Tempo e consciência
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Bom dia, amigos!
Quando eu tinha quatorze anos,
trabalhei numa loja de materiais elétricos, no Rio de Janeiro. Como costuma
ocorrer com crianças e jovens, nessa época, eu observava atentamente as
atitudes dos mais velhos. O gerente da loja, guapo descendente de italiano,
atendia a todos com extrema gentileza. Principalmente às jovens e bonitas
clientes. Quase sempre, ele elogiava a beleza da moça e solicitava dela o
número de telefone, após vender-lhe lâmpadas, fios de eletricidade etc.
Algumas vezes, era atendido com um
amável e promissor sorriso; noutras ocasiões, a jovem esquivava-se da “cantada”
do belo jovem. Na época, ele devia ter uns trinta e poucos anos. Era, porém,
discreto e sabia preservar o seu conceito e o da loja que gerenciava.
Cinquenta e dois anos após, acompanhado
da esposa, parei o carro em semáforo aqui de Brasília e presenciei algo que
jamais pensara ser possível ocorrer. Vi jovem bonita abrir a janela de seu
carro e pedir, em voz alta, a outro jovem que parara pouco adiante: — Oi,
bonitão, passe-me seu telefone. Quero ficar com você, gostosão.
O bonitão,
de seu carro, negava-se a atendê-la, mas ela insistia: — Oi, gostoso, que tal ir para a cama comigo?
O jovem, entretanto, não quis saber de conversa com ela. O sinal abriu, ela foi
por um lado da rua, e ele dirigiu em sentido contrário ao dela.
A leitora e o leitor hão de rir do que
acabei de narrar. No mundo atual, muitas vezes, os papéis se invertem.
Antigamente, a iniciativa da conquista era do jovem apaixonado, e a donzela
pretendida, mesmo sentindo atração por ele, não facilitava a conquista.
Atualmente, a banalização sexual chegou a tal ponto que não há respeito nem
mesmo às pessoas do mesmo sexo. Isso deve-se tanto aos avanços tecnológicos e
científicos, quanto às influências das teorias materialistas humanas na Terra.
Para que o avanço da ciência alcance
seu objetivo de tornar nossa vida melhor, entretanto, o caminho sempre foi o da
mensagem do Evangelho em espírito e vida.
Este está redivivo nas palavras dos Espíritos superiores, que foram
encarregados pelo Cristo de nos conscientizar do propósito de cada existência
na Terra e das consequências de nossos atos.
Nada há, em nossa vida, que não traga
resultados. Costumo dizer que o tempo
é nosso advogado, e a consciência,
nosso juiz. Se nossos atos bons prevalecem, o advogado é de defesa; caso
contrário, será o promotor que atuará contra nós. O juiz equânime, que tudo
sente, tudo vê e tudo julga com implacável justiça, chama-se consciência, tribunal divino.
Somente quando nos assegurarmos de que
a vida real é a do espírito, estaremos preparados para espiritualizar a matéria
e não para materializar o espírito. Então perceberemos a importância da ética
em nossos atos.
Explica Allan Kardec, no capítulo 23,
item 8 d’O Evangelho segundo o
Espiritismo:
A vida espiritual é, realmente, a
verdadeira vida, é a vida normal do Espírito; sua existência terrestre é
transitória e passageira, espécie de morte, se comparada ao esplendor e
atividade da vida espiritual. O corpo não passa de vestimenta grosseira que
reveste temporariamente o Espírito, verdadeira algema que o prende à gleba
terrena, do qual ele se sente feliz em se libertar.
Tal afirmativa não abona o desinteresse
completo pelas nossas necessidades orgânicas e tampouco justifica o suicídio,
que provoca sofrimentos inenarráveis ao desertor da existência terrena, no
mundo espiritual. Além de afastá-lo do ingresso nesse mundo feliz da
espiritualidade por tempo indeterminado. Seu objetivo é conscientizar-nos sobre
a importância de atribuirmos valor relativo à matéria, em especial ao nosso
corpo, que devemos respeitar e não submeter ao jugo das paixões animais.
Somente assim alcançaremos a verdadeira
felicidade, a baseada na sanção positiva de nossa consciência, após ouvir o advogado
tempo.
Agimos no bem? O tempo é nosso defensor.
Nossos atos visaram ao mal? Entra em cena o tempo
promotor. O veredito consciencial é
sempre justo, e nunca dorme.
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