sábado, 22 de março de 2014

O dia em que Machado chorou


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Se eu fora contemporâneo de Chico Xavier, certamente levaria mais a sério o Espiritismo.
Isso não quer dizer que, antes dele, não houvesse outros médiuns extraordinários em nosso “coração do mundo, pátria do Evangelho”, como confirma aqui do meu lado o espírito Humberto de Campos, bem mais sensato do que eu, a quem passo a palavra.
– É verdade, Machado. Mas, no corpo físico, publiquei dois artigos irônicos sobre os poemas psicografados pelo médium. E disse: “Como cantam os mortos”.
A ironia custou-me “caro”. Do lado de cá, "recomendaram-me" enviar algumas obras pela psicografia do Chico.
– Mas sua esposa, Humberto, não processou o médium, dizendo não acreditar que era você o espírito comunicante?
– É certo, mas quem melhor nos conhece do que nossa mãe? Pois mamãe reconheceu-me como tal, além de Humberto de Campos Filho, que até publicou uma obra intitulada Irmão X, meu Pai.
– Outra médium destacada, e pouco lembrada, foi Zilda Gama, cidadã da alta classe socioeconômica, que nenhum motivo tinha para enganar ninguém, e também não aceitou remuneração pelas obras recebidas mediunicamente. Psicografou cinco romances belíssimos da lavra, nada mais nada menos, do que do espírito Victor Hugo.
– O grande poeta e romancista francês, Machado?
– Ele mesmo.
Outro que também se admirou, ainda em vida física, da produção literária espírita do Chico foi Monteiro Lobato, no meu entendimento, maior escritor de literatura infantojuvenil de nosso país.
Disse ele: “Se o homem [Chico Xavier] realmente produziu por conta própria tudo o que vem no Parnaso, então ele pode estar em qualquer Academia, ocupando quantas cadeiras quiser”. Isso quando a única obra psicografada pelo médium mineiro ainda fora Parnaso de Além-Túmulo.
Depois disso, a obra psicografada pelo Chico resultou noutros 470 livros, segundo a Editora Vinha de Luz. Os gêneros mais comuns são poemas, crônicas, mensagens, romances, documentários, entrevistas, contos para adultos e crianças, cartas consoladoras e, até, humorismo sadio.
Chico Xavier foi eleito, em 2000, O mineiro do século XX, em concurso realizado pela rede Globo; e, em 2012, foi eleito O maior brasileiro de todos os tempos pelo SBT e BBC. Esse último concurso objetivava eleger a pessoa que mais se destacara em prol da sociedade brasileira.
Por ser por demais cansativo ao amigo leitor, não vou me referir ao estudo científico grafotécnico, feito pelo grafoscopista Perandréa, durante 14 anos, das 400 cartas psicografadas por Chico Xavier, que comprovou a autenticidade das assinaturas dos comunicantes desencarnados .
Também não vou me referir aos milhões de pessoas assistidas e consoladas pelas mensagens do maior médium brasileiro de todos os tempos; não somente por suas centenas de obras, como também por um serviço de assistência social relevante, em Uberaba, que se tornou a maior cidade espírita brasileira.
É inútil tentar justificar uma luz misteriosa que penetrou o quarto de hospital em que o médium estava hospitalizado, em estado terminal, cuja procedência não foi explicada por técnicos contratados pela TV Globo. Dias depois, o médium, restabelecido teve alta hospitalar. Perguntado sobre o fato, disse terem sido os espíritos Maria João de Deus, sua mãe, e Emmanuel, seu guia espiritual.
Não falarei, também, dos inúmeros críticos que, desde as primeiras produções mediúnicas psicografadas pelo Chico, diziam que nenhum ser humano seria capaz de imitar com tanta perfeição tantos escritores como ele. A questão não era só o estilo, mas também os conhecimentos, a cultura, as expressões próprias de cada uma das inteligências manifestadas e, por fim, a velocidade espantosa em que cada obra era escrita manualmente no papel.
Nada direi, por fim, do falecimento do médium, aos 92 anos de idade, de parada cardiorrespiratória, no dia 30 de junho de 2002, quando a seleção brasileira de futebol conquistava o pentacampeonato. Testemunhas idôneas garantem que Chico Xavier falara, várias vezes, que gostaria de desencarnar num dia em que o Brasil estivesse feliz...
A Polícia Militar mineira calculou em cerca de 120.000 pessoas os que acompanharam o velório e sepultamento do Chico. Algo jamais visto em nosso país.
– Mas, então, Machado, por que Chico Xavier jamais psicografou qualquer obra sua? Ele não foi capaz de nos trazer de volta Humberto de Campos, Antero de Quental, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos, Castro Alves, Auta de Sousa, Olavo Bilac e tantos outros poetas e escritores renomados? Não publicou Paulo e Estêvão, romance com o relato minucioso dos eventos ocorridos na época do Cristo? E por que não Machado de Assis?
– Meu caro crítico, se com todos esses que você citou o extraordinário médium mineiro já provocou e provoca tanto barulho, imagine o trabalho que não daria aos fanáticos de minha obra irônica e melancólica comparar o homem ao espírito. Você não sabe como é complicado transmitir uma ideia mente a mente.
Assista a uma aula de literatura ou de um idioma qualquer e já verá, ao final delas, o quanto variam os entendimentos.
Traduza um poema de Edgar Allan Poe e comente sua tradução com ele, para ver se o espírito-poeta citado concorda com sua interpretação...          
Imite um sabiá cantando e diga à sabiá que é o seu macho quem lhe enviou o canto, para ver se ela crê e vice-versa... Só mesmo do lado de cá é que vemos quanto é difícil nos fazer entender pelos do lado daí.
Enfim, leitor amigo, agora que se aproxima o dia 2 de abril, quando ele completará 104 anos de sua reencarnação, fiz minha modesta homenagem ao grande médium mineiro no poema abaixo. O último verso, pedi-lhe para completar, o que ele fez gentilmente.

Ave, Chico!

Enquanto, no Brasil, tudo era festa e encanto,
Luzia, em planos siderais, brilhante estrela:
Era Francisco, com seu jeito humilde e Cândido,
Que deixara seu corpo na terra mineira.

Recebe-o Emmanuel, e a multidão, no canto
De vasta biblioteca e de expressão matreira,
Aplaude o velho Chico ao som de lindo canto:
Era a expressão de amor da pátria derradeira.

De repente, cada um de todos os presentes
Ergue bem alto um livro onde se encontra escrito:
“O bem que fizeste aos pobres fizeste-o ao Cristo”.

– Fizeste germinar as profícuas sementes
Da eterna verdade à luz do Consolador...
– E o que mais tem Jesus para o seu servidor?

Foi então que chorei...

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