terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Contos e crônicas





Tijolinhos de Londres

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR

Já iniciando dezembro de 2017. Quase outro ano termina, quase mais um ano vivido no tempo das existências. Mais experiências pelos tantos acontecimentos, boas coisas realizadas, outras ainda com realização imatura – o espírito ainda engatinha diante do eterno horizonte –, mas a gratidão é presente sempre. Estou aqui com a maior oportunidade: viver.
Dias mais felizes, vivo; também sinto a dureza dos pesados amanheceres de não imaginar se conseguirei chegar ao dia seguinte, porém, sigo... sigo porque tenho uma história de vida, de tantas existências, de pessoas de agora que amo e tantas outras que voltarei a reencontrá-las, já que o amor é a mais forte e nobre energia que nos liga. E sinto saudade desses amores.
Penso que a aproximação do Natal nos sensibiliza. Talvez por trazer-nos à reflexão da vida. Pelos objetivos cumpridos e pelos que simplesmente esquecemos ou não tivemos força nem disciplina. Somos lentos para renovações, mas seguimos. Seguimos cada dia com uma sensação, um sentimento. E hoje, desde manhã, sinto saudade de momentos que, decerto, me marcaram. No entanto, não consigo recordá-los, apenas os sinto.
O sentimento suspirou quando pela manhã indo ao trabalho passei por um caminho diferente. E numa rua um pouco mais tranquila da que pela qual normalmente vou, vi uma casa que me surpreendeu inteiramente. Quanta saudade! ‒ falei em voz alta. Saudade profunda ao ver a parede de tijolinhos com janelas brancas bem diante de mim.
Quanta saudade! Como não vinha carro, voltei um pouco para admirar a bela casa londrina. Sim, a fachada era como a da capital da Inglaterra. Fiquei observando-a e senti uma energia, uma saudade de um tempo no qual vivi na linda cidade de Londres, no século de que não me recordo, com quem não identifico e muito menos o que realizei ou deixei de realizar. Simplesmente de lá senti saudade. Senti até o cheiro do chá e ainda nem eram cinco da tarde.
E como não aceitar as existências se em nós o que mais existe são as suas evidências. Quantos acontecimentos, quantas pessoas já por nós passaram. Quantas lágrimas, sorrisos e aqui estamos caminhando em busca de algo sem muitas vezes saber, mas com a certeza de que viver é o completo e mais sábio a realizar. Com essa reminiscência, uma coisa compreendo depois de tantas experiências: desejo aprender, aprimorar-me sem angariar desafetos ou algo que atrase o meu encontro com a liberdade, feliz sensação para o espírito.
Começo a compreender que não me é interessante quantidade de dias, mas, sim, a importância do hoje. Desperto-me para a alegria plena de quando meu coração está em paz, assim como agora, pois de uma maneira desconhecida para mim, pude acessar momentos de minha história nos quais fui muito feliz e deles sinto tanta saudade, são meus.
E agora diante dessa casa com fachada londrina, tenho a certeza de que mais vale a simples sensação de paz e alegria por ter condições de sentir e reconhecer as experiências de outras vidas do que perder tempo com fardos que me roubem a leveza.
Somos o nosso ontem, o hoje e o nosso amanhã.
Esta é uma manhã de céu azul, estou diante de uma casa londrina de tijolinhos. Sorrio com os olhos de saudade e, no rádio, Let it be começou a tocar.

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