sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Iniciação aos clássicos espíritas





Memórias do Padre Germano

Amalia Domingo Soler

Parte 10

Continuamos o estudo metódico e sequencial do livro Memórias do Padre Germano, com base na 21ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira.
Esperamos que este estudo constitua para o leitor uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte compõe-se de:
1) questões preliminares;
2) texto para leitura.
As respostas correspondentes às questões apresentadas encontram-se no final do texto indicado para leitura. 

Questões preliminares

A. Quem foi Elói?
B. Padre Germano falava abertamente sobre reencarnação?
C. Que é que Padre Germano dizia sobre sentimento e religiosidade?
D. Que palavras Padre Germano disse a respeito da ociosidade e do desespero?
E. Como Padre Germano gostaria que os sentenciados fossem tratados?

Texto para leitura

122. Aqueles momentos finais de sua existência no mundo lhe recompensaram, de sobejo, toda uma vida de sofrimentos. Na Terra, as crianças o chamavam; no Espaço, chamavam-no os anjos. Rodolfo o estreitava de encontro ao coração; Maria lhe amparava a cabeça. Padre Germano desprendeu-se então do corpo denso e, mais tarde, para seu consolo, soube que, ao repelir a pecadora, fora intérprete de outros Espíritos, que dele se apoderaram, aproveitando-se não só dos seus aborrecimentos, como do seu estado de fraqueza. (P. 250)
123. “Um Dia de Primavera” é o título do cap. 24, em que Padre Germano conta como ajudou a reerguer moralmente Elói, um ser miserável e corrupto, atolado na mais completa abjeção, que matava pelo único prazer de matar. (P. 253)
124. Eles possuíram um castelo próximo da aldeia, mas tais foram seus feitos, que um dia se viram despojados de todos os bens e, além disso, colocadas suas cabeças a prêmio. Assim é que, nascidos quase nos degraus de um trono, acabaram por não ter um lugar no qual descansassem a cabeça. Todas as excomunhões pesavam sobre eles; a Igreja lhes cerrara as portas e o Papa dera as ordens mais severas para que nenhum vigário do Cristo lhes permitisse entrar no templo bendito. (P. 254)
125. Dos quatro filhos de Elói, Teodorina parecia um anjo de bondade, mas seus irmãos eram perversos a ponto de, num único dia, talarem os campos e estrangularem as ovelhas dos sitiantes da aldeia. (P. 254)
126. Padre Germano tanto lutou pela conversão moral de Elói, que acabou vencendo. Falando-lhe de Deus e dando-lhe esperanças, chamando-o a brios e mostrando que os filhos ainda poderiam ser homens dignos, o pároco conseguiu comover o ex-castelão, agora na miséria, e Elói chorou. (PP. 260 e 261)
127. Relembra Padre Germano: “Aquele homem de ferro tremeu como a árvore agitada pelo furacão. E eu, possuído de força sobrenatural, disse-lhe então: - Arrepende-te, já que tens alma e corpo gelados: à alma, Deus insuflará calor; eu abrigarei o corpo”. Pedindo aos seus paroquianos que tivessem paciência com o novo amigo, Germano lembrou-lhes ser um erro pensar, os que vivem em santa calma, que sempre viveram desse modo. “Não; vosso Espírito já animou outros corpos, vossa virtude de hoje terá sua base na dor de ontem”, asseverou o pároco. “Não sois os viajores de um dia; sois os viajores dos séculos. Eis a razão por que não podeis repelir os que hoje caem...” (PP. 261 e 262)
128. Após um esforço muito árduo, Germano acabou realizando o que pretendia no caso de Elói: os três filhos foram educados num convento e tornaram-se mais tarde úteis à pátria, constituindo numerosa família, cujos descendentes trabalhavam pela causa do progresso. Elói e a esposa tornaram-se místicos e começaram a obra de sua própria regeneração. Teodorina foi um anjo de paz e o amparo dos desgraçados. (PP. 263 e 264)
129. Concluindo a história de Elói, Padre Germano nos adverte: “Quanto bem poderia fazer o homem, se só pensasse em fazê-lo! Não há espírito humilde, inteligência obtusa, posição inferior que possam obstar de sermos úteis aos nossos semelhantes”. “Procurai, meus filhos, desfrutar essas horas felizes que soam para todos. Para ser feliz, não se precisa mais que a vontade de o ser, porque todos podemos ser virtuosos.” (P. 264)
130. No cap. 25, intitulado “Uma procissão”, Padre Germano diz que é essencial que os Espíritos, ao falarem aos homens, despertem a sentimentalidade destes. A Humanidade precisa mais sentir que investigar. Grandes sábios da antiguidade estão encarnados na Terra, mas são pessoas desalentadas, sentem o frio n'alma. Isto prova que a sabedoria, sem o sentimento, é fonte sem água e que o homem sem crença religiosa, ainda que seja um profundo matemático, não passa de um selvagem semicivilizado. (PP. 265 a 267)
