JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amigo leitor, começo
parafraseando Fernando Pessoa, que tomou para si o espírito da frase “Navegar é
preciso, viver não é preciso” do italiano Petrarca, que, por sua vez, a
parafraseou de um general romano chamado Pompeu, o qual, para encorajar os
marinheiros medrosos, dizia-lhes: Navegare necesse, vivere non est necesse.
Pois bem, navegar é uma viagem
que exige precisão no percurso, o que, desde os tempos antigos, se alcançava
com o uso dos astrolábios, depois, das bússolas e, atualmente, por meio dos
GPS.
Quanto à navegação via
internet, world wide web, abreviada para www, essa viagem nem sempre é
precisa... Muitas vezes, não é preciso...
E viver, é preciso? Não, pois,
na vida, temos altos e baixos, não há precisão. Viver exige coragem,
determinação, escolhas e tentativas nem sempre as mais certas.
Agora, mudando um pouco a
paráfrase, já não sei se lhe digo que comunicar é preciso ou que é preciso
comunicar, mas o certo é que ocorre cada coisa na comunicação que até os
defuntos pulam de seus túmulos. Quer um exemplo? Leia isto:
Avisos paroquiais
Atenção, amados irmãos, neste
mês de fevereiro, haverá uma missa cantada por todos os defuntos de nossa
paróquia.
Outro aviso:
Por favor, coloquem suas
esmolas no envelope, junto com os defuntos que desejem que sejam lembrados.
Leia também estes:
Prezadas senhoras, não esqueçam
a próxima venda beneficente. É uma boa ocasião para se livrarem de coisas
inúteis. Tragam seus maridos.
O preço do curso sobre oração e
jejum não inclui as refeições.
Para todos os que têm filhos e
não sabem, temos na paróquia uma área especial para crianças.
Frases jornalísticas
Esta nova terapia traz
esperanças a todos aqueles que morrem de câncer a cada ano.
Ela contraiu a doença na época
em que estava viva.
A polícia e a justiça são as
duas mãos de um mesmo braço.
O presidente é um jovem
sexagenário de 80 anos.
Redações escolares
Maria viu seu irmão sentado em
sua cadeira.
De quem é a cadeira, dele, ou
dela?
As mulheres não compram só os
maridos.
Para quem não gosta de pontuar
fica o aviso: a falta de uma vírgula pode mudar completamente o sentido de uma
frase. Se houvesse sido colocada a vírgula após “compram”, no contexto da
frase, apenas os maridos seriam os compradores de algo.
José ficou no banco, quando viu
Joana com os binóculos.
Na frase acima, não se sabe em
que banco José ficou. No banco da praça? No banco comercial? No banco da
escola? Ó mistério!
E Joana foi vista por José
quando estava com binóculos ou José estava com binóculos quando viu Joana? Ó
dúvida cruel. É quando o aluno que escreveu tal “pérola literária” ameaça até
de morte a pobre professora com a justificativa de que, para ele, a frase só tem
um sentido. Para ele...
Outro dia, um amigo de meu
secretário falou-lhe o seguinte:
— Estou com vontade novamente
de ir a Paris.
Ao que Joteli perguntou-lhe:
— Quando você foi lá a última
vez?
Resposta do amigo:
— Nunca fui a Paris.
— Mas você não disse que queria
ir lá novamente?
— Não, o que eu disse foi que
“estava com vontade novamente” de ir lá; mas como não tenho dinheiro, fico só
na vontade.
Como podemos observar, amigo
leitor, a ambiguidade tanto pode servir para fazer humor, produzir textos
literários ou comerciais propositadamente com duplo sentido, como também
expressa ignorância crassa de quem fala ou escreve.
Para Pessoa, porém, o que é
preciso é criar; enquanto, para nós, para criar é preciso aprender, e, para
aprender, é preciso, é necessário viver, pois “Viver é aprender!”
Au revoir.
Visite
o blog Jorge, o sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/
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