quarta-feira, 12 de março de 2014

O jogo de azar como fonte de recursos


O confrade Altivo Ferreira, então vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, relatou certa vez em Curitiba, num simpósio sobre o Centro Espírita, um fato que ocorreu na cidade de Santos, onde determinada instituição espírita, às voltas com grandes dificuldades financeiras, decidiu realizar um bingo.
Evidentemente, as pessoas que a frequentavam dispuseram-se a ajudar. Dentre elas, um casal, que jamais assistira a um bingo, comprou cartelas para si e também para seus filhos. E na data aprazada lá estavam, todos eles, para participar daquilo que se tornou uma autêntica festa, tantos foram os amigos reunidos.
O casal gostou a tal ponto do que viu que, a partir de então, jamais perderia uma rodada de bingo, onde quer que ele se realizasse.
Altivo comentou na oportunidade que bastaria esse dado para anular os possíveis resultados financeiros proporcionados pelo bingo, um tipo de promoção que, além de ilegal, foi objeto de oportuna advertência feita por André Luiz num de seus livros.
A ideia de se utilizar jogos de azar, como rifas, vísporas e bingos, para captação de recursos destinados à manutenção das obras assistenciais espíritas, sempre esteve associada, em nosso meio, à influência de pessoas que migraram do Catolicismo para o Espiritismo trazendo consigo uma natural predisposição para essas práticas, tão comuns nas festividades católicas.
Com efeito, nas festas organizadas pela Igreja, como as comemorações do Mês de Maria, tem sido muito forte, sobretudo nas comunidades do interior, o recurso aos bingos, esquecidos todos dos malefícios inerentes a essa modalidade de jogo.
Em nosso meio, embora essa tendência não esteja de todo erradicada, dirigentes e trabalhadores têm no livro Conduta Espírita, de André Luiz, um roteiro seguro que assevera ser um equívoco associar jogos de azar aos eventos espíritas, mesmo quando a finalidade seja louvável.
A tentação de realizá-lo é, porém, muito grande visto que, como se sabe, um bingo bem realizado – e apenas um – é capaz de propiciar recursos para erguer uma obra inteira, enquanto as campanhas habituais no meio espírita conseguem arrecadar muito pouco, aumentando o trabalho dos que se propõem a realizar alguma coisa.
Um dia, com toda a certeza, as pessoas vão se conscientizar dos perigos que representa o jogo de azar, como, por sinal, parece estar ocorrendo no seio da própria Igreja.
Anos atrás, o padre Ivani Leonardi, coordenador da Pastoral do Dízimo em Curitiba, liderou uma campanha no sentido de que as paróquias da Capital de nosso Estado não mais recorressem ao bingo e procurassem manter-se tão somente com os recursos do dízimo e com promoções em que não estejam presentes jogos de azar.
Em sua paróquia, por exemplo, segundo o padre Leonardi, os recursos eram auferidos com almoços comunitários, jogos infantis, cama elástica, venda de artesanato e apresentações culturais, um exemplo que deveria ser seguido pelas instituições espíritas, ainda que se tenha de trabalhar um pouco mais, um esforço que será, sem dúvida, recompensado pelos amigos espirituais, que ficariam contentes se nos lembrássemos de que viemos ao mundo para progredir e cooperar no progresso do próprio mundo.
Quando tivermos essa ideia bem presente em nossa mente, com certeza entenderemos que os fins não justificam os meios e que é preciso ter mais seriedade naquilo que propomos e fazemos em nome do Espiritismo.



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