131. Nesse capítulo, Germano narra um fato ocorrido em seu país quando, após sangrenta guerra, a peste semeou a desolação e o terror pelas cidades fratricidas. A aldeia onde ele vivia fora uma das poucas em que a epidemia não fez vítimas, o que foi atribuído à milagrosa Fonte da Saúde, cuja água, segundo o vulgo, era preservativo de todas as moléstias. Por causa disso, o lugar foi invadido por nobres e sacerdotes que, em vez de ficarem nas suas dioceses, para ali acorreram, por medo da peste. (P. 268)
132. Entre os bispos chegados à aldeia, veio um, de nome Favônio, que se valia da religião para dissimular bastardas ambições e que muito havia trabalhado para fazer da Fonte da Saúde um comércio lucrativo para a Igreja. Entendendo que a epidemia fora provocada pela cólera de Deus, o bispo assim o disse, do púlpito da velha igreja, o que levou Padre Germano a contraditá-lo publicamente. Deus jamais se encoleriza, pois é superior a todas as paixões humanas, esclareceu Germano, explicando que a peste sobrevém às guerras, não como castigo, mas como consequência da infecção atmosférica pela decomposição de centenas de cadáveres, cujos gases deletérios contaminam o ar. No mesmo sermão, Padre Germano censurou seus colegas por haverem abandonado suas paróquias e seus fiéis, no momento em que lhes poderiam ser mais úteis. (PP. 269 e 270)
133. Na sequência do seu discurso, Padre Germano rejeitou o sofisma religioso que atribuía valor miraculoso à água da Fonte da Saúde e reiterou que jamais consentiria na realização dos sonhos de alguns bispos. “Enquanto eu viver, não se abusará aqui da credulidade religiosa”, afirmou Germano, adiantando que aquele, dos ali presentes, que mais bebera daquela água iria morrer antes de reentrar no seu palácio. Referia-se a Favônio, o bispo que falara, do púlpito, aos fiéis daquela aldeia. (PP. 273 e 274)
134. A predição quanto à morte do bispo Favônio realizou-se integralmente, visto que ele morreu, de morte natural, em meio da viagem de regresso à sua cidade. (P. 281)
135. No cap. 26, “Os encarcerados”, Padre Germano adverte: “Se a ociosidade é mãe de todos os vícios, o desespero é o pior conselheiro do homem”. “A fome irrita, a sede enlouquece, e de um louco se pode esperar todas as loucuras.” Enquanto os ricos forem muito ricos e os pobres muito pobres, cometer-se-ão crimes na Terra. É que os primeiros, demasiado felizes, enfarados de suas fortunas, entregam-se à desordem das paixões, em busca de sensações novas, ao passo que os pobres, no seu desalento, sorrindo de amarga ironia, dizem: “Já que Deus não se lembra de nós, vivamos como se Ele não existisse; esqueçamos suas leis, já que a Providência nos não sorriu”. (P. 283)
136. O pároco diz que os presos sempre tiveram nele um defensor decidido e que seu trabalho favorito era inspirar resignação e esperança aos habitantes dos presídios, que são, incontestavelmente, os seres mais desgraçados do planeta. (P. 285)
137. As masmorras o revoltavam. “Eu queria o castigo do criminoso – lembra Padre Germano –, mas queria, igualmente, que se lhe desse instrução, que o moralizassem, que lhe fizessem conhecer o remorso.”  Foi essa ideia que o levou, certa vez, a penetrar os subterrâneos da fortaleza guardada pelos Penitentes Negros, onde ele encontrou  indivíduos presos, de pé, em nichos gradeados com fortes barras de ferro, sem poderem sentar-se, à falta de espaço, tendo ainda argolas nos pés, na cintura e no peito, que os prendiam à parede. (PP. 287 a 289)
138. Padre Germano conseguiu conversar com vários dos encarcerados, entre eles Lauro, que era inocente do crime que lhe fora imputado. Inflamado pelo fogo da inspiração divina, Germano pôs-se a caminho e conseguiu convencer o próprio Rei a dar aos acusados um julgamento justo, nos tribunais civis, sendo-lhe preciso forte poder de persuasão, visto que o soberano não desejava malquistar-se com os Penitentes Negros, sabendo que daí lhe poderia advir a morte, mais cedo ou mais tarde. (PP. 290 a 292)
139. O processo daqueles acusados custou a Germano noites e noites de insônia, perseguições sem conto, ameaças terríveis, mas ele teve, enfim, a ventura de ver Lauro em liberdade. Os demais tiveram pena proporcional à sua falta, mas seus bens ficaram na posse de suas respectivas famílias. (Continua na próxima edição.)

