Tudo que desejares...
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amigo Jó, vou contar-lhe uma história
simples, que exemplifica como funciona a Lei Divina de ação e reação. Você verá
que essa Lei independe de qualquer sentimento pessoal de revide a uma maldade
que nos seja feita por alguém, seja esse mal decorrente de sua ação ou omissão.
Já lhe contei aqui o caso envolvendo
dois amigos de juventude, quando ambos moravam no Rio de Janeiro e um deles era
soldado do Exército? Se não o fiz, faço-o agora. Se já o fiz, faço-o novamente.
E a culpa é de minha fraca memória.
Etiel, o militar, era um dos sete
filhos órfãos de pai, de família muito humilde e, ainda assim, solidária com
outras pessoas também carentes economicamente. Por esse motivo, e por não ter
tido oportunidade de concluir seus estudos do antigo segundo grau, atual ensino
médio, após um tempo de trabalho no comércio, nosso amigo foi recrutado...
Serviu no Exército quando os militares,
como bons guardiães da pátria, suspeitavam que todo cidadão menos bitolado ou
mais letrado que outros era tido por suspeito de traição ao Brasil. Mas também
o amor à pátria e a honestidade no trato com as coisas públicas eram
fundamentais. Tanto foi assim que um dos lemas da época era: “Brasil, ame-o ou
deixe-o”.
A organização militar em que Etiel
incorporou, já o dissemos aqui, era comandada por um dos mais rígidos generais
da época, cujo nome não vem ao caso citar. O que lembramos era a função da
polícia do Exército (PE) que, não tendo bandidos assassinos de policiais, como
atualmente, para prender, ufanava-se de fiscalizar e encarcerar recrutas
moradores de favelas, em sua maioria, por coisas mínimas, como as que gosto de
catar e citar em meus escritos.
Desse modo, muitas vezes, sem mais nem
menos, alguns dos cidadãos que não tinham muitas opções profissionais, a não
ser ingressar na carreira militar, acabavam indo fazer uma “visita” ao Batalhão
da Polícia do Exército (BPEx), como foi o caso de meu amigo, quando seu cinto
era sujado por alguns dos soldados brincalhões desse batalhão. Ali ficava
algumas horas em fila e, por vezes, em posição de sentido, até que anotassem
seu nome, identidade, unidade militar e fosse liberado...
Enquanto um chora, outro ri. É a lei do
mundo, meu caro Joteli. É a perfeição do universo. Tudo chorando seria
monótono. Tudo rindo, seria cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e
valsas, soluços e danças traz à alma do povo a variedade necessária e o
equilíbrio da vida está feito. Se a infração fosse considerada grave, como a de
agressão a um dos soldados da PE, o infrator poderia ficar detido no batalhão e
só seria liberado alguns dias depois, para se apresentar ao comandante do seu
quartel e ficar mais algum tempo preso...
Andar na rua sem a farda no corpo, nem
pensar. Diariamente, tinham de ir para seus quartéis com o fardamento engomado
e passado, além do cinto limpo com Kaol e os sapatos engraxados, barba feita e
cabelos cortados. Como era lindo o metal da fivela do cinto, brilhava tanto,
quando bem limpo, que até parecia ouro. Isso demonstra quanto eram amados...
Cinto limpo era a ilusão do ouro, cinto sujo era a demonstração da falta de
gratidão a tão paternais superiores hierárquicos, que lhes concediam a ilusão
de ser gente.
— E aonde vai a lei de ação e reação nessa história, meu caro Bruxo?
— Aqui: Etiel gostava muito de uma
jaqueta verde-oliva muito elegante, que fazia parte do seu uniforme militar,
com previsão de uso para dias frios. Como morava perto da Igreja da Penha e, no
início da ladeira que dava acesso a sua casa, havia um parque de diversões,
certo domingo, os dois amigos resolveram ir passear ali. Julgando-se livre da
vigilância dos soldados da PE, Etiel resolveu, naquela noite fria, usar a
jaqueta.
Após passearem pelo parque, os amigos
pararam em frente a um estande de tiro ao alvo com espingarda de rolha e
pressão de ar. De repente, dois soldados da PE, cada um deles com quase dois
metros de altura, abordaram Etiel. Então, um deles perguntou ao meu franzino
amigo, vinte centímetros mais baixo: “Quem lhe autorizou usar essa jaqueta?”
Ao ouvir isso, o amigo de Etiel saiu de
fininho e desapareceu no meio dos frequentadores do parque, deixando-o à mercê
dos seus algozes que, se fossem assaltantes, teriam feito o que quisessem com
meu amigo.
Mas foi só um susto...
Após ser advertido, Etiel foi deixado à
vontade pelos “policiais”, que lhe “recomendaram” tirar a jaqueta e não mais a
usar sem a farda.
Vinte anos depois, Etiel foi visitado,
em Brasília, por aquele quase irmão, acolhido em seu lar durante longos anos...
Agora comerciante bem-sucedido, o amigo de Etiel foi com este ao Setor Comercial
Sul (SCS), onde pretendia sacar dinheiro para umas compras que faria no
Paraguai. Chegando ao SCS, foi o amigo que pediu a Etiel para aguardá-lo em
frente a uma loja mais afastada, enquanto ele iria ao banco...
Cerca de meia hora depois, pálido como
cera, o amigo chegou e disse-lhe que, ao sair do banco, fora abordado por dois
assaltantes. Estes encostaram-no num
muro e, enfiando as mãos em seus bolsos da calça, roubaram-lhe o dinheiro que
ali estava.
Penalizado, Etiel ouviu o amigo
explicar-lhe que, por sorte, a outra metade do dinheiro sacado ficara no bolso
traseiro da calça, e os ladrões não o viram. Somente então meu amigo lembrou-se
do ocorrido vinte anos atrás, no parque da Penha, no Rio de Janeiro.
Assim, fica a lição: “Tudo que
desejares que outrem te faça, faze-lhe também”.
Quem disse isso foi um carpinteiro que
passou a vida fazendo o bem e, como retribuição do povo, que curara de suas
enfermidades físicas e morais, foi crucificado, mas voltou do Além, dias depois, para lhe dizer: “Os meus
discípulos serão conhecidos por muito se amarem”.
Au revoir!
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