As falácias do Diabo
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
— Boa noite, Machado. Lembrei-me de sua
crônica intitulada O Sermão do Diabo
(4 set. 1892), publicada em Páginas
Recolhidas (Ed. Garnier). Conforme você lembrou-nos ali, “Já Santo
Agostinho dizia que a igreja do Diabo imita a igreja de Deus”. Todos os itens daquela sua crônica aplicam-se
à época atual, mas dois, sobretudo, chamaram-me a atenção.
— Quais são eles, Jó?
— Os itens 20 e 21.
— Que dizem eles?
— “20 Não queirais guardar para vós
tesouros na Terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e donde os ladrões os
tiram e levam.
21 Não vos fieis uns nos outros. Em
verdade vos digo que cada um de vós é capaz de comer o seu vizinho, e boa cara
não quer dizer bom negócio.”
— Também este item é bem sugestivo, Jó:
“24 Não queirais julgar para que não
sejais julgados; não examineis os papéis do próximo para que ele não examine os
vossos, e não resulte irem os dois para a cadeia, quando é melhor não ir nenhum.”
— E que tal este outro, nobre Machado?
Diga-me se ele não se parece com o de um mau governo, sucessor de outro, também
terrível, o qual foi julgado e condenado por improbidade administrativa:
“27 Não deis conta das contas passadas,
porque passadas são as contas contadas, e perpétuas, as contas que não se
contam.”
— Exatamente, Jó. Mefistofélico. A
diferença são as finanças, até agora camufladas, que arrebentarão nas mãos do
próximo governante. É por isso que concluí aquela crônica informando sobre a
aparição do defunto barão Louis, ao qual disse conhecer muito sua famosa
máxima: “Dai-me boa política, e dar-vos-ei boas finanças”.
— E que foi mesmo que ele respondeu,
Machado?
— Disse-me que essa máxima estava
tirando-lhe o sono na eternidade. Então propôs-me substituí-la por esta, que
lhe pareceu mais correta: “Dai-me boas finanças, e dar-vos-ei boa política”.
— Muito apropriada à nossa velha política, nobre Machado. Soube de
casos de políticos atuais que, mesmo presos, ainda cobram propinas...
— Aí está o x da questão, Jó. Não
adianta prender o corpo, é preciso tirar-lhe cada centavo surrupiado das
finanças públicas. Mais do que isso, é necessário responsabilizar o gestor da
cousa pública ou privada por níquel
gasto em obras inacabadas ou superfaturadas que deem prejuízo à nação. Para
evitar-se isso, recomendo três medidas fundamentais ao povo, aos meios de
comunicação e à polícia.
— Quais são elas, Bruxo?
— Primeiro, fiscalizar; segundo,
fiscalizar; terceiro, fiscalizar.
— Isso mesmo, Machado. Agora que se aproximam
as eleições, sugiro ao leitor fiscalizar a vida pregressa de cada candidato e
se o que ele diz é compatível com seu caráter. Pois de promessas e falácias o
mundo anda cheio. Precisamos mesmo é de competência, trabalho e honestidade.
— É verdade, amigo Jó. De falácia o
Diabo entende.
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