Respostas às questões preliminares

A. Quem foi Elói?
Elói, proprietário de um castelo próximo da aldeia, era um ser miserável e corrupto, atolado na mais completa abjeção, que matava pelo único prazer de matar. E tais foram seus feitos, que um dia se viu despojado de todos os bens, além de ver colocada a cabeça a prêmio. Todas as excomunhões pesavam sobre ele e seus filhos; a Igreja lhes cerrara as portas, e o Papa dera as ordens mais severas para que nenhum vigário do Cristo lhes permitisse entrar no templo bendito. Padre Germano não respeitou tal ordem e tanto lutou pela conversão moral de Elói, que acabou vencendo. (Memórias do Padre Germano, pp. 253 a 261.)
B. Padre Germano falava abertamente sobre reencarnação?
Sim. Germano dizia aos seus paroquianos ser um erro pensar, os que vivem em santa calma, que sempre viveram desse modo. “Não; vosso Espírito já animou outros corpos, vossa virtude de hoje terá sua base na dor de ontem”, asseverou o pároco. “Não sois os viajores de um dia; sois os viajores dos séculos. Eis a razão por que não podeis repelir os que hoje caem.” (Obra citada, pág. 261 e 262.)
C. Que é que Padre Germano dizia sobre sentimento e religiosidade?
Ele dizia ser essencial que os Espíritos, ao falarem aos homens, despertem a sentimentalidade destes. A Humanidade precisa mais sentir que investigar. Grandes sábios da antiguidade estão encarnados na Terra, mas são pessoas desalentadas, sentem o frio n'alma, o que prova que a sabedoria, sem o sentimento, é fonte sem água e que o homem sem crença religiosa, ainda que seja um profundo matemático, não passa de um selvagem semicivilizado. (Obra citada, pp. 265 a 267.)
D. Que palavras Padre Germano disse a respeito da ociosidade e do desespero?
Ele escreveu: “Se a ociosidade é mãe de todos os vícios, o desespero é o pior conselheiro do homem”. “A fome irrita, a sede enlouquece, e de um louco se pode esperar todas as loucuras.” Enquanto os ricos forem muito ricos e os pobres muito pobres, cometer-se-ão crimes na Terra. É que os primeiros, demasiado felizes, enfarados de suas fortunas, entregam-se à desordem das paixões, em busca de sensações novas, ao passo que os pobres, no seu desalento, sorrindo de amarga ironia, dizem: “Já que Deus não se lembra de nós, vivamos como se Ele não existisse; esqueçamos suas leis, já que a Providência nos não sorriu”. (Obra citada, pág. 283.)
E. Como Padre Germano gostaria que os sentenciados fossem tratados?
“Eu queria o castigo do criminoso – diz ele -, mas queria, igualmente, que se lhe desse instrução, que o moralizassem, que lhe fizessem conhecer o remorso.”  Foi essa ideia que o levou, certa vez, a penetrar os subterrâneos da fortaleza guardada pelos Penitentes Negros, onde ele encontrou indivíduos presos, de pé, em nichos gradeados com fortes barras de ferro, sem poderem sentar-se, à falta de espaço. Inflamado pelo fogo da inspiração divina, Germano foi até o Rei e conseguiu convencê-lo a dar aos acusados um julgamento justo nos tribunais civis, sendo-lhe preciso forte poder de persuasão, visto que o soberano não desejava malquistar-se com os Penitentes Negros, sabendo que daí lhe poderia advir a morte, mais cedo ou mais tarde. (Obra citada, pp. 287 a 292.)



Nota:
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