De que modo progredir
espiritualmente?
Qual seria o procedimento diário mais prático e objetivo para
alcançarmos gradativo progresso espiritual em nossa vida?
A questão acima foi ventilada em uma conversa que tivemos oportunamente
no grupo de estudos de nossa Casa Espírita. Aos colegas, dissemos que, segundo
pensamos, para alcançarmos o progresso espiritual é necessário que nos
aprimoremos moralmente; portanto, o tema foi proposto – valendo-se de outras
palavras – por Allan Kardec, o que deu origem ao ensinamento contido na questão
919 d´O Livro dos Espíritos.
Vejamos:
919. Qual o meio prático
mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração
do mal?
“Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”
Como a resposta obtida não satisfez a Kardec, ele contra-argumentou, obtendo
então as explicações adiante transcritas:
919-a. Conhecemos toda a
sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um
conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?
“Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava
a minha consciência, passava em revista o que fizera e perguntava a mim mesmo
se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar.
“Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de
reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara
durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito,
rogando a Deus e ao seu anjo de guarda que o esclarecessem, grande força
adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi,
pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que
objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes alguma
coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que
não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: ‘Se aprouvesse a Deus chamar-me
neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo
dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?’ Examinai o que pudestes ter obrado
contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As
respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de
um mal que precise ser curado.
“O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso
individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a
ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O
avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em
si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que
não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas
ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a
censurais noutrem, não a podereis ter por legítima quando fordes o seu autor,
pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça.
“Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não
desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm
em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um
espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um
amigo.
“Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta
possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus
pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia
moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu
vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder
dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o
despertar na outra vida.
“Formulai, pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e
não temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar
uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar
haveres que vos garantam repouso na velhice? Não constitui esse repouso o
objeto de todos os vossos desejos, o fim que vos faz suportar fadigas e
privações temporárias? Pois bem! que é esse descanso de alguns dias, turbado
sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o que espera o homem de
bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços?
“Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro.
Ora, esta exatamente é a ideia que estamos encarregados de eliminar do vosso
íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não
restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa
atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos
damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este
objetivo é que ditamos O Livro dos
Espíritos.” (Santo Agostinho, autor espiritual)
A orientação dada na questão acima remete-nos a outra questão constante
da mesma obra, na qual a espiritualidade afirma que nos é possível, sim, vencer
nossas más inclinações e, com frequência, fazendo esforços muito
insignificantes. O que nos falta, muitas vezes, é vontade, é o desejo de mudar,
de progredir, de aproveitar as oportunidades que Deus nos oferece em cada
passagem nossa pela experiência reencarnatória.
Entendemos, desse modo, que nas questões a que nos reportamos está a
resposta à pergunta inicial.
Cientes da receita, cabe-nos, pois, tão somente segui-la, se é que
desejamos realmente modificar-nos e modificar nossa vida para melhor.
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