Há
a transformação natural
CÍNTHIA
CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
Numa dessas tardes mais tranquilas de sábado,
visitava uma parente; momentos distintos do cotidiano corrido. E eu conversava
com essa tia-avó, alcançando os seus 94 anos de “luta”, pensei eu, na verdade,
ela me disse que esse tempo era de vida.
As histórias antigas são protagonistas nesses
encontros, aliás, das quais muito gosto e ouço, atenta, quantas vezes
renascerem no assunto. As memórias são bens irrevogáveis do espírito. Que bom!
As boas, para encher o coração e as imaturas, como reflexão para o caminho
novo.
Deitada em sua cama e segurando a minha mão, a
senhora, quase secular, me falou algo bastante interessante:
− Quanto mais velhos, mais nos parecemos com um
cristal, com uma casquinha de ovo.
Foi a comparação feita diante da delicadeza em que
o corpo físico se transforma. E me falou com propriedade, visto que estava ali
deitada porque se recuperava de uma inofensiva queda na qual quebrara o
quadril.
Mesmo assim era com suavidade que aquela tia-avó se
expressava.
E hei de concordar quanto à comparação por ela
refletida; parecida com um cristal, pois seu semblante se apresentava com
valorosa, transparente e leve alva e quanto à casca de ovo, aí, sim, fazia
referência ao enfraquecimento natural do corpo.
Aqueles olhos azuis denotavam a profundidade de sua
essência, o longo caminho desbravado, a sede de ainda mais querer a vida.
Aquela voz agradável era o reflexo do seu interior calmo, esperançoso, feliz.
Ainda deixava à vista que envelhecer nada mais é que a confirmação de mais uma
oportunidade, nos canteiros, de plantar flores e fazer algo melhor ao lado de
companheiros que, não necessariamente, sejam a família.
Visitas a parentes que não se têm muito contato são
mais longas; o acúmulo de notícias é maior. Mas mesmo assim, há o momento da
despedida. Abraços calorosos, pois, normalmente, esses parentes só nos viram na
infância e agora estamos, assim, adultos.
Quando me despedi da senhora de 94 primaveras,
senti o pulso do vigor real, aquela energia que o espírito traz, a alegria
cheia de cores significando que na velhice, o desgaste volta-se ao corpo, mas a
alma deve sempre estar com o frescor da vida.
Como consultar as
matérias deste blog? Se você não conhece a estrutura deste blog, clique neste
link: https://goo.gl/ZCUsF8, e verá como utilizá-lo
e os vários recursos que ele nos propicia.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário