JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Se eu fora contemporâneo de
Chico Xavier, certamente levaria mais a sério o Espiritismo.
Isso não quer dizer que, antes
dele, não houvesse outros médiuns extraordinários em nosso “coração do mundo,
pátria do Evangelho”, como confirma aqui do meu lado o espírito Humberto de
Campos, bem mais sensato do que eu, a quem passo a palavra.
– É verdade, Machado. Mas, no
corpo físico, publiquei dois artigos irônicos sobre os poemas psicografados
pelo médium. E disse: “Como cantam os mortos”.
A ironia custou-me “caro”. Do
lado de cá, "recomendaram-me" enviar algumas obras pela psicografia
do Chico.
– Mas sua esposa, Humberto, não
processou o médium, dizendo não acreditar que era você o espírito comunicante?
– É certo, mas quem melhor nos
conhece do que nossa mãe? Pois mamãe reconheceu-me como tal, além de Humberto
de Campos Filho, que até publicou uma obra intitulada Irmão X, meu Pai.
– Outra médium destacada, e
pouco lembrada, foi Zilda Gama, cidadã da alta classe socioeconômica, que
nenhum motivo tinha para enganar ninguém, e também não aceitou remuneração
pelas obras recebidas mediunicamente. Psicografou cinco romances belíssimos da
lavra, nada mais nada menos, do que do espírito Victor Hugo.
– O grande poeta e romancista
francês, Machado?
– Ele mesmo.
Outro que também se admirou,
ainda em vida física, da produção literária espírita do Chico foi Monteiro
Lobato, no meu entendimento, maior escritor de literatura infantojuvenil de
nosso país.
Disse ele: “Se o homem [Chico
Xavier] realmente produziu por conta própria tudo o que vem no Parnaso, então
ele pode estar em
qualquer Academia , ocupando quantas cadeiras quiser”. Isso
quando a única obra psicografada pelo médium mineiro ainda fora Parnaso de
Além-Túmulo.
Depois disso, a obra
psicografada pelo Chico resultou noutros 470 livros, segundo a Editora Vinha de
Luz. Os gêneros mais comuns são poemas, crônicas, mensagens, romances,
documentários, entrevistas, contos para adultos e crianças, cartas consoladoras
e, até, humorismo sadio.
Chico Xavier foi eleito, em
2000, O mineiro do século XX, em concurso realizado pela rede Globo; e, em
2012, foi eleito O maior brasileiro de todos os tempos pelo SBT e BBC. Esse
último concurso objetivava eleger a pessoa que mais se destacara em prol da
sociedade brasileira.
Por ser por demais cansativo ao
amigo leitor, não vou me referir ao estudo científico grafotécnico, feito pelo
grafoscopista Perandréa, durante 14 anos, das 400 cartas psicografadas por
Chico Xavier, que comprovou a autenticidade das assinaturas dos comunicantes
desencarnados .
Também não vou me referir aos
milhões de pessoas assistidas e consoladas pelas mensagens do maior médium
brasileiro de todos os tempos; não somente por suas centenas de obras, como
também por um serviço de assistência social relevante, em Uberaba, que se
tornou a maior cidade espírita brasileira.
É inútil tentar justificar uma
luz misteriosa que penetrou o quarto de hospital em que o médium estava
hospitalizado, em estado terminal, cuja procedência não foi explicada por
técnicos contratados pela TV Globo. Dias depois, o médium, restabelecido teve
alta hospitalar. Perguntado sobre o fato, disse terem sido os espíritos Maria
João de Deus, sua mãe, e Emmanuel, seu guia espiritual.
Não falarei, também, dos
inúmeros críticos que, desde as primeiras produções mediúnicas psicografadas
pelo Chico, diziam que nenhum ser humano seria capaz de imitar com tanta
perfeição tantos escritores como ele. A questão não era só o estilo, mas também
os conhecimentos, a cultura, as expressões próprias de cada uma das
inteligências manifestadas e, por fim, a velocidade espantosa em que cada obra
era escrita manualmente no papel.
Nada direi, por fim, do
falecimento do médium, aos 92 anos de idade, de parada cardiorrespiratória, no
dia 30 de junho de 2002, quando a seleção brasileira de futebol conquistava o
pentacampeonato. Testemunhas idôneas garantem que Chico Xavier falara, várias
vezes, que gostaria de desencarnar num dia em que o Brasil estivesse feliz...
A Polícia Militar mineira
calculou em cerca de 120.000 pessoas os que acompanharam o velório e
sepultamento do Chico. Algo jamais visto em nosso país.
– Mas, então, Machado, por que
Chico Xavier jamais psicografou qualquer obra sua? Ele não foi capaz de nos
trazer de volta Humberto de Campos, Antero de Quental, Cruz e Sousa, Augusto
dos Anjos, Castro Alves, Auta de Sousa, Olavo Bilac e tantos outros poetas e
escritores renomados? Não publicou Paulo e Estêvão, romance com o relato
minucioso dos eventos ocorridos na época do Cristo? E por que não Machado de Assis?
– Meu caro crítico, se com
todos esses que você citou o extraordinário médium mineiro já provocou e
provoca tanto barulho, imagine o trabalho que não daria aos fanáticos de minha
obra irônica e melancólica comparar o homem ao espírito. Você não sabe como é
complicado transmitir uma ideia mente a mente.
Assista a uma aula de
literatura ou de um idioma qualquer e já verá, ao final delas, o quanto variam
os entendimentos.
Traduza um poema de Edgar Allan
Poe e comente sua tradução com ele, para ver se o espírito-poeta citado
concorda com sua interpretação...
Imite um sabiá cantando e diga
à sabiá que é o seu macho quem lhe enviou o canto, para ver se ela crê e
vice-versa... Só mesmo do lado de cá é que vemos quanto é difícil nos fazer
entender pelos do lado daí.
Enfim, leitor amigo, agora que
se aproxima o dia 2 de abril, quando ele completará 104 anos de sua
reencarnação, fiz minha modesta homenagem ao grande médium mineiro no poema
abaixo. O último verso, pedi-lhe para completar, o que ele fez gentilmente.
Ave, Chico!
Enquanto,
no Brasil, tudo era festa e encanto,
Luzia,
em planos siderais, brilhante estrela:
Era
Francisco, com seu jeito humilde e Cândido,
Que
deixara seu corpo na terra mineira.
Recebe-o
Emmanuel, e a multidão, no canto
De
vasta biblioteca e de expressão matreira,
Aplaude
o velho Chico ao som de lindo canto:
Era
a expressão de amor da pátria derradeira.
De
repente, cada um de todos os presentes
Ergue
bem alto um livro onde se encontra escrito:
“O
bem que fizeste aos pobres fizeste-o ao Cristo”.
–
Fizeste germinar as profícuas sementes
Da
eterna verdade à luz do Consolador...
–
E o que mais tem Jesus para o seu servidor?
Foi então que chorei...
Visite o blog Jorge, o
sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/
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