Materialismo e panteísmo
Este é o módulo 55 de uma série que esperamos sirva
aos neófitos como iniciação ao estudo da doutrina espírita. Cada módulo
compõe-se de duas partes: 1) questões para debate; 2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões
apresentadas encontram-se no final do texto sugerido para leitura.
Questões para debate
1. Em que consiste o materialismo?
2. Quais foram as principais teses defendidas, ao
longo dos tempos, pelo materialismo?
3. Que escolas desde cedo se opuseram às doutrinas
materialistas?
4. Em que se resume o panteísmo?
5. Que diz o Espiritismo a respeito de
materialismo e panteísmo?
Texto para leitura
O materialismo nasceu com Tales na Grécia antiga
1. Materialismo é a doutrina filosófica segundo a
qual não existe essencialmente no Universo coisa alguma além da matéria, quer
como causa, quer como efeito. Implica um sistema de mundos em que o fundamento
único é a matéria, incriada e eterna, isto é, existente por si mesma,
necessária e suficiente, sem interferência alguma de Deus. Essa concepção é
muito antiga e vem desde os primeiros filósofos gregos.
2. Eis, a seguir, um esboço das ideias
materialistas ao longo da história humana.
3. O materialismo, como doutrina, ensino ou
escola, nasceu com Tales de Mileto, na Grécia antiga, por volta do século VI
a.C. O materialismo dos filósofos jônicos arrola algumas teses que se tornariam
características das doutrinas materialistas posteriores:
I - A filosofia deve explicar os fenômenos não por
meio de mitos religiosos, mas pela observação da própria realidade.
II - A matéria, incriada e indestrutível, é a
substância de que todas as coisas se compõem e à qual todas se reduzem.
III - A geração e a corrupção das coisas obedecem
a uma necessidade não sobrenatural, mas natural, não ao destino, mas às leis
físicas.
IV - A matéria não é estática, mas se acha em
constante movimento, em permanente metamorfose.
V - A experiência sensível é a origem do
conhecimento.
VI - A alma faz parte da natureza e obedece às
mesmas leis que regem o seu movimento.
4. Para Tales de Mileto, a substância primordial
era a água; para Anaximandro, a matéria indeterminada. Os fenômenos da natureza
consistiriam em transformações do mesmo princípio material, independentemente
de qualquer interferência divina.
5. Anaxágoras entendia que a natureza se
constituía de homeomerias, unidades que contêm os elementos de todas as coisas
em proporções infinitesimais. Demócrito sustentava que o princípio de todas as
coisas eram os átomos. Tudo o que existe seria material, e a matéria que
constitui os átomos é qualitativamente idêntica, determinando os diferentes
fenômenos da natureza em função da diversidade quantitativa dos átomos. A alma
humana, feita também de átomos, estaria sujeita à decomposição e à morte. A natureza
– dizia Demócrito – se explica por si mesma, e os acontecimentos que hoje se
produzem não têm causa primeira, pois preexistem de toda a eternidade no tempo
infinito, contendo, sem exceção, tudo o que foi, é e será.
A escola platônica se opôs desde cedo ao materialismo
6. Essas foram, em tese, as ideias materialistas
reinantes até o século XIII, havendo em contraposição as escolas
espiritualistas – sobretudo a platônica e a neoplatônica – e aquelas que
tentavam conciliar o materialismo com a teologia, como a escola aristotélica.
7. No longo período que constituiu a Idade Média,
o materialismo foi sofrendo algumas alterações, sempre, porém, rejeitando a ideia
de um Criador supremo. Para Francis Bacon (1561-1626), as ciências físicas e
naturais constituíam “a verdadeira ciência”.
8. Hobbes (1588-1679) concebeu por essa mesma
ocasião um sistema materialista perfeitamente coerente. Imaginando o mundo à
maneira de Descartes, a geometria como paradigma do pensamento lógico e a
mecânica de Galileu como ideal da ciência da natureza, ele considerou o mundo
um conjunto de corpos materiais, definidos geometricamente, por sua forma e
extensão. O homem seria um corpo, como os demais; a alma não existiria e os
organismos não passariam de engrenagens do mecanismo universal.
9. John Locke (1632-1704) negava as ideias inatas
e afirmava que todas as ideias humanas têm origem na experiência. No século
XVIII, Julien Offroy de la Mettrie (1709-1751) afirmou que o prazer e o
amor-próprio são os únicos critérios da vida moral e os fenômenos psíquicos resultam
de alterações orgânicas no cérebro e no sistema nervoso. Na mesma época, Cloude
Adrien Helvétius (1715-1771), que é considerado o precursor ideológico da
Revolução Francesa, defendeu a tese de que todas as ideias são sensações
provocadas pelos objetos materiais e a personalidade é produto do meio e da
educação.
