Em artigo
publicado oportunamente no jornal Zero
Hora, de Porto Alegre (RS), a professora Marilise Escobar Bürger, doutora em Ciências Biológicas
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e responsável, entre outras,
pela disciplina de Drogas de Abuso dos programas de pós-graduação em
Farmacologia e Bioquímica Toxicológica, na Universidade Federal de Santa Maria
(RS), revelou sua estranheza com relação ao alarde e à ênfase dada à questão da
homofobia, que pareceu, de repente, aos olhos dos que governam o País, o nosso
grande e exclusivo problema.
No artigo a
professora afirma, com inteira razão, que existem problemas mais graves e
urgentes que as autoridades brasileiras parecem ignorar.
Eis parte das
considerações feitas pela professora:
“As bebidas
alcoólicas são iniciadas aos 13 anos; nas baladas e festas, a cena degradante
de jovens embriagados, caídos, carregados por outros; o futuro de um país
afogado e entorpecido. Os jovens usam drogas como se fosse permitido, em nome
de uma lei que descriminaliza o usuário. Mas o que é isso? Jovens alcoolizados
estão morrendo nas estradas, e matando também. O material ‘didático’
anti-homofobia custou mais de R$ 1 milhão aos cofres públicos! Quanto se
investe em material didático sobre os danos do álcool? Quantos abordam as
drogas? Não estou falando só do crack, cocaína ou óxi (todas derivadas do pé de
coca, mas poucos sabem disso). Falo também da maconha, que desmotiva o jovem e
pode induzir sintomas psicóticos. Estou falando da Ritalina, que escapa das
mãos dos profissionais de saúde, invadindo cursos pré-vestibulares com o
pretexto da tão requisitada concentração. Ora, até hoje nenhum estudo comprovou
benefícios de aprendizagem com esse anfetamínico! Sim, a Ritalina é um
anfetamínico como o ecstasy, e pode causar dependência, mas pouca gente sabe
disso. Mas o que acontece afinal? Nossos eleitos estão preocupados com a
homofobia?”
É evidente
que nem ela nem os que dirigem esta revista desejamos diminuir a importância do
preconceito existente com relação às uniões homoafetivas. Não é possível,
porém, ignorar a gravidade das drogas e seus efeitos perniciosos sobre os
jovens, bem como sua notória influência na questão da violência associada ao
tráfico.
“Se saímos à
noite – escreveu a professora –, vemos jovens usando drogas nas calçadas, no
pátio das escolas, parece que é permitido. Assistimos a isto de camarote,
indignados pela falta de critério dos parlamentares; as drogas e o álcool batem
à nossa porta como uma assombração, e a bola da vez é a homofobia. Por que os
efeitos do álcool e drogas não estão nos livros didáticos? Por que os alunos
estudam botânica, fisiologia humana, química, física... mas não estudam as
ações das drogas no organismo? Se a situação está à beira do caos, é porque
eles simplesmente não sabem o que fazem. Se o material didático abordasse os
efeitos das drogas de forma simples e clara, quantos jovens evitariam tal
situação? Se o material educativo anti-homofobia foi elaborado com o fim de
‘educar para prevenir’, por que isto não foi pensado para evitar o abismo das
drogas?”
*
As perguntas
apresentadas no artigo em questão merecem não apenas uma resposta verbal da
parte dos atuais e dos futuros governantes, mas sobretudo ações decididas que
possam contribuir para que tantas e tantas vidas não se percam em consequência
de algo que pode, por meio da educação e da prevenção, ser perfeitamente
equacionado.
Reportando-se
ao assunto e à estapafúrdia ideia de descriminalização do uso das drogas, que
sempre volta ao debate neste País, o professor J. Raul Teixeira declarou o
seguinte: “Todos os argumentos apresentados pelos defensores da
descriminalização de qualquer droga são falsos, sofismáticos e oportunistas. A
grande cartada sociomoral seria o engajamento das pessoas de boa vontade no
sentido de incentivar os processos sérios e bem acompanhados da educação, que
precisaria ter começo nos lares, onde, infelizmente, costuma ter início o uso
das mais diversificadas drogas, considerando-se os vícios inocentes de pais,
mães e outros familiares de fumar e de ingerir bebidas alcoólicas
abundantemente junto das crianças e, às vezes, oferecendo-lhes ou
permitindo-lhes os ‘tragos’ que, de ingênuos a princípio, acabam por
desgovernar a criatura em função da instalação do vício”. (Para ver na íntegra o depoimento de J. Raul Teixeira, clique em http://www.oconsolador.com.br/ano5/227/raulteixeiraresponde.html
.)
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