As crianças não
batizadas e sua destinação
Faz onze anos e meio que foi publicado
o documento "A esperança de salvação para bebês que morrem sem serem
batizados", no qual a Comissão Teológica Internacional da Igreja Católica
considerou inadequado o conceito de limbo.
Originária do latim, a palavra limbo –
limbu, 'orla' – tem vários significados, mas, no âmbito da religião, é o nome
que se dá ao lugar onde, segundo a teologia católica posterior ao século XIII,
se encontrariam as almas das crianças muito novas que, embora não tivessem
alguma culpa pessoal, morreram sem o batismo que poderia tê-las livrado do
pecado original.
O texto publicado em abril de 2007
pela Igreja “diz que a graça tem preferência sobre o pecado, e a exclusão de
bebês inocentes do céu não parecia refletir o amor especial que Cristo tinha
pelas crianças". O documento, de 41 páginas, considera que o conceito de
limbo refletia uma "visão excessivamente restritiva da salvação".
Segundo seus autores, "Deus é piedoso e quer que todos os seres humanos
sejam salvos". E aduziram: "Nossa conclusão é que os vários fatores
que analisamos fornecem uma base teológica e litúrgica séria para esperar que
os bebês não batizados que morrerem sejam salvos".
Em face deste novo entendimento da
Igreja, os bebês que morrem sem batismo são considerados inocentes e sua
destinação, portanto, passa a ser o céu, verificando-se o mesmo com os chamados
infiéis, ou não batizados, desde que estes tenham levado uma vida justa.
O pensamento acima traz algumas
implicações que pouca atenção mereceram dos estudiosos em matéria de religião.
Uma delas diz respeito diretamente ao
batismo, conhecido sacramento da Igreja Católica, considerado indispensável
para apagar os efeitos do pecado original e as faltas cometidas pela pessoa
antes de sua admissão, o qual passa a não ser mais condição necessária para a
salvação, fato que representa uma evolução do pensamento católico e faz justiça
à bondade e à misericórdia de Deus.
Antes disso, sob o pontificado de João
Paulo II, o inferno deixara de ser considerado um lugar determinado, para
tornar-se, segundo palavras do próprio papa, um estado de espírito. Os anos se
sucederam e, com o documento ora em exame, a ideia de limbo deixou também de
existir.
A Igreja, porém, insiste ainda em um
equívoco lamentável ao ensinar a seus fiéis que a alma é criada por ocasião da
concepção, o que explicaria sua condição de inocência no período da infância,
quando sabemos, com base em fatos inúmeros, que a alma de uma criança pode
chegar a uma nova existência corpórea trazendo um longo passivo de erros e
enganos.
Segundo os ensinamentos espíritas,
criado simples e ignorante, o Espírito tem de passar pela experiência da
encarnação para progredir. A perfeição é sua meta, mas o caminho até ela é
árduo e longo, o que significa que terá de passar por uma série de existências
até que esteja depurado o suficiente para desligar-se dos liames materiais.
A Igreja, ao não reconhecer o limbo,
avança para uma visão mais justa da vida humana e rompe com o sectarismo que
caracteriza a necessidade do batismo para a destinação feliz do homem. Esta
nova visão está, além disso, de conformidade com a lógica, porquanto, como
sabemos, apenas um terço dos que habitam nosso planeta professa as ideias
cristãs, enquanto dois terços as ignoram e, evidentemente, não se submetem ao
batismo cristão.
Não sendo batizadas, para onde irão
essas pessoas?
Até abril de 2007, segundo a Igreja,
não poderiam ir para o céu. Mas, agora, com as novas ideias contidas no
documento em exame, sim. Basta que tenham levado uma vida justa.
Lembremo-nos, porém, sempre que
falarmos em céu e em inferno, das palavras proferidas pelo saudoso papa João
Paulo II.
"Nem o inferno é uma fornalha nem
o céu um lugar”, afirmou o papa. “O céu não é o paraíso nas nuvens nem o
inferno é aterradora fornalha. O primeiro é uma situação em que existe comunhão
com Deus e o segundo é uma situação de rejeição.” (Correio da Manhã, de 29/7/1999.)
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