10. Encerrando o século XVIII, Paul Henri Dietrich
(1723-1789) insistiria na negação das ideias inatas, da existência da alma e de
Deus, além de considerar o Cristianismo contrário à razão e à natureza. Para
Dietrich, o comportamento religioso não passava de despotismo político.
Não é só o materialismo que nega a existência de Deus
11. Com Karl Marx (1818-1883) e Engels (1820-1895)
surge, no século XIX, o chamado materialismo histórico e dialético. Segundo o
marxismo, as organizações políticas e jurídicas, os costumes e a religião são
estritamente determinados pelas condições econômicas, pelo estado da indústria
e do comércio, da produção e das vendas.
12. Como se vê, os materialistas só creem na
matéria. Contudo, não podem deixar de ver a ordem existente no Universo, uma
ordem inteligente que reconhecem, mas que, para eles, não necessita de uma
causa inteligente que a preceda, conceba e presida.
13. Mas não é só o materialismo que nega Deus e a
existência dos Espíritos. O panteísmo também os nega. Para os que professam
essa doutrina - entre os quais avulta a mentalidade vigorosa de Spinoza -,
Deus, embora sendo o Ser Supremo, não é um Ser distinto, pois o consideram
resultante da reunião de todas as forças, todas as inteligências do Universo.
Ora, observa Kardec, essa doutrina é tão inconsistente que, se verdadeira,
derrogaria os atributos de Deus mais importantes.
14. Com efeito, com o panteísmo, Deus seria em
ponto grande o que somos em ponto pequeno. Como a matéria se transforma sem
cessar, nenhuma estabilidade Ele teria. Achar-se-ia sujeito a todas as
vicissitudes e mesmo a todas as necessidades humanas. E lhe faltaria um dos
atributos essenciais da Divindade, que é a imutabilidade.
15. A inteligência de Deus se revela em suas obras
como a de um pintor no seu quadro, mas as obras de Deus não são o próprio Deus,
assim como o quadro não é o pintor que o concebeu. Materialismo e panteísmo se
confundem, pois, na mesma negação de Deus como um Ser distinto, que é, no
ensino dos Espíritos Superiores, a Inteligência Suprema do Universo e a Causa
primária de todas as coisas.
Respostas às questões propostas
1. Em que consiste o materialismo?
Materialismo é a doutrina filosófica segundo a
qual não existe essencialmente no Universo coisa alguma além da matéria, quer
como causa, quer como efeito. Seu fundamento único é a matéria, incriada e
eterna, isto é, existente por si mesma, necessária e suficiente, sem
interferência alguma de Deus.
2. Quais foram as principais teses defendidas, ao longo dos tempos,
pelo materialismo?
Desde Tales de Mileto, na Grécia antiga, por volta
do século VI a.C., quando nasceu, o materialismo defende teses que ainda hoje
têm defensores. Eis algumas delas:
A matéria, incriada e indestrutível, é a
substância de que todas as coisas se compõem e à qual todas se reduzem.
A geração e a corrupção das coisas obedecem a uma
necessidade não sobrenatural, mas natural.
A matéria não é estática, mas se acha em constante
movimento, em permanente metamorfose.
A alma faz parte da natureza e obedece às mesmas
leis que regem o seu movimento.
3. Que escolas desde cedo se opuseram às doutrinas materialistas?
As escolas espiritualistas – sobretudo a platônica
e a neoplatônica – e aquelas que tentavam conciliar o materialismo com a
teologia, como a escola aristotélica.
4. Em que se resume o panteísmo?
Para os que professam o panteísmo, Deus não é um
Ser distinto, mas o resultante da reunião de todas as forças, todas as
inteligências do Universo. De acordo com o panteísmo, Deus seria em ponto
grande o que somos em ponto pequeno. Como a matéria se transforma sem cessar,
nenhuma estabilidade Ele teria e se acharia, pois, sujeito a todas as
vicissitudes e mesmo a todas as necessidades humanas.
5. Que diz o Espiritismo a respeito de materialismo e panteísmo?
O Espiritismo combate tanto um como o outro,
porque ambos se confundem na mesma negação de Deus como um Ser distinto, como a
inteligência suprema do Universo e a causa primária de todas as coisas.
Bibliografia:
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, item 16.
Enciclopédia Mirador
Internacional. Verbete: Materialismo, itens 3 a 15.
Deus na Natureza, de Camille Flammarion, 4a. edição, FEB, pp. 402 a 407.
Vocabulário de Filosofia, de Régis Jolivet, tradução de Geraldo Dantas Barreto, Agir, pp. 139 a
165.
Nota:
Eis os links que remetem aos 3
últimos textos:
Módulo 52 - https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2017/11/iniciacao-ao-estudo-da-doutrina-espirita.html
Módulo 53 - https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2017/11/iniciacao-ao-estudo-da-doutrina-espirita_9.html
Módulo 54 - https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/2017/11/iniciacao-ao-estudo-da-doutrina-espirita_16.html
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