa ineficácia dos exorcismos, de fórmulas,
palavras sacramentais, amuletos, talismãs, práticas exteriores, ou quaisquer
sinais materiais.
A obsessão muito prolongada pode ocasionar desordens
patológicas e reclama, por vezes, tratamento simultâneo ou consecutivo, quer
magnético, quer médico, para restabelecer a saúde do organismo. E mesmo quando
é afastada a causa, resta combater os efeitos.
No tocante ao indivíduo que sofre o processo – o
obsidiado –, é preciso que fortifique sua alma, pelo que é necessário que trabalhe
por sua própria melhoria, o que, na maioria dos casos, basta para o livrar do
obsessor, sem necessidade de recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz,
porém, indispensável quando a obsessão degenera em subjugação ou em possessão,
porque aí, como regra geral, o paciente perde a vontade e o livre-arbítrio.
Nos casos de obsessão grave, o obsidiado acha-se como
que envolvido e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos
fluidos salutares e os repele. É preciso, pois, desembaraçá-lo desse fluido.
Ocorre que um fluido mau não pode ser eliminado por outro fluido mau. Cumpre,
então, se elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido melhor, que produz,
de certo modo, o efeito de um reativo. Entram em ação, portanto, os chamados
passes magnéticos, que, contudo, não bastam.
É preciso, ainda, que se atue sobre o ser inteligente
que provoca a obsessão, ao qual importa se fale com autoridade, que só existe
onde há superioridade moral. O objetivo aí é convencer ou induzir o Espírito
perverso a renunciar aos seus desígnios maus e fazer que nele despontem o
arrependimento e o desejo do bem, por meio de instruções habilmente
ministradas, objetivando sua educação moral.
Por fim, concluindo as orientações pertinentes ao
assunto, Kardec diz que a tarefa desobsessiva se apresenta mais fácil quando o
obsidiado, compreendendo sua situação, presta o concurso de sua vontade e de
suas preces, modificando-se moralmente, adotando nova conduta e buscando
aprimorar-se espiritualmente, certo de que, no tocante à desobsessão, o melhor
médico é a própria pessoa que a sofre.
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