Ao mundo
Antônio Nobre
A Terra é o vasto abismo onde a alma chora,
O vale de amarguras do Salmista,
Lodoso chavascal(1) onde se avista
A podridão dos vermes que apavora.
Mas, para os grandes bens, para que exista
A perfeição da luz deslumbradora,
Precisamos da carne que aprimora
Com o camartelo(2) mágico do artista.
Terra, tranquilamente eu te abençoo...
Porque da tua dor alcei meu voo
Para a mansão das luzes opulentas;
Teu rigor nos redime e nos eleva;
Mas és ainda o cárcere da treva,
Triste mundo de chagas pustulentas!
(1) Chavascal: lugar imundo; chiqueiro; terra
estéril; mata de espinheiros e outras plantas silvestres; chavasqueiro.
(2) Camartelo: martelo
de canteiro ou de pedreiro, agudo ou com gume de um lado e redondo ou quadrado
do outro, e que se emprega para desbastar pedras, quebrar e assentar tijolos
etc.; fig. Tudo aquilo que serve para
demolir.
Antônio Nobre nasceu na cidade do
Porto (Portugal) e faleceu na Foz do Douro aos 33 anos de idade, em 18 de março
de 1900. O soneto acima integra o Parnaso
de Além-Túmulo, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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